Legionário, N.º 690, 28 de outubro de 1945
7 Dias em Revista
Continua a agitar-se um partidinho intitulado "socialista-cristão" que funciona sob a direção do Sr. Carlos Duarte da Costa, ex-Bispo de Maura e de Botucatu.
Entretanto seu rótulo pode causar confusão. É, pois, preciso que, de quando em quando, a imprensa católica reponha os pingos nos ii a respeito dele. É o que, em duas palavras, passaremos a fazer.
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Primeiramente, esse partido que se intitula "cristão" é de fato anti-cristão. Só há um Cristianismo autêntico e pleno: o Catolicismo. Esse partido não só não é católico, como é anti-católico. Com efeito, tem por fundador o Sr. Carlos Duarte da Costa, isto é um apóstata da pior espécie porque tendo sido elevado às honras do Episcopado na Santa Igreja de Deus, degradou-se a ponto de romper com a Igreja, fundar uma seita nova, e conferir a unção episcopal a outro apóstata.
Assim, pois, a este respeito qualquer confusão é impossível: o Partido Socialista "Cristão" é de fato anti-cristão.
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Isto, aliás, se poderia perceber facilmente pelo próprio título do partido. Com efeito, o socialismo já foi taxativamente condenado pela Santa Sé. Ninguém pode dizer-se socialista e católico ao mesmo tempo. São termos incompatíveis, disse Pio XI, já que nenhum católico pode ser socialista.
Ora, se esse partido é "cristão" e socialista, não podendo ser socialista e católico, é socialista e cristão de um cristianismo anti-católico. Ou seja, o partido é herege.
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A respeito do resultado das eleições na França, haveria muito que dizer. Primeiramente não se deve imaginar que a vitória do Partido Comunista significa propriamente um avanço do comunismo.
Nas relações entre o comunismo e o nazismo na França houve duas etapas bem diversas. Na primeira etapa os comunistas levaram a infâmia a ponto de favorecer de todos os modos a invasão nazista. Foi o que os jornais do tempo noticiaram fartamente, e o "Legionário" comentou de todos os modos. O comunismo foi, pois, até certa altura dos acontecimentos, ardentemente colaboracionista. E do pior colaboracionismo, que não foi o de depois da derrota, mas o que preparou e produziu a derrota.
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Na segunda etapa, pelo contrário, o comunismo se tornou anti-colaboracionista. É que III Reich investira contra a URSS. E os comunistas, que haviam traído sua pátria, não traíram a pátria estranha, que é para eles a Rússia.
Fizeram pela Rússia o que não fizeram pela França. Meteram-se nas organizações dos "maquis", associaram-se à sua direção por toda a parte, com o intuito de auxiliar, por um desafogo em território francês, a pressão que o Reich efetuava em território russo.
Assim os comunistas passaram a representar um papel ativamente nacionalista, de um nacionalismo ilusório, russófilo e não francófilo, mas em todo o caso de um nacionalismo ativo, que entusiasmou as massas populares.
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Renasceu com isto o velho mito de que o comunismo e nazismo são forças opostas. Este mito criou raízes, e os franceses da massa, os franceses comuns, que não percebem as altas artimanhas da política, com toda a facilidade acreditaram que o apoio ao comunismo era a forma melhor de afirmar uma orientação inteiramente contrária ao antigo elemento colaboracionista.
Foi fundamentalmente este o equívoco, que deu aos comunistas uma boa votação no último pleito. O futuro provará que, passada esta terrível confusão, o comunismo regredirá, passo a passo, porque manifestamente a França não é comunista.
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De certo modo, foi aliás o que os resultados da votação demonstraram. Não há duvidas que o partido comunista foi o mais votado. Mas se somarmos a votação dos partidos anticomunistas veremos facilmente que excede de muito e muito a do partido comunista.
O comunismo, pois, pela própria voz das urnas e dos números, é doutrina de uma minoria na França.
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Qual será a orientação a seguir? Interessa-nos altamente, neste caso, a conduta que assumirá o Sr. Bidault, elemento católico de destaque, o ministro do governo De Gaulle, que representa o Partido Popular, de tendências algum tanto católicas... se é que "algum tanto" é coisa que se possa aplicar a "católico".
Em tese, sendo hoje em dia o comunismo o "inimigo" nº 1 da Civilização Cristã, o Partido Popular deveria tentar uma coligação de todos os partidos que sejam anticomunistas - e que tenham uma brilhante folha anti-nazista também - para a luta contra o monstro vermelho.
Ao contrário, as notícias nos falam em "colaboração" do Partido Popular e do Sr. Bidault com os comunistas.
Sabe-se que, antes da guerra, certos grupos católicos franceses conhecidos por suas tendências esquerdistas procuraram realizar uma política colaboracionista com os comunistas que foi condenada pela Santa Sé. Chamava-se isto a "politique de la main tendue". Pio XI cortou a "main tendue". Mas a tendência continuou a existir, sob outras formas menos radicais, é claro.
É, pois, o caso de perguntar qual seja o motivo da atitude cordata do Sr. Bidault e do Partido Popular em relação ao comunismo. Será ditada apenas por delicadíssimas circunstâncias de momento, que à distância não podemos aquilatar devidamente? Ou será influenciada pela tendência da "main tendue"?
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O fato é que a moderação do Sr. Bidault está suscitando nos campos anti-católicos perigosas esperanças. Entre os que aplaudem o Sr. Bidault há pessoas que esperam dele coisas que sua consciência não poderá justificar. Assim é que um jornal radical socialista, "L'Aube", resumiu na seguinte fórmula sua esperança de um acordo Bidault-Cachin: "É preciso que alguns esqueçam que sua Meca está em Moscou e outros que sua Meca está em Roma, para que todos possam praticar juntos a política genuinamente francesa".
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Sobrepor os interesses franceses aos de Moscou, é questão de patriotismo. Mas entender que para ser bom francês é preciso fazer girar o mundo em torno de Paris, entender que o patriotismo absoluto exige que um católico não faça de Roma a fonte de sua inspiração em matéria de doutrina política e social, eis aí o que o Sr. Bidault não poderá aceitar.
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Para o verdadeiro católico, só há um meio de ser verdadeiramente patriota. É de compreender que os interesses espirituais e temporais mais profundos de sua Pátria estão em consonância estrita com o Catolicismo, e que é de uma fidelidade inquebrantável e absoluta a Roma que deriva toda a grandeza religiosa e cívica de um país. Cívica também, insistimos.
Ora, o que se pede a Bidault? É o contrário. Que sua política rompa com este princípio e chegue ao ponto de repudiar Roma.
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Uma pergunta, por fim, sobre este assunto. Se Bidault chegasse a repudiar Roma - o que Deus não permita - os comunistas repudiariam Moscou? Na aparência, talvez o fizessem. Mas na realidade, fa-lo-iam?
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Aguardamos, pois, com vivo interesse o desenrolar da política interna francesa já que, como temos mil e mil vezes dito, a França é o coração da civilização ocidental e cristã, e tudo quanto se faz de bem ou de mal naquele gloriosíssimo país, enche de luz ou de trevas o mundo inteiro.