Legionário, N.º 696, 9 de dezembro de 1945

7 Dias em Revista

O que mais nos interessa na atual apuração é saber o número dos representantes católicos e comunistas no futuro parlamento. É cedo para se ter uma idéia exata do caso. Tanto mais que nem tudo que luz é ouro, e nem tudo que se diz católico o é na realidade. Por outro lado, nem tudo que é ouro luz. E nem tudo que é comunista se manifesta claramente.

Aguardemos, pois, resultados mais positivos.

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E, "en attendent", comentemos um pequeno tópico de um artigo publicado na seção ineditorial do "Diário de São Paulo" de 28 pp. na página reservada para a propaganda comunista. Diz este tópico:

"Os comunistas orientam sua ação pelo materialismo marxista, doutrina científica de análise de fatos sociais e políticos. Analisando a situação do mundo e do Brasil, no momento atual, os comunistas chegaram à conclusão de que nos encontramos numa época de desenvolvimento pacífico. Etc."

A confissão é preciosa. "Os comunistas orientam sua ação pelo materialismo marxista". Dizem-no os próprios comunistas.

Ora, os comunistas dizem hoje em dia que não são anticatólicos, de onde se deduz que não são materialistas. E agora perguntamos: como se explica então que os comunistas ainda se reconhecem orientados pelo materialismo?

Pode alguém ser ao mesmo tempo católico e materialista?

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Lamentamos vivamente a proclamação da república na Iugoslávia. Com efeito, a mudança da forma de governo naquele país significa tão somente uma conquista de terreno em favor da URSS, que assim se vai estendendo pelos Bálcãs.

De um lado, é óbvio que a monarquia é uma ordem de coisas incompatível com a mentalidade soviética, enquanto uma república é algo muito mais elástico, e tanto pode ser perfeitamente burguesa como nos EE.UU. quanto perfeitamente bolchevista como na URSS.

Mas de outro lado é preciso reconhecer ainda que a casa reinante da Iugoslávia, e especialmente o Rei Pedro, têm ligações muito íntimas com a Inglaterra, decorrentes não só da consangüinidade das dinastias, talvez não muito próxima como ainda da formação inglesa do jovem monarca que passou a guerra estudando na Inglaterra.

A proclamação da república representa, pois, recuo da influência britânica no Adriático. Isto no momento preciso em que a propaganda comunista persiste em sufocar toda a Itália.

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Só isto? O que haveremos de dizer do monstruoso cinismo - hoje em dia os soviéticos nos obrigam a usar estas expressões panfletárias porque fazem o que os panfletários acusam o próximo de fazer dos soviéticos no Irã?

O mundo inteiro pasmou com isto. Na China, um recuo nosso. Dizemos que é "nosso" porque todos nós perdemos. Em Teerã um outro recuo. E que recuo!

Teremos um outro Munique no Oriente?

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Volvamos nossos olhos mais uma vez para a Inglaterra. O Sr. Atlee que revelou alguma firmeza no corpo a corpo com Moscou não há muito tempo atrás, adquiriu com isto certa confiança da opinião pública, que receava muito de seus pendores pró esquerda.

Esta confiança é bastante para que nem todos se apercebam de que, por sua política desastrada, vão caindo uma a uma as defesas do Ocidente cristão contra a URSS.

A Grécia? Que vale ela presentemente para o ponto de apoio do Ocidente? A Iugoslávia, a Pérsia, a China, não estão sendo também retiradas da esfera de ação dos ocidentais?

Um a um os bastiões sobre que se apoiava a política internacional do velho Churchill vão ruindo. Pensamos involuntariamente em Chamberlain. Se o estadista do guarda-chuva estivesse vivo, estaria com Atlee e contra Churchill... Chamberlain parece ter ressuscitado de blusão, proletarizado e modernizado na pessoa de Atlee.

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E, por isto, recomendamos a nossos leitores em que leiam e meditem o último discurso de Churchill na Câmara dos Comuns.

É uma peça de primeira importância, que constitui um brado de alarme contra uma certa política que Mons. Ascânio Brandão qualifica espirituosamente de "rósea", e que constitui em socializar tudo, entregar tudo a Moscou e achar que assim é que se deve fazer.

O que, tudo, não seria possível sem de quando em vez, os "róseos" não firmassem sua posição perante o público anticomunista brigando um pouco com Moscou.