Legionário, N.º 619, 18 de junho de 1944

7 DIAS EM REVISTA

Na imprensa diária, publicou-se esta semana a seguinte notícia:

"Estão sendo impressos na Casa da Moeda, devendo ser postos em circulação dentro de noventa dias, os selos comemorativos do Centenário da Associação Cristã de Moços. A emissão é de 1.000.000 de selos de Cr$0,40. Estes selos, de formato retangular, terão as cores azul, vermelho e amarelo. Na parte superior do selo aparece, em um quadrado branco, o emblema da Associação Cristã de Moços nas cores citadas".

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Estamos no mais formal desacordo com a idéia de se levantar um monumento ao zebu, tão larga e simpaticamente noticiada pela maior parte dos órgãos jornalísticos do país.

Levantar um monumento é glorificar. Glorificar é reconhecer superioridade. Logo, só se explicaria que homens levantassem um monumento ao zebu se o reconhecessem superior a si, se o colocassem na mesma plana que os grandes homens a que, segundo o costume universal, se erigem estátuas em praça pública.

Mas, dir-se-á, estamos levando muito ao trágico as coisas. O zebu é um mero símbolo. Exprime a riqueza da zona. Levanta-se um monumento não ao zebu, mas à riqueza que o zebu trouxe consigo.

Um monumento à riqueza? Que é isto? Um monumento ao dinheiro? Eleva-se um monumento ao dinheiro? Até aqui, levantava-se um monumento para homenagear homens, ou atributos do homem: a saber, o talento, a piedade, a virtude. Mas à riqueza? Quem jamais ergueu um monumento ao dinheiro? Os adoradores de Mamon, certamente. Mas nas eras da civilização cristã, quem? Quem teve esta ousadia?

Que se levantasse um monumento ao boiadeiro, ao criador, está bem. Seria a glorificação simbólica de um esforço honesto e fecundo. O zebu é um mero instrumento de riqueza, de produção. Teremos, amanhã, um monumento à picareta, outro à pá, construiremos na avenida Vieira de Carvalho um monumento ao bisturi do médico, e na praça Ramos de Azevedo um monumento ao ferrão do dentista? E onde se porá o monumento ao coveiro, afinal, tão útil quanto outro cidadão qualquer porque sem ele as cidades seriam inabitáveis? Se o autor dessas linhas fosse coveiro, e lhe oferecessem um monumento, ele o recusaria. Um monumento ao coveiro, ao lado de um monumento ao zebu, é uma injúria para o coveiro que é cristão, filho de Deus e criatura humana, o que por enquanto não se pretende que um zebu também seja. Que fazer? Se os criadores erigem um monumento ao bicho de que vivem, o coveiro tem o mesmo direito. De que bicho vive ele? A este bicho, construa-se um monumento.

Mas, dir-se-á, o zebu rende, é "construtivo". O bicho funerário, chamemo-lo assim, é "destrutivo", não rende. Logo, não merece um monumento. A tese é discutível. Em primeiro lugar, não é verdade que o bicho funerário não renda. Para o coveiro rende. Depois, esses bichos tornam fecunda a terra. Logo, erga-se pela lógica do zebu um monumento a esse bichinho funerário tão útil para fertilizar a terra. E, aliás, por analogia, a... tudo quanto torna a terra fértil.

Não é lógico?