Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

Legionário, N.º 627, 13 de agosto de 1944

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Nunca será suficiente acentuar a tática de confusão de que se servem de tão boa mente os protestantes. Sua idéia fixa consiste em ocultar o mais possível o caráter anticatólico de suas obras, mascarando-as com a designação de "cristãs". Sirva-nos isto de lição, para que compreendamos que, se não quisermos servir os protestantes, deveremos timbrar em manter clara, positiva, iniludível e plenamente católicas, apostólicas e romanas, as nossas iniciativas.

Este comentário vem a propósito da seguinte notícia, publicada sob o título "Associação Cristã de Acadêmicos".

A "ACA", de São Paulo, está convidando todos os estudantes cristãos e suas respectivas famílias para assistirem às comemorações do "Dia universal de oração dos estudantes", hoje, dia 11, às 16 horas, à Rua Helvetia, 772.  Do programa elaborado constarão também números corais."

Se não soubéssemos que na R. Helvétia funciona um templo protestante, como poderíamos adivinhar que é genuinamente protestante a "ACA"?

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Merece elogioso registro a notícia de que o DIP cancelou a autorização de funcionamento das revistas Mundo Médico e Directrizes, órgãos nitidamente bolchevizantes.

Quanto ao Mundo Médico, a menos médica das revistas, movia contra a Igreja uma campanha vil, na qual o LEGIONÁRIO e um de seus mais ilustres colaboradores, o Revmo. Sr. Pe. Arlindo Vieira, S.J. não foram poupados.

Quanto ao Mundo Médico, a menos [erro tipográfico no original] ....luida e perigosa em sua atividade esquerdista, essa revista era talvez o maior instrumento da propaganda soviética em nosso país.

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A Agência Reuters distribuiu esta semana o seguinte telegrama, que foi publicado sob o título: "Plano de fusão dos Estados árabes".

"JERUSALEM, (R.) Acreditase nesta capital que foram traçados planos para a formação de um único Estado com a Síria, Líbano, Palestina e Transjordânia, os quais serão discutidos na conferência Pan-árabe, a se realizar em Alexandria, no próximo mês.

Esse plano é parte integrante de um programa de oito pontos, proposto pelo Presidente da Síria e pelo governo do Iraque.

Afirmase, igualmente, que o plano propõe que os povos desses quatro Estados decidam a forma de seu governo; esse regime será monárquico ou republicano.

Os autores do plano propõem a formação de uma liga árabe que abrangeria imediatamente o Iraque e a Síria, mas que poderia incluir outros Estados árabes, se estes o desejassem. Esta liga teria um conselho permanente, nomeado pelos Estados-membros, e sua presidência seria exercida por turnos. O conselho seria responsável pela administração territorial, pela defesa, pelos assuntos exteriores, pela moeda, pelas comunicações, pelas alfândegas e pela proteção dos direitos das minorias.

De acordo com o plano, a comunidade judia da Palestina teria uma semi-autonomia, com a administração própria para o distrito urbano e rural, compreendendo escolas, serviço sanitário e polícia, mas sujeita à supervisão geral do Estado Sírio, sendo-lhe, porém, dadas as garantias internacionais.

Jerusalém teria uma comissão especial que representaria as três religiões, para assegurar a liberdade de cultos. Além disso, se fosse necessário e requerido, a comunidade cristã maronita, do Líbano, teria um regime especial."

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Quando o LEGIONÁRIO, há mais de um ano, levantou a questão, pensou-se que estávamos querendo ver longe demais, e que o perigo de uma reestruturação do mundo árabe sobre bases muçulmanas e com os recursos da técnica moderna, era tão inverossímil quanto qualquer conto das mil e uma noites. Hoje, por fim, as coisas se positivaram tanto, que não é mais possível fechar os olhos. A projetada federação da Síria, Líbano, Palestina e Transjordânia com o Iraque e eventualmente outras nações islâmicas já representaria, potencialmente, a realização dos projetos pan-islâmicos.

Com efeito, surgiria no coração da Ásia uma grande potência, com escoadouro comercial e expressão bélica quer no Mediterrâneo, quer no Índico, senhora de recursos econômicos inestimáveis, capaz por isto mesmo de adquirir em larga escala o superávit de armamento que vai sobrar depois desta guerra. Os muçulmanos da Índia, opressos, pelos britânicos e especialmente pelos brahmanicos, se apoiariam sobre esta nova potência que teria assim, a seu serviço, elementos para influir indiretamente até na política do Extremo-oriente.

Por outro lado, os muçulmanos de toda a África do Norte não poderiam deixar de olhar para o poder que adquiririam se se ligassem à Síria, tão próxima de seus olhos. É certo que por enquanto a liderança muçulmana na África do Norte está com o Egito. Mas as relações entre o Egito e o Iraque são tão íntimas que não seria muito difícil arranjar as coisas entre os dois países, ou por meio da constituição de dois grandes blocos muçulmanos, um asiático outro africano, respectivamente sob a direção do Iraque e do Egito, ou mesmo pela constituição de um órgão federal coletivo que englobasse o mundo islâmico em um todo harmônico, que poderia ir desde Marrocos até a Índia.

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É verdade que um telegrama ulterior nos deu a feliz certeza de que o governo da Síria desmentiu a existência de tal plano. Entretanto o plano teve uma difusão por demais extensa e insistente para que não vejamos nele um "balão de ensaio" destinado a sondar a opinião pública e a prepará-la para aceitar em futuro mais ou menos próximo ou remoto a realização dos desejos da política muçulmana.

Ademais cumpre notar que o desmentido do governo sírio não afirma que o plano não está em suas intenções mas simplesmente que não será tratado na próxima conferência.

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Mais curioso, entretanto, é o regime que se pretende dar aos cristãos nos Lugares Santos. A notícia não poderia ser mais ambígua. Os muçulmanos terão a alta autoridade sobre tais lugares. Haveria ainda para os judeus, um regime políticoadministrativo suportável, que o telegrama discrimina com precisão. Depois, ...no fim, bem no fim, se cogita do essencial que é a influência cristã nos lugares santificados pela Vida, Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, nos lugares cuja conquista custou à Cristandade o sangue dos Cruzados.

O telegrama distingue entre os cristãos em geral, e os maronitas, isto é, os cristãos católicos do Rito Oriental. O mínimo do mínimo que se poderia esperar é que os cristãos, englobadamente, tivessem um regime análogo ao dos judeus. Não. Serão divididos. Os maronitas terão um "regime especial". "Especial" em quê? Não se sabe. Por que não dizer que será um regime igual ao dos judeus? Não se sabe. Os maronitas caminham, portanto, para um regime indefinido e que ainda não se quer definir. Terão certamente esse regime? Também não se sabe. Tê-lo-ão “se fosse necessário e requerido". O que faz supor que talvez não seja necessário ou que não o queiram. Necessário a juízo de quem? Dos árabes e judeus? Poderão não o requerer porque? Para fruir as delícias da servidão muçulmana? Ou porque esse regime talvez seja tal, que eles prefiram nada requerer? Por que não definir o regime dos maronitas? Por que não estender esse regime, pelo menos, aos outros católicos de outros ritos, nascidos no lugar? Mistérios, mistérios...

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"Jerusalém teria uma comissão especial, que representaria as três religiões..." Que "três religiões"? A católica, a protestante, a cismática? Ou os cristãos, os muçulmanos e os israelitas? E, neste último caso, quem representaria os cristãos? Algum homem de confiança de Stalin, nomeado arquimandrita de qualquer lugar, bom "meneur" bolchevista, ex-funcionário da propaganda dos "sem Deus"?

Nada disto se sabe. Só se sabe o que sucederá aos muçulmanos e judeus. Quanto aos cristãos, qualquer coisa chega, não é?

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Multiplicam-se as demissões no corpo diplomático junto ao Vaticano. Entre os diplomatas húngaros, rumenos, alemães, há descontentes, que querem aderir aos Aliados, com os quais estão muito contentes, desde que a vitória se inclinou para nosso lado. Por fim, até o próprio Horty está tentando uma reviravolta, e demitiu os ministros nazistas de seu governo. Mas agora é tarde para a penitência. Há três anos atrás, tudo isto teria sido muito nobre. Mas hoje parece-se tanto com oportunismo, que a serem tomadas com sinceridade, essas atitudes deveriam pelo menos ser menos espalhafatosas.


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