Legionário
, Nº 668, 27 de maio de 19457 DIAS EM REVISTA
Plinio Corrêa de Oliveira
Uma notícia, como muitas outras, que o leitor terá "digerido" com irritação, em tempos que já se foram:
"Logo depois das 19 horas, começaram a chegar ao campo de Tempelhof as numerosas delegações que deveriam participar do grande comício em que o líder direitista, Adolph Hitler, se faria ouvir, dirigindo a palavra ao povo germânico.
"O campo estava profusamente iluminado e decorado, vendo-se dísticos e legendas em vários lugares. Num extremo do campo, via-se um enorme retrato de Hitler. Numerosas pessoas se comprimiam em torno da tribuna de honra, onde se achavam presentes várias personalidades dos partidos de direita, da Alemanha e do exterior.
"A esta hora já haviam atingido o estádio todos os veículos destinados especialmente para aquele fim. Este se mostrava repleto, sendo que os melhores cálculos computavam uma assistência de 50 mil pessoas. Cinco minutos depois das 21 horas, num auto aberto, acompanhado por Goebbels e Himler, Hitler fez sua entrada na pista que circunda o campo. Morteiros e foguetes subiram ao ar. As bandeiras se agitaram e a multidão indiferente ao locutor que lhe pedia calma, prorrompeu em vivas a Adolph Hitler. O auto de Hitler desfilou lentamente diante do povo até que atingiu a tribuna de honra, onde se instalou, seguido dos que o acompanhavam, e respondendo às manifestações que lhe faziam".
"Falaram vários oradores. O discurso de Goering foi constantemente interrompido por aplausos. Quando acabava de falar um orador, os amplificadores emitiam o Hino Nacional de uma das nações aliadas. O primeiro a ser executado foi o alemão. Hitler, que se achava junto ao microfone, começou a cantá-lo, sendo dentro em pouco acompanhado pela multidão.
"Finalmente, o locutor anunciou que ia falar Adolph Hitler. A grande massa, agitando as bandeiras que empunhava, pôs-se novamente a bradar o nome do líder direitista que, passados poucos instantes, iniciava com voz alta, de timbre regular, sua oração".
* * *
Não sabemos se o leitor teve paciência de ler por inteiro esta monótona descrição. A propaganda nazista inundou durante anos as páginas de todos os jornais do mundo, com cenas análogas, que se tornaram insípidas pela repetição de seus vistosos pormenores.
Tudo quanto escrevemos acima entre aspas, não passa de reprodução de uma cena estandard, absolutamente representativa, como mil outras iguais, da mentalidade e dos costumes nazistas.
O leitor talvez ache curioso saber, entretanto, que o "Legionário" se permitiu apenas uma transposição de nomes. Em lugar de "Hitler", leia-se "Luís Carlos Prestes". Em lugar de "Goebbels" e Himler, leia-se "Trifino Correia e Ivan Ribeiro". Em lugar de "Goering" leia-se "Álvaro Ventura". E o leitor terá, ipsis literis, a transcrição dos principais tópicos da notícia com que um matutino desta capital descreveu o grande comício em que falou no Rio de Janeiro, no estádio do "Vasco da Gama", na quarta-feira pp.
Isto basta para encher o comentário desta semana. A título de documentação, vai o texto completo da notícia, que foi publicada pela "Folha da Manhã" de 5ª. feira pp. e que, data venia, transcrevemos.