Legionário, Nº 677, 29 de julho de 1945
7 DIAS EM REVISTA
É impossível comentar nestes dias qualquer fato internacional, sem por em conexão com as eleições britânicas. Caiu o velho Churchill. Sentimos todos, que no vazio que ele deixou, se movem como figuras muito pequeninas, seus sucessores, seus vencedores. Não há o que possa exprimir a impressão de mal estar que se sente, ao pensar que este homem, sob cujo impulso se desenrolou todo o esforço da vitória, esse, cuja catadura a um tempo simpática e feroz, era o símbolo da resistência indômita a serviço do bem e da concórdia, esse homem se encontra hoje no ostracismo.
Estamos muito e muito longe de pensar que Churchill não tenha cometido erros. Desses erros, alguns foram mais pesados. Pensamos mesmo que no próprio momento em que caiu, sob alguns aspectos, estava em vias de errar novamente. Mas que vale tudo isto, diante da idéia do que sucederá sem ele?
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Seus erros reais, incumbiu-se de os tornar pequenos o próprio partido que o derrotou. O Sr. Atlee, segundo tudo indica, irá a Potsdam com o mesmo guarda-chuvas que os Srs. Chamberlain levou a Berchtesgarden. Stalin terá diante de si - ao menos é o que se deve prever - uma Grã Bretanha indecisa e tímida, otimista e pueril, disposta a repetir diante do colosso vermelho os erros fatais que já cometeu perante o colosso pardo.
Como se colaborarão esses erros? De mil modos. Nada há de mais fácil, que vestir um erro com roupagens de verossimilhança. O erro é especialista profissional em macaquear a verdade. Pacifismo, prudência, longanimidade, despistamento, fraternidade, tudo se poderá alegar para justificar uma flexão britânica. Mas os fatos aí estarão, e a flexão não deixará de ser uma flexão.
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Uma flexão, sim, e essa flexão se dará precisamente no momento em que a Rádio de Moscou ataca o Vaticano e procura apontar o Sumo Pontífice como um campeão do totalitarismo de direita.
É o velho jogo que se repete. Quando Hitler estava no poder, queria um Papa dócil a seus desejos. Mas os Papas não usam guarda-chuvas em negociação internacionais. E nas mãos de Pio XI o cajado pastoral feria o lobo com golpes de gigante. Solução simples: os fascistas, os nazistas começaram a sustentar que o Papa servia o comunismo.
Agora é a Rússia que quer um Papa de algodão. Pio XII é o Pastor Angélico. Os anjos sabem curar e proteger, revela-o a história de Tobias. Mas os anjos também sabem ferir: revela-o a história de Satanás. E porque a inflexível atitude da Igreja contra o comunismo molesta às táticas confusionistas de Moscou, os comunistas encontram desde logo a saída: o Papa é fascista.
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No meio de tudo isto, só a Igreja não muda, só o Papado não cai, só o catolicismo não cede. Não cede e não cederá, e só ele será a verdadeira fonte de nossa esperança.
Caiu Churchill. Mas tudo está de pé, porque está de pé o Papado. E porque o Papado não pode cair. Churchill não representa senão uma determinada orientação humana, perecível e falível como tudo quanto é humano, e fraco por mais forte que pareça, porque é inteiramente humano. Em determinado momento sua atuação coincidiu com os interesses da civilização cristã, e neste terreno ele lutou magnificamente.
Mas Deus não precisa de homens. No sorvedouro da política podem ir-se as forças humanas. A Igreja, aparentemente fraca e isolada, pode parecer abandonada.
Tudo isto no fundo não quer dizer nada. Ainda que todos os povos se dobrem diante do ídolo vermelho, o Papa não se dobrará. E um belo dia se verá que o ídolo, ele próprio, também não era senão "pulvis, cinis et nihil", pó, cinza e nada.