Da agência N.C., destacamos a seguinte notícia: -
"A Agência soviética Tass anunciou o estabelecimento de uma Associação Unida de Evangélicos Cristãos e Batistas na União
Soviética. A associação foi constituída em uma assembléia em que participaram
45 delegados das comunidades evangélicas cristãs e batistas de Moscou, Leningrado, Ucrânia, região bielo-russa, Cáucaso, Sibéria, Vale do Volga, Criméia e Kazakistão. O órgão principal da nova associação religiosa estará
constituído por um conselho cuja jurisdição se estenderá a todas as comunidades
evangélicas e batistas da União Soviética." O despacho da N.C., acrescenta
os nomes dos "dirigentes notáveis e populares" que superintenderão o
movimento.
* * *
Manifestamente, esta medida nos informa de mais um
"recuo" do ateísmo oficial soviético. Não só ficamos sabendo que
naquele país declaradamente ateu havia uma vasta rede de organizações
protestantes funcionando com conhecimento - e portanto com placet - das autoridades; mas
vemos que essas organizações se federam para constituir um órgão central, numa
atmosfera de visível simpatia dos elementos governamentais.
À primeira vista surge a grande esperança: essa
nova atitude não poderá justificar o estabelecimento regular de uma hierarquia
católica na Rússia?
* * *
Oxalá que sim. Mas reflitamos. Os protestantes
praticam o livre-exame. Logo, podem interpretar a
Bíblia à sua vontade. E, como eles possuem a arte de martirizar e atormentar os
textos escriturísticos por mil exegeses artificiosas,
até extorquir deles o que bem entendam, podem chegar à conclusão que o regime
político-social russo é propriamente evangélico. Assim, o camarada Stalin, em lugar de ser o Bajazet ou o Átila de nossos dias,
seria um cândido e generoso realizador da ordem social cristã. Porque a ordem
cristã deixaria de ser o que sempre se entendeu por tal, para ser o que Stalin quiser.
Assim, a penetração protestante na URSS não
constitui preocupação séria para o governo soviético. Os dirigentes soviéticos
sabem que o protestantismo, desde seus primeiros dias, tornou-se especialista
na arte sutil de agradar o poder temporal...
* * *
Com os cismáticos, idem.
Toda a hierarquia cismática já está constituída. Os Bispos, arquimandritas,
popes, são elementos de confiança de Stalin. Um
deles, ao que parece, trabalhou na propaganda da secção
dos "sem Deus" do governo soviético. Mas desde que o governo mudou de
política religiosa ele mudou de funções. Aprendeu um pouco de cerimonial,
mandou fazer uma batina... e é bispo ou pope. Já antes da guerra, os cismáticos
estavam muito divididos, e viviam em regime de prático livre-exame.
Sua tendência para se aproximar dos protestantes é acentuadíssima.
Eles também aceitarão a doutrina social que Stalin
quiser.
* * *
E os católicos? A coisa aí é outra. Temos autoridades
nomeadas por Roma. Pode-se imaginar de
que "contraproducência" terrível serão em
Roma as "recomendações" de Stalin a favor
deste ou daquele candidato ao Episcopado.
Temos uma doutrina fixa. Esta doutrina é
irreconciliavelmente anticomunista, anti-socialista. Cada católico é um inimigo
nato do socialismo e do comunismo. Cada cerimônia religiosa, tornando os
católicos mais católicos, torná-los-á mais inimigos da ordem política e social
vigente na Rússia. Que reconciliação poderá haver entre a Igreja e o governo
soviético? No fundo, nenhuma.
* * *
O que isto quer dizer? Os sovietes deixarão
liberdade de propaganda aos católicos na Rússia. Aceitaremos certamente esta liberdade. Cada partido
procurará tirar disto seu proveito. Os católicos trabalharão para destruir o
mais rapidamente possível o socialismo. Os comunistas procurarão fazer
propaganda no mundo inteiro, provando que "não são contra a
Religião". Tudo depende da agilidade dos católicos. Se, no mundo inteiro,
soubermos não acreditar na mentira e combater com igual tenacidade o comunismo, ele só terá a perder com a liberdade que nos outorgar na
Rússia. Se, pelo contrário, formos ingênuos, ele só terá a ganhar.
Nesta terrível partida, depende tudo de nossa
perspicácia, ou em outros termos, do ardor, do entusiasmo com que se é de Roma
contra o socialismo, apesar de todas as sutilezas e maquinações dos ursos
vermelhos de Moscou.