Legionário, 25 de março de 1945
7 DIAS EM REVISTA
Plinio Corrêa de Oliveira
Cogita-se seriamente, na Inglaterra, da constituição de uma Liga das Nações Educacional, feita para sistematizar em todo o mundo a ação pedagógica exercida sobre as gerações vindouras.
A idéia apresenta, logo de inicio, aspecto simpático. Primeiramente, porque traduz um grande apreço pelos assuntos educacionais. Será talvez a primeira vez que se cogita da constituição de um organismo mundial de educação, em rodas de verdadeira influência política dotadas de prestígio para transformar em realidade um plano que na pena de qualquer foculario não passaria de devaneio. É bem de ver, por outro lado, que essa Liga servirá de instrumento para intervenção das potências civilizadas nas regiões bárbaras e semi-bárbaras da Ásia e da África, onde poderá proteger as crianças tantas vezes mortas, deformadas ou irremediavelmente prejudicadas em sua formação moral pelos preconceitos, crenças e tradições dos povos gentios. Por fim, é claro que essa Liga, ainda mesmo que não dispusesse de meios de ação coercitivos nas nações civilizadas, poderia facilmente elevar-se a um alto grau de prestígio moral, e teria a possibilidade de beneficiar em todos os sentidos o progresso e a reta orientação da pedagogia em nossos dias.
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Olhemos entretanto o projeto também de outro prisma. Numa Liga em que o mundo soviético e o mundo amarelo terão grande influência, que ação educacional salutar será possível obter? Para que a "Liga" pudesse realizar um trabalho frutífero e durável, seria preciso que entre seus realizadores houvesse acordo quanto às verdadeiras finalidades da educação. Ora, esse acordo não existe, nem pode existir. Logo, os trabalhos da Liga trarão em si mesmos um estigma fatal, de superficialidade e instabilidade. Vício de origem, fundamental e insanável, porque a Liga será agnóstica por sua própria natureza.
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Mas vivemos em um mundo tão conturbado, que mesmo os frutos mais efêmeros nos merecem um olhar simpático, desde que sejam bons. E ainda mesmo que, como as flores do poeta, durem apenas "l’espace d'un matin".
Se bem que os componentes da Liga pudessem não concordar quanto à finalidade da educação, a própria observação da natureza humana, o próprio bom senso incute em todos os povos certos conceitos gerais sobre o que seja o homem educado, e cristaliza esses conceitos em fórmulas e atitudes que, variando em cada época, são entretanto iguais em substância. É o resíduo geral de moralidade e de polidez que constitui o nível mínimo de todos os povos civilizados.
Ora, poder-se-ia pensar, o mundo anda tão desordenado que não será supérfluo que um organismo internacional proteja contra as lufadas da crise contemporânea ao menos esse precioso substractum.
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O problema poderia ser exposto em outros termos. Estamos em uma época em que os conceitos mais essenciais da polidez e da moral estão subvertidos. Não é às margens do lago Tchad ou nas encostas do Himalaia que se necessita de uma defesa da educação. Ela tem de vencer sua grande batalha de vida e de morte, logo depois da guerra, tanto em Miami quanto em Nice, tanto em Picadily quanto na avenida Rio Branco ou na praça do Patriarca. Poetas, artistas, literatos, filósofos, todos semeiam aos quatro ventos elementos de destruição do que a educação tem de mais essencial. Não será esse o grande momento de fazer, sob a égide de um organismo internacional, uma grande coordenação dos esforços de todos que lutam para conservar ainda um pouco de educação sobre a face da terra?
Pergunta angustiosa, à qual responderíamos com outra que também não seria rósea. Quem nos garantiria que na direção desse órgão não se esgueirem filósofos, educadores, artistas, mais ou menos influenciados pelos princípios que causam hoje a derrocada geral da educação?
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Mas essa pergunta não nos atira ao desânimo. Se os esforços dos homens podem falhar, Nosso Senhor não falha. Instituindo a Santa Igreja, deu Ele ao gênero humano a sua grande educadora, provida de todos os recursos da graça, sem os quais nenhuma educação pode ser perfeita. E, existindo a Igreja, existe sempre para os homens uma possibilidade de reerguimento e de regeneração, imensamente mais próxima, mais firme, mais segura, do que as tênues esperanças que pudéssemos depositar na Liga da Educação.
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Alegra-nos muito saber que o governo americano e inglês estão dispostos a interpretar em sentido favorável à Polônia os acordos de Yalta.
Assim, exigem eles que o governo polonês contenha uma sólida representação de elementos anti-soviéticos, e que estes disponham de prestígio e recursos para não consentirem em que sua pobre e gloriosa pátria se torne uma republiqueta-satélite de Moscou.
Essa reação causa verdadeiro contentamento a todas as pessoas dotadas da firme persuasão de que a independência espiritual e política de uma Polônia católica é hoje em dia, mais do que nunca, uma condição essencial para a estabilidade da Europa.