Legionário, Nº 697, 16 de dezembro de 1945
7 Dias em Revista
O mundo inteiro está com os olhos voltados para a conferência dos "big three" em Moscou. As provocações comunistas na Pérsia, na China, nos Balcãs são insuportáveis. Não é absurdo ver-se o dedo comunista nas terríveis greves que sacodem todo o sistema industrial americano. Nem é loucura atribuir parte da resistência javanesa a conselhos, dinheiro, cavilações de Moscou. Em outros termos, o mundo não está em paz, e por toda parte em que aparecem conflitos ou problemas, ouve-se a voz ou pelo menos, sente-se o hálito empestado de Moscou.
Quando, às portas da conflagração mundial, Chamberlain procurava contemporizar com Hitler, julgamos que era uma loucura, e pior do que isto, uma traição à civilização ocidental e cristã. Sempre sustentamos a inteira afinidade entre nazismo e comunismo. Hoje em dia, nossa palavra é a mesma de ontem. É uma loucura contemporizar. É preciso ameaçar, ameaçar com vigor, orquestrar essa ameaça com um enérgico troar de artilharia na China e na Pérsia. É preciso colocar na balança das negociações o peso sem medidas da bomba atômica, e falar em tom tão firme que os sovietes não tenham a menor dúvida de que a primeira bomba será diretamente contra Moscou. Este é o caminho da paz.
Conceder, recuar, entregar posições é, pelo contrário, caminhar para a guerra. A verdadeira causa da última guerra foi, a nosso ver, o tratado oprobrioso de Munique. Se naquela ocasião não se tivesse concedido, a guerra teria sido adiada, ou quando nada, teria sido menos sangrenta e menos longa, porque sustentada contra adversário menos forte.
O que se pode dizer de um Munique pardo, se deve dizer de um Munique vermelho. Somos pacifistas, e precisamente por isto, partidários de uma política "atomicamente" enérgica em Moscou.
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Como se sabe a Igreja declara lícito ao católico optar por qualquer dos regimes monárquico, aristocrático ou democrático. É, entretanto, vedado a qualquer católico ser totalitário, quer da direita, quer da esquerda. Neste sentido, os documentos do magistério eclesiástico são claríssimos. E os fatos políticos mais recentes também. Em nosso século vemos a Igreja conviver pacificamente com regimes monárquicos como os da Bélgica ou Holanda, com os regimes democráticos como os da Suíça ou da Polônia, como conviveu durante séculos com a sereníssima e aristocratíssima República de Veneza. Mas o totalitarismo na URSS como no III Reich, a atacou impiedosamente.
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Assim, pois, compreende-se facilmente que a diplomacia pontifícia agiria contra os seus próprios princípios se tivesse a idéia de salvar os totalitários da direita. E se o tentasse, seria logicamente combatida e mal vista pelas chancelarias de Londres e New York; chancelarias protestantes que vêem a atuação do Vaticano de um ponto de vista meramente temporal e político, e que de nenhum modo tolerariam uma atuação vaticana hostil a seus interesses, sem imediatamente protestar.
Por tudo isto, não merecem análise os repetidos telegramas de Moscou no sentido de que o Vaticano está procurando salvar os restos do totalitarismo no mundo inteiro. Um desses telegramas ainda chegou na semana passada. Nem sequer tomamos o trabalho de lhe dar resposta. Evidentemente, tais telegramas visam incompatibilizar o Vaticano com todos os inimigos do fascismo. Mas é só este o efeito que produzem? Nesta época de confusão não haverá muito leitor que imaginará que de fato o totalitarismo de direita é conveniente à Igreja? E que verá nas acusações de Moscou uma confirmação de seu ponto de vista?
E não percebe Moscou que trabalha indiretamente em favor deste totalitarismo?
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Dentro dessa ordem de idéias, destaquemos ainda a ação de outro telegrama que informava dias atrás que "se voltam para Deus os grandes criminosos nazistas", acrescentando que os capelães católico e protestante desses prisioneiros, estão edificados com os procedimentos deles.
Desejamos ardentemente que os católicos transviados se convertam, e que os protestantes deixem os erros nazistas em que incidiram juntamente com os católicos e que se reconciliem com Deus. Nosso amor aos protestantes não se cifra nisto. Nem poderia cifrar-se. Desejamo-lhes bem maior: que edificados pelos prisioneiros católicos deixem o protestantismo, que é um erro péssimo, e se convertam ao Catolicismo.
Mas conversão é conversão. Todos podem e devem converter-se, e a todos devemos desejar a conversão. Se Judas ou Herodes estivessem vivos, deveríamos desejar ardentissimamente sua conversão.
Mas conversão é conversão. Não se pense que esse fim cristão possa ser tido como indício de que esses homens não professassem idéias tão anticristãs e que no fundo o nazismo não é assim tão mau.