O mais trágico da situação em que o mundo se
debatia antes da guerra consistia na alternativa que lhe parecia imposta pelas
circunstâncias: nazismo ou comunismo. Derrotado o nazismo, a alternativa se rompeu. O mundo
deve voltar-se ativamente contra o comunismo, e, assim, destruir o outro
inimigo capital que lhe resta, o "inimigo nº
2".
Assim, o LEGIONÁRIO, na expectativa do armistício
que se avizinha, se apresenta para uma campanha ativa contra o comunismo,
campanha omnímoda, que deve abranger o problema comunista sob todos os seus
aspectos.
É uma verdadeira felicidade que a destruição do
nazismo permita a todas as forças católicas do mundo a realização de um "putsch"
espiritual contra os sectários de Marx.
* * *
Para isto, entretanto, é imperiosamente necessário
que o nazismo não renasça. É uma ilusão imaginar-se que a derrota militar de Hitler representa o
esmagamento definitivo do nazismo. O nazismo é resultante de uma série de
defeitos profundos da mentalidade moderna. Não seria difícil apontar nos
discursos de muito "leader"
anti-nazista afirmações e conceitos tipicamente
nazistas. Muito liberal há, como o famoso Monsieur Jourdain, que era prosador "sans le savoir";
isto é, são nazistas sem o saber. O nazismo é, em última análise, a expressão
requintada do socialismo. Por onde todo o socialista tem seu "it" de nazista. Aliás, os nazistas se intitulam
oficialmente socialistas: são "nacional-socialistas"
segundo a linguagem oficial do partido.
A História tem reviravoltas curiosas. Napoleão, que se chamou justamente "la Revolution en bottes", foi derrotado pela Europa
coligada. Reuniu-se o Congresso de Viena, para "por entre parêntesis a Revolução". E o
que aconteceu? O Congresso foi um continuador da obra
revolucionária em muitos pontos de uma importância capital. Por exemplo, o
Congresso ousou o que Napoleão não ousara, e destruiu, com protesto categórico
da Santa Sé, o Sacro Império Romano Alemão, peça essencial da relojoaria política européia, que
estava longe de ser a velheira gótica
irremediavelmente perdida, que em geral os historiadores nos descrevem.
* * *
Ora, Hitler não foi o nazismo. Hitler foi apenas o
homem que condensou certas tendências ideológicas e sociais que pairavam no ar,
o charlatão-tipo, que soube simbolizar essas
tendências graças à sua extraordinária qualidade de mímico, a figura de proa
que um grupo de políticos manejou para realizar uma ideologia. Caído Hitler, as tendências que ele representou continuarão a
pairar no ar, um pouco por toda a parte, densas na Alemanha, mais tênues em outros lugares, por toda a parte dotada
de uma força de expansão própria ao mal. A queda de Hitler
será um acidente mais ou menos grave, na história do nazismo, mas não
representa seu fim.
Se, pois, queremos enfrentar claramente o comunismo
cuidemos de remover não só os escombros do nazismo, mas os fatores ideológicos
e sociais de que ele brotou uma vez, e de que brotará de novo se nos
descuidarmos.
* * *
Neste sentido, é preciso especialmente, ter força e
prudência. Força para destruir dentro e fora da Alemanha tudo que deve ser
destruído. Prudência para não destruir o que não deve ser destruído, para não
exacerbar o que deve continuar vivo. Os erros [do Tratado] de Versailles não se devem mais repetir. Nunca, nunca mais,
dentro do mundo germânico, devemos ter como pólo central a Prússia e Berlim. O verdadeiro consiste em transferir o polo para Viena. Nisto, mais que em qualquer medidas de outra natureza,
está o segredo de uma boa parte do problema.
Mas não basta. O nazismo é filho do tecnicismo
moderno e precisa ser vencido por uma utilização diferente da técnica. Em nossa
civilização de aço, o nazista é bem o homem de aço, cérebro de aço, coração de
aço, mãos de aço, nervos de aço - o "Stalin" - ideal, que funciona, como um acessório de aço
nesse mundo pagão.
Aí está o problema. O uso cristão da técnica, em
contraposição com o uso pagão da técnica, eis toda a questão.
* * *
Lembremo-la, porque parte dos destinos do mundo,
está sendo jogado na conferência de Quebec, e é essencial que os problemas fundamentais não estejam
longe das vistas dos homens que, assoberbados pelos problemas imediatos que
seus brilhantes e auspiciosíssimos triunfos causam,
podem perder talvez a noção dos elementos fundamentais e imutáveis que
caracterizam a crise contemporânea.
"Christus heri, hodie ipse
et in saecula".
Cristo ontem, hoje, em todos os séculos, eis a grande Verdade que deve iluminar
a paz cujos albores o mundo, libertado por oras do pesadelo nazista, começa a
antegozar.