Legionário, Nº 712, 31 de março de 1946

7 Dias em Revista

Folgamos em registrar as declarações do Sr. Carlos Luz, Ministro da Justiça acerca da lei eleitoral.

Declarou S. Excia. à imprensa que, como está, a lei eleitoral não pode prevalecer. E que, portanto, se torna necessário proceder à sua reforma.

Quando o "LEGIONÁRIO" lançou sua campanha contra a lei eleitoral, encontrou o inexplicável ceticismo de amigos que entendiam que a lei estava tão firme que ninguém mais a revogaria.

Hoje se vê que esta "firmeza" era inteiramente ilusória, e que portanto o assunto que ventilamos continua em toda a sua atualidade.

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Aguardamos, pois, com vivo interesse a publicação dos decretos de reforma. Aliás, parece-nos que o titular da pasta da Justiça andaria muito bem publicando um anteprojeto para receber a crítica dos interessados. E batalharemos até o fim, por que a consciência católica não fique escravizada às deliberações tomadas na misteriosa alquimia dos conventículos partidários.

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Reiteradamente tem o LEGIONÁRIO sustentado a tese de que as perseguições à Igreja já não se fazem hoje em dia com a brutalidade do século passado. Nossos adversários nos estrangulam com luva, anestésico e corda de seda. E para requintar usam nesta cerimônia opas, balandraus ou distintivos de associação religiosa.

Prova máxima disto é o nazismo. Depois dele o comunismo. O Santo Padre Pio XII, no recente protesto contra as perseguições soviéticas na Europa Central, mostrou bem como de início as tropas russas, se bem que oficialmente atéias, tanto lisonjeavam os católicos que os soldados da URSS auxiliavam as pessoas do povo a recolocar os Crucifixos que eram pregados na parede pelo próprio punho dos vermelhos.

Depois... é o que se vê.

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Outro caso análogo nos é noticiado agora a respeito do Japão.

Um recente telegrama, retransmitindo irradiação do Vaticano, noticia que os japoneses, na Coréia, primeiramente auxiliaram bem os missionários católicos. Mas quando viram a guerra perdida, precipitaram-se sobre as missões, e as danificaram de todo o modo.

A explicação do caso é fácil. Enquanto esperavam poder contar com o apoio da Igreja, para alcançar a vitória, represaram seu ódio pagão contra o Catolicismo. A partir do momento em que tudo se lhes manifestou perdido, atiraram-se contra a Igreja, pois que não tinham mais motivos para conter seu ódio. E se desmascaram inteiramente.

Se algum dia seu poderio tivesse subido tanto, que pudessem dispensar a Igreja, não teriam agido do mesmo modo? Não se teriam atirado também contra ela?

Evidentemente, não falamos aqui dos japoneses católicos, mas só dos pagãos. Mas quanto a estes, a pergunta é perfeitamente cabível.

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Na refutação que fez do discurso de Churchill, o "camarada" Stalin declarou que a Inglaterra não era uma verdadeira democracia, pois só o partido da maioria constituía o governo do país.

Na URSS, como todos sabem, o partido comunista não é apenas o partido do governo. É o único partido existente. Vejamos, agora de quantos membros se compõe.

Segundo estatísticas ele conta, atualmente, mais de cinco milhões. Mas a população é de 170 milhões. O que eqüivale a dizer que apenas uma pequeníssima minoria pertence ao partido dominante.

E o mais curioso é que isto é assim sobretudo porque o próprio partido recusa a ter mais membros. Uma oligarquia perfeita, fechada em si mesma, que blasona de democracia.

Eis o que confessa a linguagem iniludível dos números.

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E agora, por fim, o caso persa [confirma], ponto por ponto, o que prevíramos. A URSS querendo impor o "acordo" - acordo entre o lobo e o cordeiro - à Pérsia, e esta a pedir o apoio do Ocidente desolado. E ainda se pode esperar algo da URSS…