Legionário, Nº 675, 15 de julho de 1945

7 DIAS EM REVISTA

Chamamos a atenção de nossos leitores para as oportunas e enérgicas declarações do Revmo. Sr. Cônego Paulo Rolim Loureiro, Chanceler do Arcebispado de S. Paulo sobre a posição dos católicos em face do comunismo.

Essas palavras, que transcrevemos de entrevista concedida por S. Revma. ao jornal "Estado de S. Paulo" reafirmam de modo muito oportuno os ensinamentos pontifícios sobre a matéria, e merecem ser lidas e meditadas por todos os católicos.

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Até o momento presente não se conhecem resultados positivos sobre as eleições na Inglaterra. O mundo inteiro aguarda com ansiedade os resultados do pleito, na expectativa de que eles marquem um ritmo sadio para a evolução política e social do pós-guerra.

De fato, jamais será suficiente insistir sobre um ponto. É que Winston Churchill está travando dentro de sua própria Pátria uma batalha sem a qual todo o sangue, todo o suor e todas as lágrimas vertidas na grande guerra correm o risco de produzir bem pouco resultado.

A ascensão do Partido Trabalhista ao poder é a perpetuação do totalitarismo, que mal toma o trabalho de se mascarar, e que já acena para a Inglaterra como uma ditadura econômica forrada por uma ditadura política a qual será, por sua vez, forrada por uma ditadura policial e militar.

E se esta guerra foi travada contra o totalitarismo, seria uma catástrofe que ele viesse a ressurgir em forma ainda imprecisa, mas vigorosa, precisamente no maior baluarte das liberdades do mundo que é no plano político, diga-se o que se disser, a Grã Bretanha.

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Certo jornalzinho comunista publicou recentemente uma nota em que, com palavras dulçurosas se lamenta a campanha feita "entre os operários católicos" de São Paulo contra o Partido Comunista. Depois de algumas considerações sobre a liberdade sindical, informa que se "converteu hoje na mais auspiciosa das realidades" a cooperação de católicos e comunistas em vários países europeus o que trouxe "superação de antigas divergências e mal entendidos que existiam entre os operários católicos e os socialistas e comunistas para que todos juntos melhor pudessem trabalhar... por uma vida melhor para todo o povo".

O artiguete termina com essas palavras: "a vida tem ensinado que os melhores amigos dos trabalhadores são eles mesmos". Querendo atirar os trabalhadores católicos contra os comunistas em geral, contra os trabalhadores comunistas católicos e afinal de contas dividi-los e enfraquece-los é ser contra eles.

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Inúmeras vezes o Legionário tem sustentado que o Século XX passará para história - ao menos em sua primeira metade - como a era das perseguições disfarçadas contra a Igreja. Foram-se para longe os tempos de luta em que os combatentes investiam contra a Igreja de viseira erguida. Hoje não há inimigo que não se tenha munido de uma boa pele de ovelha. Ainda está bem, próximo de nós o nazismo. Como se apresentou Hitler ao público alemão para conquistar os sufrágios do eleitorado? Como um cruzado, como um herói da luta anti-bolchevista, como um paladino da civilização cristã. Este tremendo perseguidor da Igreja subiu ao poder - digamo-lo com franqueza - em um momento em que o poderiam ter evitado os católicos se fossem menos ingênuos. Seus primeiros atos foram de franca simpatia para com o Catolicismo. Mas quando finalmente, ele se sentiu dono de todos os recursos e meios de ação, foi abandonando lentamente a máscara cristã com que se engalanara e desencadeou contra a Igreja uma das perseguições mais negras, que ela haja sofrido em sua história vinte vezes secular.

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Felizmente, no caso russo, a ilusão é mais difícil de se afirmar. Nas prisões da Rússia o sangue dos mártires, ainda quente, sobe ao Céu bradando vingança.

As palavras blandiciosas da propaganda comunista não nos podem fazer esquecer a realidade de ontem: de 1916 a 1936, segundo estatística oficial, a Tcheka, a G.P.U. e outros tribunais comunistas, ordenaram a execução na Rússia, de 28 Bispos e prelados, 6.778 Sacerdotes, 6.585 professores, 3.800 homens diplomados por escola superiores, 61.850 oficiais do Exército, 200.830 policiais e outros oficiais, 11.488.520 lavradores e operários.

Esse passado de sangue não se esquece simplesmente porque os algozes de ontem sorriem hoje.

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De quem é esta estatística? De algum reacionário feroz? Não. De Henry Boo, socialista francês, por isto mesmo muito insuspeito para falar de assuntos como este.

Mas esta estatística seria supérflua. Para nós, católicos, há outra razão mais forte. É que Catolicismo e comunismo são termos incompatíveis. Ainda que os comunistas não perseguissem a Igreja, seu regime seria irremediavelmente anticatólico, porque o modo pelo qual consideram a pessoa humana, a propriedade e a família, é diametralmente oposto aos mandamentos da Lei de Deus.

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A este respeito é preciso ainda acentuar que uma "evolução" do comunismo não alteraria os termos fundamentais do assunto. Diferenças radicais como estas, diferenças que são de polo a polo, não se remedeiam com uma pequena ou grande "evolução". Entre Catolicismo e comunismo, precisamente como entre Catolicismo e protestantismo, só há uma conciliação possível: é a morte do comunismo, e a completa conversão dos comunistas ao Catolicismo.