Legionário, N.º 646, 24 de dezembro de 1944

7 DIAS EM REVISTA

Continuam, nas duas câmaras inglesas, as discussões em torno do caso grego. E mais uma vez acentuamos a “coincidência” de tais “casos” surgirem apenas nos países libertados pelos Aliados. Temos o caso belga, o caso italiano, o caso grego. Todos eles explorados pelas agências noticiosas desfavoravelmente a Londres e a Washington.

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A julgar pelas notícias divulgadas pelas mesmas agências telegráficas ter-se-ia a impressão de que reina a mais completa ordem nos países ocupados pela Rússia soviética. Estonianos, letões, lituanos, rumenos, búlgaros, estariam contentíssimos com o domínio soviético e não teriam problemas políticos a resolver com o argumento das ¨tommy guns¨.

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A verdade, porém, é que a Rússia soviética não vira as costas aos seus inimigos e os mantém agrilhoados e vigiados por sua polícia política. A Rússia sabe que valor deve atribuir às apregoadas “liberdades populares”. E não satisfeitos em manter escravizados os infelizes patriotas que não desejam para sua terra nem o domínio nazista nem o domínio comunista, os dirigentes soviéticos dirigem, com mão de gato, as perturbações e obstruções políticas nos países libertados pelas Nações Unidas. O próprio Churchill se referiu a essa intervenção dos agentes provocadores comunistas. E dizer-se que a III Internacional está fechada...

As pretensões soviéticas sobre a Polônia continuam a agitar a opinião pública internacional.

Com efeito, foi em defesa da integridade da Polônia que a Inglaterra declarou guerra à Alemanha nazista. E a Polônia tem sido uma fiel colaboradora das nações unidas. Não faltam comentaristas a acenar, dramáticos, para o perigo de uma paz em separado da Rússia com a Alemanha e o Japão no caso da Inglaterra insistir na oposição ao desmembramento da Polônia. A Alemanha, a Rússia e o Japão repartiriam o mundo...

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Este argumento mostra que, para os Estados totalitários como a Rússia, de nada vale o Direito Internacional e o princípio das soberanias nacionais. São Estados que apenas usam o argumento da força, quando não conseguem seus objetivos por golpes de política de baixo império.

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E nesta altura dos acontecimentos é interessante citar as declarações do presidente Roosevelt aos jornalistas norte-americanos no sentido que de "nunca houve nenhuma Carta do Atlântico", apesar das nações unidas continuarem a seguir os seus princípios... Expressou o primeiro magistrado norte-americano que ele e Churchill nunca assinaram uma "Carta do Atlântico" completa, se bem que cada um possua um memorando incompleto, assinado pelo outro."

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Enquanto isto se dá, o Sr. Joseph Goebbels publica mais um artigo no "das Reich" em que afirma que "a vitória virá um dia como um fenômeno natural. Surgirá subitamente, anunciada sem grandes alardes, mas com uma força que será capaz de mover montanhas". Acrescenta que "os acontecimentos atuais são indicações da vitória alemã. Basta saber interpretá-los apropriadamente".

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Ora, há meses atrás o mesmo Sr. Goebbels publicou no mesmo "das Reich" um artigo em que, batendo na mesma tecla da vitória alemã apesar das aparências desfavoráveis, dizia entre outras coisas que "o século vinte, com o socialismo, há de afirmar-se em definitivo, apesar de quantos obstáculos se interponham no seu caminho. Nunca acreditamos tão firmemente na vitória alemã como nestes últimos meses e anos".

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Por outras palavras, a vitória do socialismo seria a vitória do nazismo. Com efeito, não é ele o nacional-socialismo? E desde que a Rússia também começou a adotar uma forma nacional de governo, seu socialismo deixou de ser internacional, para ser nacional. Temos, assim, o nacional-socialismo de Hitler e o nacional-socialismo de Stalin. Ambos expansionistas...

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Um fato patente, que vem confirmar as palavras de Goebells, é a desproporção entre a reação nazista contra a invasão aliada e contra a ofensiva russa, de que é testemunha a última contra-ofensiva do general Rundstedt na frente ocidental. Por este e por outros sinais, verifica-se que a Alemanha prefere ser invadida pelos comunistas do que pelos anglo-americanos.

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Por aí se vê, mais uma vez, a comédia que encerra a oposição entre nazismo e comunismo.

Na luta contra o comunismo e o nazismo tenhamos sempre em mente a necessidade e o dever de sermos católicos antes de tudo. Não reconheçamos outro Salvador para a humanidade senão Aquele cujo nascimento a Santa Igreja celebra no dia de amanhã.