Legionário, 13 de maio de 1945

7 DIAS EM REVISTA

Plinio Corrêa de Oliveira

Assinalamos com pesar o falecimento do Exmo. Revmo. Sr. D. Alberto Gonçalves, Bispo de Ribeirão Preto. A dor desta perda se agrava pelo fato de ter vindo pouco depois de outra perda sensível: de D. Henrique César Fernandes Mourão, Bispo de Cafelândia. Com o passamento dos dois ilustres prelados, perdeu o "Legionário" dois augustos e venerandos amigos, de que guardaremos sempre grata e respeitosa recordação.

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Já escrevemos, em tempo oportuno, sobre o Sr. D. Mourão. Falemos hoje do Sr. D. Alberto.

Alto, robusto, desenvolto de corpo e de espírito, o saudoso Bispo de Ribeirão Preto era em todo sentido uma figura inconfundível. Seu vulto imponente e desassombrado bem traduzia a independência de seu temperamento varonil. Impunha respeito, mesmo a quem o visse de relance. Na intimidade, completava-se esta impressão. D. Alberto, sabendo embora conservar muito bem as distâncias, e o temor salutar devido a sua autoridade, revelava um coração afetivo e generoso, uma benevolência universal que alternava agradavelmente com a fina ironia de sua palestra, um espírito de Fé e uma piedade que desdenhava de se manifestar em frioleiras e ninharias, mas que se revelava rija e incomovível nas coisas santas e fundamentais. "Causeur" animado e afável, tendo nas maneiras algo da gentileza afidalgada de nossos mais antigos costumes brasileiros, as horas corriam céleres em sua companhia, enquanto ele fazia desfilar, nas reminiscências interessantes que gostava de contar, todos os vultos salientes, da Igreja e do Estado, das primeiras décadas do Brasil novecentista.

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Há muitos anos, que D. Alberto José Gonçalves era o decano do Episcopado brasileiro. E seu decanato não tinha o significado de uma circunstância meramente cronológica. Dom Alberto era o decano no sentido pleno da palavra, isto é, um traço de união vigoroso entre o passado e o presente, uma representação viva de nossas tradições, um elo que assegurava em nossos dias aquilo que, dos dias pretéritos, não devia desaparecer.

Em Ribeirão Preto, era objeto de um sentimento em que se confundiam a estima filial e a mais sincera veneração. Seus funerais disseram bem o que dele sentiam seus diocesanos. À sua cabeceira, a presença de S. Excia. Revma. o Sr. D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, Arcebispo Metropolitano, representava o desvelo fraternal e vigilante de todo o Episcopado nacional. E, até os últimos instantes, acompanhou-o o zelo de filho, de S. Excia. Revma., o Sr. D. Manuel da Silveira Delboux, seu Bispo auxiliar, sobre o qual, com tanto afeto e tão assinalada confiança, se firmava sua veneranda ancianidade.

O "Legionário" recebeu de S. Excia. Revma. numerosas manifestações de apreço e simpatia. Recorda-as com singular e comovida gratidão, neste momento doloroso.

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Amigos de Pernambuco nos comunicam o seguinte tópico, publicado pelo "Diário de Pernambuco" e "Jornal do Comercio", de Recife, a 1 próximo passado:

"O "Diário de Pernambuco" na edição de 15 do corrente mês de abril, transcreveu uma entrevista dada pelo Sr. Gilberto Freire aos "Diários Associados" da Bahia. Na longa entrevista se acham as seguintes afirmativas:

"Sei de fonte limpa que há pouco andou por Pernambuco um maioral dos Jesuítas, dessa espécie que certamente foi também à Bahia e a outros centros brasileiros, para dizer aos moços, que ainda se deixam influenciar por tão falsos profetas, ser impossível aos "verdadeiros católicos acompanhar a candidatura Eduardo Gomes, apesar do brigadeiro ser católico; deviam ficar com o governo, isto porque - note-se como é significativa a razão alegada - isso de eleições e liberdade de imprensa no Brasil eram "uma imposição de Stettinius" e seria uma indignidade para o Brasil "aceitar tais imposições".

Na qualidade de membros da associações religiosas sediadas no Colégio Nóbrega, a nós caberia em primeira linha ouvir a contra-indicação da candidatura do ilustre brigadeiro Eduardo Gomes pelos motivos alegados de parte do aludido dos "Jesuítas". Como, porém, nenhum dos signatários do presente documento e nenhum dos seus muitos confrades, ouviu de qualquer Jesuíta de Pernambuco, ou dos que de fora aqui vieram até à data, quaisquer sugestões afirmativas ou negativas a respeito da candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes ou insinuações de que o levantamento da aludida candidatura fosse imposição quer de Stettinius, quer de outro representante de país estrangeiro, dirigimo-nos ao Colégio Nóbrega, afim de nos certificarmos sobre o que havia a respeito. Lá verificamos que as afirmações do Sr. Gilberto Freira tinham causado a mesma surpresa que a nós. Em seguida obtivemos informações dos Jesuítas da Bahia confirmando idêntica surpresa.

Em tais condições, plenamente informados e conscientes declaramos que são de todo inverídicas aquelas afirmativas. - (a.a.) Dr. Barreto Campelo, Dr. Antônio Pimentel, desembargador João Paes, Dr. Djair Brindeiro, Dr. Antonio Fernandes da Costa, Dr. Eurico Brito de Oliveira Andrade, Dr. Francisco Montenegro, Dr. Rui João Marques, Dr. Milton Cabral de Melo, prof. Valdemar Valente, Dr. Andrade Bezerra, Dr. Tomaz Wanderley.

Publicado nas edições de 1-5-45 do "Diário de Pernambuco" e "Jornal do Comércio", Recife."

Sem comentário possível, senão esse: confere!