Legionário, 29 de abril de 1945

7 DIAS EM REVISTA

Plinio Corrêa de Oliveira

Certa imprensa novidadeira e sensacionalista não perde ocasião de explorar os menores motivos de incompatibilidade entre o Clero e a opinião pública. Assim, deu bastante relevo ao fato de se terem recusado dois Sacerdotes – um de Minas e outro do Maranhão – a celebrar missa pública em sufrágio da alma do presidente Roosevelt. Insinuava-se que esses Sacerdotes pertenciam à famigerada "quinta coluna".

* * *

Nada mais ridículo do que essa imputação. O Direito Canônico veda a celebração de Missas públicas por alma de pessoas que não pertenciam ao grêmio da Igreja. Ele não proíbe que sufraguemos essas pessoas em caráter privado. Mas opõe-se a que a Missa seja precedida de avisos pelos jornais ou de qualquer outra solenidade.

A razão disto é óbvia.

* * *

Mãe amantíssima do gênero humano, a Igreja deseja ardentemente a salvação de todos os homens. Ela sabe e ensina que a salvação eterna é possível para as pessoas que, sem culpa própria, não conheceram verdadeiramente o Catolicismo e não o puderam abraçar, ou que pelo menos, antes de morrer, se arrependeram de ter fechado os olhos à verdadeira Fé. Essa salvação é, por certo, muito e muito mais difícil fora do corpo da Igreja do que nele. Entretanto, sempre assim é possível. E a Igreja, que se rejubila com essa salvação, não pode deixar de aprovar, que se apresse, por orações, por sacrifícios, por esmolas, e sobretudo pelo mérito infinito da Santa Missa, a libertação dessas pessoas que viveram na alma da Igreja, ou pelo menos pertenceram à alma da Igreja pouco antes de morrer, e expiam suas faltas no Purgatório.

* * *

Se este modo de ver se refere indistintamente a todos, quanto mais se referirá a um homem como Roosevelt que, defendendo os interesses de sua pátria, prestou "pari passu" um serviço relevante à Igreja, debelando do Ocidente o monstro do nazismo! Desejamos que no último momento tenha tido a graça de uma conversão interna. A opinião católica manifestou largamente o seu pesar pelo falecimento do Presidente, e à testa de tais manifestações figuram as palavras do Sumo Pontífice, endereçadas à Sra. Roosevelt e ao governo americano.

Estas razões dão a Roosevelt um título especial para o sufrágio dos católicos.

* * *

Entretanto, a Igreja é depositária da Verdade, e ela tem por isto mesmo gravíssimos deveres para com Deus, para consigo mesma e para com o próximo. Com efeito, está na essência de sua missão, conservar sempre demarcadas e profundas as linhas divisórias que a separam do erro. E, por isto mesmo, a Igreja abomina tudo quanto possa parecer, ainda que de longe ou indiretamente, uma confusão entre a ortodoxia e a heresia, o erro e a verdade, a luz e as trevas. Entre os mil modos porque essa confusão poderia estabelecer-se, estaria por certo, a comunidade de culto. A um mesmo culto corresponde necessariamente uma mesma Igreja e uma mesma Fé. Assim, pois, seria impossível que pessoas tivessem um mesmo culto, pertencendo a religiões diversas, sem com isto manifestar uma indiferença completa quanto aos princípios que as separam. E, por isto, a Igreja proíbe que se façam exéquias públicas por pessoas não católicas: elas poderiam induzir facilmente os espíritos à confusão.

* * *

Ora, infelizmente, Roosevelt era protestante. E, pois, a seu caso se aplicam automaticamente as disposições do Direito Canônico que são muito taxativas a este respeito, e obrigam a todos os Sacerdotes, no mundo inteiro, salvo naturalmente disposições da Autoridade Suprema da Igreja.

Como, pois, censurar um Sacerdote católico que, atendendo a tão elevadas razões teológicas e disciplinares, se visse na impossibilidade de efetuar a cerimonia pública, que lhe havia sido solicitada?