Enquanto prossegue a débâcle nazista, insistimos em
acentuar um aspecto importantíssimo das operações militares. Os nazistas, fiéis
como sempre à sua simpatia para com o comunismo, defendem muito mais a frente
oriental que a frente ocidental ou a frente sul. Daí uma série de
"triunfos" que para a galeria aumentam o prestígio soviético,
enquanto os bravos soldados anglo‑americanos vão avançando debaixo de
metralha autêntica, no norte da França ou no centro da
Itália.
O povo só mede as vitórias pela
extensão dos recuos. Ora, como na Itália e na França os recuos são sensíveis
mas concedidos passo a passo pelo adversário; como por outro lado na zona
oriental os recuos são verdadeiras debandadas, segue‑se daí que para os
"generais de mesa de café", os estrategistas
de praça pública, etc., as tropas russas se estão cobrindo de glórias muito
maiores.
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Também, em compensação, a Rússia tem lá suas
gentilezas. Por exemplo, ela está há tempo a dois passos da fronteira
germânica. Mas não a transpôs. Prefere brigar dentro da Polônia. Poderia haver mais gentil retribuição do totalitarismo
vermelho às "finesses"
do totalitarismo pardo?
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Mas o que, no momento, mais nos preocupa não é
isto. É o problema da luta interna na Alemanha. Quem dará o golpe interno para derrubar Hitler? Com quem tratarão os aliados? Se um grupo de nazistas
dissidentes resolver pedir a paz, tratar‑se‑á com eles? A nosso
ver, o problema é de uma importância fundamental, porque decidirá do destino da
Alemanha de amanhã. E, francamente, nossa tese é que não deve haver tratativas
de nenhuma espécie com colaboradores atuais ou antigos de Hitler.
O nazismo é uma erva daninha que renascerá com qualquer
semente.
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Certa imprensa insiste muito no papel dos junkers, isto é, da aristocracia rural luterana na Prússia, como potência decisiva e responsável por todos os malefícios
do nazismo.
Há nisto uma importante parte de verdade, mas muito
mais "camouflage".
Com efeito, os junkers têm grande culpa em
tudo quanto se passou. Mas muito pouco teriam eles conseguido se não fossem os
banqueiros e os industriais que deram o apoio financeiro ao nazismo. O que
representam os junkers? O Exército. Foi por meio do
Exército que o nazismo subiu? Sim, e não.
Sim, se nos lembrarmos de que qualquer oposição do
Exército seria suficiente para lhe deter a ascensão. Não, se considerarmos que
a opinião germânica em sua maioria votou a favor do nazismo, nos grandes
plebiscitos que deram ao Sr. Hitler a sua vitória.
Ora, como foram ganhos esse plebiscitos? Com o concurso de mil jornais,
estações, radio‑emissoras, e todos os meios de
uma propaganda fabulosamente dispendiosa. Como foram pagas todas estas
despesas? Com o magríssimo rendimento das terras extenuadas que os junkers possuem na Pomerânia? Nunca. Com o dinheiro de toda uma "clique" de banqueiros, financistas,
industriais, de alto bordo, que precisam ser apontados como os principais
responsáveis pelo nazismo.
E, conseqüência concretíssima:
que precisam ser apontados como homens com os quais também não se deve tratar.