Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 7 de janeiro de 1945

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Os jornais publicaram o seguinte telegrama [enviado pelo órgão Vaticano "Osservatore Romano"]:

"ROMA, 2 (R.) - O chamado "movimento.... [texto truncado]

"Os princípios e tendências deste movimento são incompatíveis com os ensinamentos da Igreja".

Os esquerdistas cristãos até recentemente davam ao seu partido o nome de "Movimento Comunista Católico", mas modificaram-no em seguida a uma condenação velada feita pelo Papa.

O "Osservatore Romano" diz estar autorizado a declarar que os promotores da esquerda cristã não têm o direito de falar como intérpretes do pensamento cristão, nem de procurar conquistar a adesão dos amigos católicos do povo.

Os comunistas católicos constituíam um movimento ativo, ainda que pequeno, que operou durante os 9 meses em que Roma esteve ocupada pelos alemães. Quando o Papa fez sua premira aparição, após a retirada dos Aliados em Roma, os líderes católicos saudaram Sua Santidade com uma procissão de bandeiras vermelhas, sob o balcão de onde o Sumo Pontífice se dirigia à população de Roma.

* * *

Neste despacho, várias coisas são muito dignas de nota. A primeira é que o movimento em questão tinha timbrado em se chamar "católico". O LEGIONÁRIO já tem dito mil vezes - e os fatos confirmam com uma evidência solar - que não estamos mais no tempo em que os comunistas, os socialistas, os protestantes investiam contra igrejas católicas, de bombas na mão, para fazer saltar tudo pelos ares, desde o ápice do campanário até a pedra de ângulo dos alicerces. Este tempo já está longe. Hoje, os protestantes "namoriscam" os católicos, procurando arrastá-los para uma espécie de pan-cristianismo prático. Os comunistas deixam de lado seus punhais e suas bombas, a que devem tão assinalado fracasso na Espanha, e começam a "politique de la main tendue". A hora do combate de viseira erguida se foi. Hoje, o momento é do abraço do urso... ou do beijo de Judas.

É muito típico este caso concreto. Para dar à mercadoria avariada e detestável, que é o comunismo, alguma possibilidade de circulação na católica Itália, faz-se um "comunismo católico". O chocante não é somente que haja comunistas que pensem em tal farsa. É que haja católicos tão e tão fracos ou vazios de princípios, que possam ser iludidos por esse grosseiro estratagema. O famoso caipira que no Rio teria comprado um bonde, cometeu erro muito menos ridículo.

* * *

A uma impostura, se soma outra. Prevalecendo-se da profunda conturbação espiritual por que passa atualmente a Itália, e dos mil motivos que levam a Santa Sé a uma grande prudência e parcimônia em todos os seus pronunciamentos, os chefes "comunistas católicos" realizam uma passeata com bandeiras vermelhas, quando o Sumo Pontífice apareceu ao povo, imediatamente após a evacuação da cidade pelas tropas nazistas. Modo astucioso de dar a entender ao povo, que o Papa aprovava ou tolerava semelhante disparate.

Mas o Papa nem aprovou nem tolerou. Fez uma censura, velada embora, aos impostores, claro prenuncio de uma atitude mais forte. A essa meia condenação sucedeu um meio recuo. O partido não se intitulou mais "comunista católico", mas "esquerdista cristão". A modificação é uma elasticidade felina. Não é mais comunista, nem mesmo se diz categoricamente socialista. É esquerdista. Que tal? Não tem sabor? Um arzinho de sofisma barato, que há de ter encantado todos os políticos velhacos e todas as consciências laxas. E também não é mais especificamente católico. É "cristão". Modo de ser e não ser católico, de ser e não ser comunista, de obedecer e desobedecer ao Papa ao mesmo tempo.

Esses são os nossos inimigos de hoje: a cada condenação da Igreja, respondem com um novo sorriso e um novo embuste.

* * *

Veio outra condenação, agora, mais clara, do "Osservatore Romano". Desanimarão? Repetimo-lo: nunca. Arranjarão outro rótulo. Serão, por exemplo, em vez de comunistas, comunitários, comuniatras, comunifilos, tudo menos bolchevistas confessos. Serão, em lugar de católicos ou cristãos, "espiritualistas", ou coisa que o dera. Não recuarão diante dos mais horrendos neologismos, contanto que possam continuar a fazer os mais horrendos sofismas.

* * *

Consideramos extremamente delicada a matéria sobre que versará um projeto atualmente em elaboração no Conselho de Comércio Exterior, acerca do trabalho obrigatório para "desocupados e vadios".

Certamente, a opinião católica jamais apoiará a vadiagem, nem protegerá contra o justo rigor das leis aqueles que, não querendo trabalhar, oneram, entretanto, a econômica coletiva, recorrendo a toda sorte de desonestidade, fazendo-se, por exemplo, aleijados ou cegos, para explorar a caridade pública etc., etc.

Mas essa questão de "trabalho obrigatório" é imensamente complexa. Obrigar um homem a trabalhar quando ele é ladrão ou falso-mendigo, está bem. Mas impor-lhe um trabalho obrigatório, contrário ao seu gosto, sua inclinação, simplesmente porque ele não encontra trabalho, é coisa terrivelmente grave. Com efeito, a organização social deve proporcionar trabalho livre a todos. E criar o trabalho obrigatório, para suprir o desemprego, é uma violência contra a liberdade individual.

Evite cuidadosamente esse escolho, a Comissão que ora trata do assunto.


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