Legionário, 28 de janeiro de 1945

7 DIAS EM REVISTA

Plinio Corrêa de Oliveira

A "Reuters" publicou na imprensa diária o seguinte telegrama:

"LONDRES, 24 (R). - A emissora iugoslava "Iugoslávia livre" anunciou hoje que uma delegação da Igreja ortodoxa sérvia partiu para Moscou por via aérea, de um aeródromo iugoslavo. A delegação iugoslava assistirá, como convidada, juntamente com seis outros representantes da Igreja oriental, a eleição e a entronização no novo patriarca russo no conclave que será aberto no dia 31 do corrente.

O metropolita Josip, que chefia a delegação, ao penetrar no avião soviético que o veio buscar, disse o seguinte: "Renovamos velhas estradas e velhas picadas".

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Como se vê essa curiosa "entronização" constitui mais um passo para a grande farsa religiosa preparada pela URSS. Uma igreja cismática que será ainda mais dócil ao sovietismo, do que fora a antiga igreja ao czarismo. Um igreja cismática dirigida nos bastidores por ateus confessos. É esse "fantoche" da Igreja que deve extirpar a Fé da alma do povo russo, com eficácia muito maior do que todas as propagandas dos "Sem Deus".

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Com efeito, quando os antigos propagandistas do ateísmo oficial russo diziam ao povo que Deus é uma quimera, os "mujiks" ouviam em silêncio e, voltando para casa, rezavam longamente diante do "ícone" pedindo perdão por tantos inimigos de Deus. Os Padres católicos e os "popes" haviam sido desterrados. Mas os "mujiks" guardavam em seus corações, bem firme, as lições de religião, que deles haviam recebido. Durante perto de 15 anos, os meios mais requintados da propaganda soviética fracassaram diante dessa resistência inerte mas intransponível. A alma russa rugia aos "sem Deus", e não se rendia a eles: era como o exército moscovita que se retirava diante de Napoleão, sem se submeter, e fazendo o deserto em torno dele.

O ateísmo oficial fracassara em sua propaganda. Era preciso arranjar outra coisa melhor.

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De que jeito? Se o povo só acreditava em clérigos, arranjar-se-iam clérigos para o povo. Esses clérigos se incumbiriam de destilar aos poucos, na alma russa, o veneno do ateísmo bolchevista. Não que dissessem que Deus não existe. Seria o supremo erro. Mas diriam que Deus existe, é mesmo um grande espírito, ou seja o espírito universal, ou seja a própria natureza. Um símbolo, portanto, um mero símbolo. Jesus Cristo? Oh, sim, admirável figura. As lendas tem mesmo esse poder mágico de arrancar da alma popular estupendas figuras de heróis e taumaturgos. Que esplêndido símbolo da humanidade é Jesus Cristo! E que admiráveis figuras simbólicas em torno dele constelou a imaginação popular! Sim. Tudo muito bonito, admirável. Só que... aos poucos o "mujik" vai vendo que a "igreja", aqueles "popes" vistosamente paramentados que se prosternam nas mesmas igrejas, aos pés dos mesmos ícones, na celebração dos mesmos ritos, são os primeiros a lhes dizer, de modo velado, precisamente o que lhes diziam os propagandistas soviéticos.

Em última analise, os sovietes tentam realizar agora por meio de uma espécie de "quinta colunismo" religioso, precisamente aquilo que seus propagandistas ateus não conseguiram realizar.

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Para que se compreenda bem a viabilidade dessa manobra é preciso tomar em consideração que nós estamos habituados – graças a Deus – à atmosfera da Igreja Católica, com seus dogmas fixos, suas doutrinas imutáveis. Já no tempo do czarismo, o tesouro de dogmas dos cismáticos, que esses haviam herdado da Igreja Católica, estavam em franca deliquiescência. Ninguém cria mais, seriamente, na totalidade dos pontos de Fé oficialmente professados pela igreja cismática. A atmosfera era de livre exame. Isto posto, compreende-se com que suma facilidade os cismáticos podem ser manobrados por uma propaganda de ateísmo diluído e dinamizado.

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Não perceberam isso os prelados sérvios que foram à "entronização" do "patriarca" russo? Serão ingênuos a este ponto? Ou, pelo contrário, prestam-se intencionalmente à manobra?

Essa interrogação tem um caracter angustioso. Tudo nos leva a recear que a preponderância soviética nos Bálcãs seja muito forte depois da guerra. A reação deveria partir precisamente dos elementos infensos ao ateísmo bolchevista. Se os "prelados" sérvios, rumenos, etc., pertencentes ao clero cismático, protestassem contra a farsa de Moscou, pelas ondas do rádio suas palavras poderiam chegar aos camponeses russos, e imunizá-los. Pelo contrário, eles parecem induzir em erro, com seu comparecimento a "entronização" de Moscou, a seus próprios fiéis. "Renovamos velhas estradas e velhas picadas", disse o metropolita Josip. Sim. Mas o que circulará nessas estradas e picadas reabertas? O ateísmo disfarçado? É o que sobremaneira importa saber.

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Da "United Press", extraímos o seguinte telegrama:

"MANAGUA, 24 (UP) - Segundo a lei vigente na Nicarágua, só é legal o matrimônio civil e o sacerdote que celebrar uma cerimônia nupcial sem que, anteriormente, os noivos tenham comparecido ante um juiz de paz, será multado em 200 cordobas. O povo e a Igreja protestam continuamente contra tal estado de coisas. Na semana passada o presidente Samoza enviou ao Congresso um projeto de lei, segundo o qual o matrimonio religioso será reconhecido legal. Depois de acalorados debates, ontem o Congresso rejeitou a proposta por 22 votos contra 12, enquanto o público que ocupava as galerias ameaçava os parlamentares gritando: "Não esqueçam, nas próximas eleições, que vocês votaram contra essa lei".

De tão pitoresco e significativo, nem sequer o comentamos.