Legionário, no 700, 6 de janeiro de 1946

7 Dias Em Revista

Registramos com satisfação o gesto do governo do Sr. Linhares, pondo à disposição de nossos "três" Cardeais um navio nacional para os conduzir a Roma.

Esta atitude sobremaneira atenciosa, só pode honrar as tradições diplomáticas do Brasil, aos olhos de todos os povos.

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Será supérfluo acrescentar que vemos com satisfação a elegância com que o nosso governo pôs à disposição dos demais purpurados latino-americanos, as necessárias acomodações no mesmo navio. Este gesto constitui uma especial deferência à Santa Sé e às nações irmãs da América Espanhola. Recebemos a Fé, a cultura e a formação mental de povos irmãos. Bem é que juntos compareçamos aos pés do Vigário de Cristo.

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O dever do jornalista católico está na imparcialidade. Com a mesma isenção com que elogiamos este gesto do governo desejamos mencionar aqui mais outro que, no momento em que foi publicado, nos escapou. Foi uma regulamentação das Faculdades de Filosofia oficiais e equiparadas, que dá aos Religiosos muitas facilidades para o exercício do magistério.

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E com a mesma imparcialidade lamentamos uma decisão de uma das repartições do Ministério da Agricultura. Tendo os RR. e beneméritos Irmãos Maristas do Ceará solicitado registro para captação e exploração de uma fonte hidro-termal foi indeferido seu requerimento sob o especioso pretexto de que os Irmãos Maristas constituem uma entidade que obedece a superiores localizados fora do país.

É curioso. Esses dignos Religiosos podem educar - e educaram com geral aplauso até aqui - nossos meninos, concorrendo como poucos para a formação do Brasil futuro. Para isto, seu nexo com o Geral em Roma não é perigoso nem prejudicial. E tanto não é que qualquer pessoa sensata se riria de bom rir, caso se pretendesse negar o valor de sua obra educativa, sob este pretexto.

Eles servem, pois, e muito para a educação da infância. Mas não inspiram confiança para captação de água mineral.

Se o Legionário tivesse uma seção humorística, por certo faria disto o seu "prato de resistência" para hoje.

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Lamentamos que estejam caminhando as providências para estabelecimento de relações normais entre o Brasil e a URSS. Assim, já foi nomeado o Sr. Pimentel Brandão para Moscou, e o "camarada" Jakov Auzitz já recebeu o "placet" de nosso governo para representar aqui os sovietes.

A razão essencial de nosso pesar facilmente se percebe: a embaixada soviética será por força um foco de propaganda comunista.

Vamos ver se nosso governo impede, pelo menos, o estabelecimento de consulados vermelhos em todo o país.

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Os jornais publicaram esta semana uma proclamação em que o imperador Hiroito abjura expressamente o shintoismo e nega que sejam os monarcas japoneses, de origem divina.

No mesmo dia, por uma curiosa coincidência, os jornais publicaram o testamento de Hitler, um dos documentos mais densa e sombriamente pagãos, que tenhamos lido.

E nesse documento Hitler tem frases positivamente tendentes a se insinuar como um Deus, pela analogia com a adorável Pessoa Humana e Divina de Nosso Senhor Jesus Cristo.

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Como sabemos pela doutrina católica o Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Sangue que Ele verteu, não caiu sobre a terra em vão: pelo contrário redimiu o mundo. Aos méritos de Nosso Senhor se acrescem os de todo o Corpo Místico ligado e como que identificado com Ele, isto é os católicos que lutam e sofrem em união com Jesus Cristo.

E é por todos estes méritos, que a Igreja vence.

Leia-se agora no testamento de Hitler: "O sacrifício de nossos soldados e minha própria identificação com eles, até na morte, foram a semente lançada que crescerá um dia... para o restabelecimento do nacional-socialismo."

A frase lembra invencivelmente a sentença famosa: que o Sangue de Cristo, e o sangue dos mártires "é semente de cristãos".

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Nosso Senhor, antes de nos deixar prometeu que enviaria o seu Espírito, o Consolador, que ficaria conosco até à consumação dos séculos.

Ouça-se Hitler: "Todos eles (os nazistas) ficarão unidos a mim por seu trabalho e por sua lealdade, mesmo após a morte e espero que meu espírito permaneça sempre com eles e sempre junto deles."

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Foi do que nos livrou Deus, no ano da graça de 1945.