Legionário, N.º 695, 2 de dezembro de 1945

7 Dias em Revista

As seções pagas em que, nos vários diários desta Capital, os partidos políticos fazem sua propaganda, publicam freqüentemente artigos, frases ou indicações em que procuram desviar o eleitorado católico da chapa adversa.

Não nos cabe entrar na apreciação do mérito dos argumentos em que se funda cada partido para malquistar o adversário com a opinião católica. Entretanto, devemos dar a nossos leitores um aviso importante, e que muito concorrerá para os orientar na jornada de hoje.

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A Liga Eleitoral Católica é o órgão autorizado a dirigir a opinião católica quanto à atitude a tomar no momento do voto. Ela estudou a situação eleitoral tal qual se apresentava, e em conseqüência deste estudo baixou as diretrizes que toda a imprensa divulgou. Desde que, pois, ela declara que é lícito votar na chapa A ou B, podem os católicos votar tranqüilamente em tal chapa. Pois que o órgão autorizado para tutelar os interesses católicos é ela, e só ela. Agindo dentro das diretrizes dela, os católicos estarão agindo conforme sua consciência. Os argumentos em sentido contrário, quaisquer que sejam, certamente foram ponderados pela Liga Eleitoral Católica, antes que ela tomasse suas deliberações. E foi em conseqüência de todas essas ponderações que ela deu as suas instruções. O que mais querem os católicos para a tranqüilidade de sua consciência?

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É certo que, como dizemos em nosso artigo de fundo, as chapas em sua quase totalidade desapontaram muito o eleitorado. Neste sentido, entretanto, devemos ser práticos. Há em quase todas as chapas alguns nomes de católicos excelentes. Graças a Deus, tiveram eles o bom senso de aceitar suas candidaturas. Tornaram possível aos católicos ter alguns representantes próprios na Constituinte. Nosso trabalho, com afã, com calor, com entusiasmo, deve ser a distribuição das cédulas encabeçadas por esses católicos.

Se, com isso, votamos automaticamente em nomes que não gostaríamos de sufragar, a culpa está na lei eleitoral que manteve o sistema já utilizado nas eleições de 1935.

Mas isto não é razão a menos; pelo contrário, razão a mais para que trabalhemos fortemente pelos candidatos genuinamente católicos. Nunca seria suficiente insistir sobre este ponto.

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Não vemos, pois, nenhuma razão para que os eleitores abandonem a chapa de sua predileção. Bastará que votem num bom nome, e terão cumprido seu dever... desde que essa chapa esteja entre as que a LEC aprovou.

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Toda a população ouviu com apaixonado interesse a discussão pública entre o Revmo. Sr. Pe. Saboya de Medeiros, S.J. e o Sr. J. Crispim, do Partido Comunista.

Nada queremos acrescentar ao que disse o ilustre Sacerdote. Chamamos apenas a atenção de nossos leitores para um particular da discussão, que se relaciona indiretamente com o "Legionário".

O representante comunista indagou, com uma insistência que roçava pela impertinência, sobre as atividades nazi-facistas dos católicos brasileiros. Isto nos levou a uma reflexão que fica expressa nestas linhas.

Em 1940, o "Legionário" sustentava uma veemente campanha anti-nazista e antifascista, mal compreendida por muitos elementos e quiçá por alguns católicos que acharam que "faltávamos com a caridade". Era o momento em que um bom número de órgãos da imprensa nacional assumia perante o conflito mundial uma atitude de neutralidade decepcionante. Rússia e Alemanha, de mãos dadas, digeriam em paz os restos da Polônia. Os comunistas daqui - o Sr. Crispim provavelmente entre eles - nada diziam contra essa confraternização.

Como é agradável ser coerente. E como o passado é doce de recordar - embora o presente seja por vezes duro de viver - para os homens coerentes!