Legionário, 24 de junho de 1945

7 DIAS EM REVISTA

Plinio Corrêa de Oliveira

Em seu último discurso de combate ao Partido Trabalhista, o Sr. Winston Churchill levantou uma questão que interessa à opinião católica. Os trabalhistas têm atacado o atual gabinete, por se dizer "governo nacional", quando de fato, com a demissão de elementos trabalhistas, deixou de representar a totalidade da opinião inglesa, para refletir apenas a do Partido Conservador. A esta acusação o "premier" respondeu: "dei-vos no meu primeiro discurso desta campanha eleitoral várias razões pelas quais tínhamos o direito de assim proceder. Mas o que se poderia dizer do Partido Socialista, chamando-se de Partido Trabalhista?"

Pensasse ou não pensasse nisto, o Sr. Winston Churchill com esta pergunta pôs o dedo sobre um problema que abala em sua raiz a colaboração dos católicos britânicos com a esquerda.

Por que? A coisa não é muito fácil de explicar.

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Em seus termos muito gerais, a questão resulta da estrutura interna do Partido Trabalhista. O Partido nasceu para a defesa das classes operárias. Neste particular, não só não entrava em colisão com a doutrina católica, mas se propunha realizar um ideal por ela ardentemente almejado. Enquanto, pois, o Partido se conservasse no terreno da luta contra o "sweating-system", e contra os mil abusos do capitalismo liberal, só merecia aplausos. E isto tanto mais quanto o Partido Trabalhista em lugar de procurar açular o operariado contra os proprietários, aceitou de bom grado em suas fileiras elementos de grande influência nos círculos conservadores do país, desejosos de concorrer para uma solução eqüitativa do problema social. Assim, o Partido não representa a arregimentação odiosa de uma classe contra a outra, nem se propunha à luta de classe que Marx aponta como fenômeno necessário e inevitável da evolução mundial, mas era apenas uma liga de pessoas que lutavam contra a o opressão, a miséria, a exploração.

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Sem entrar nos complicados "dessous" que este programa apresentava quando analisado ao "raio roentgen" de um critério não puramente doutrinário, mas tático, podemos imaginar que, desde logo, um grande número de pessoas nada inclinadas ao marxismo, e com espírito suficientemente nobre para almejar a cessação de certas injustiças sociais flagrantes, se inscrevessem nas fileiras trabalhistas. Entre estas, havia católicos, que se foram tornando mais numerosos no Partido Trabalhista como aliás nas fileiras "tories" e "whigs", à medida que crescia a porcentagem de católicos nas estatísticas referentes à população do Reino.

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Paralelamente a isto, porém, pronunciava-se uma evolução sensível do Partido em direção ao socialismo. Não tanto por seu programa, mas pela tendência socialista de seus "leaders" mais influentes, da ala mais viva e mais prestigiosa do trabalhismo inglês.

Assim, pois, enquanto crescia o número de católicos no Partido, crescia o de socialistas, sem que a atitude oficial do Partido se ressentisse muito claramente desta última evolução.

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Estavam as coisas a esta altura quando o Sumo Pontífice Pio XI, na Encíclica "Quadragesimo anno" condenou o socialismo, chegando a proibir que o próprio vocábulo se empregasse conjugado à palavra "católico".

Em tese, em tese entenda-se, pois que a apreciação do caso concreto é imensamente delicada, os católicos puderam continuar trabalhistas já que em si mesmo ele não era socialista, quaisquer que fossem aliás as tendências que uma ala socialista ainda não lograra impor como pensamento oficial do "Labour Party".

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Mas, o prestígio crescente da ala socialista se tornou tão translúcido no Partido que a imprensa em geral, a britânica como a dos outros países, não duvidou em chamar correntemente de socialistas os trabalhistas, o que era feito sem sombra de malícia, não só pelas folhas "tories" e "whigs" mas pelas do próprio Partido.

Em tese, porém, o Partido como tal continuava a não ser socialista.

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agora, porém, os planos, o programa, a atitude do Partido são francamente socialistas. E ninguém mais dúvida disto.

Pergunta Churchill aos socialistas, por que não se chamam claramente socialistas em lugar de usar o título de "trabalhistas" a que eles não têm aliás o maior direito que os outros, pois que não são só eles os que trabalham, nem estão só em suas fileiras os trabalhadores.

Mas se o Partido se chamar oficialmente "socialista", que atitude tomarão os católicos britânicos? Pergunta que interessa no mais alto grau a quantos compreendam que a batalha pela conversão da Inglaterra é dos assuntos mais importantes e mais sérios em que a Santa Igreja está empenhada no mundo.

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Infelizmente, continua a incerteza sobre o destino do Adolph Hitler. Os boatos referentes à sua morte são tão desencontrados que ninguém pode saber ao certo qual a realidade sobre o famoso füehrer.

Neste sentido, a confusão está sendo favorecida pelos numerosos e delicadíssimos incidentes diplomáticos que vêm mantendo em suspense a atenção mundial, desde a capitulação nazista. Hitler vai parecendo menos importante. O presente absorve toda a atenção e cobre com o clássico e jamais surrado "manto do esquecimento" o passado. E não está inteiramente fora de cogitação a possibilidade de se formar em tempo não muito remoto um novo "sebastianismo" hitlerista... que se manterá enquanto ninguém puder jurar que o "sebastião" teutônico morreu de fato.

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O artigo sob o título de "Tática e Primarismo de Luiz Carlos Prestes", que publicamos em nossa última edição, foi transcrito do hebdomadário "Reação Brasileira" de 31 de maio pp., dirigido pelo Sr. Pedro Lafayette.