Na imprensa diária, publicou-se esta semana a
seguinte notícia:
"Estão sendo impressos na Casa da Moeda, devendo ser postos em circulação dentro de noventa dias,
os selos comemorativos do Centenário da Associação
Cristã de Moços. A emissão é de 1.000.000 de selos de Cr$0,40. Estes
selos, de formato retangular, terão as cores azul, vermelho e amarelo. Na parte
superior do selo aparece, em um quadrado branco, o emblema da Associação Cristã de Moços nas cores
citadas".
* * *
Estamos no mais formal desacordo com a idéia de se
levantar um monumento ao zebu, tão larga e
simpaticamente noticiada pela maior parte dos órgãos jornalísticos do país.
Levantar um monumento é glorificar. Glorificar é
reconhecer superioridade. Logo, só se explicaria que homens levantassem um
monumento ao zebu se o reconhecessem superior a si,
se o colocassem na mesma plana que os grandes homens a que, segundo o costume
universal, se erigem estátuas em praça pública.
Mas, dir-se-á, estamos levando muito ao trágico as
coisas. O zebu é um mero símbolo. Exprime a riqueza
da zona. Levanta-se um monumento não ao zebu, mas à
riqueza que o zebu trouxe consigo.
Um monumento à riqueza? Que é isto? Um monumento ao
dinheiro? Eleva-se um monumento ao dinheiro? Até aqui, levantava-se um
monumento para homenagear homens, ou atributos do homem: a saber, o talento, a
piedade, a virtude. Mas à riqueza? Quem jamais ergueu um monumento ao dinheiro?
Os adoradores de Mamon, certamente. Mas nas eras da
civilização cristã, quem? Quem teve esta ousadia?
Que se levantasse um monumento ao boiadeiro, ao criador, está bem. Seria a glorificação
simbólica de um esforço honesto e fecundo. O zebu é
um mero instrumento de riqueza, de produção. Teremos, amanhã, um monumento à
picareta, outro à pá, construiremos na avenida Vieira de Carvalho um monumento
ao bisturi do médico, e na praça Ramos de Azevedo um monumento ao ferrão do
dentista? E onde se porá o monumento ao coveiro, afinal, tão útil quanto outro
cidadão qualquer porque sem ele as cidades seriam inabitáveis? Se o autor
dessas linhas fosse coveiro, e lhe oferecessem um monumento, ele o recusaria.
Um monumento ao coveiro, ao lado de um monumento ao zebu,
é uma injúria para o coveiro que é cristão, filho de Deus e criatura humana, o
que por enquanto não se pretende que um zebu também
seja. Que fazer? Se os criadores erigem um monumento ao bicho de que vivem, o
coveiro tem o mesmo direito. De que bicho vive ele? A este bicho, construa-se
um monumento.
Mas, dir-se-á, o zebu
rende, é "construtivo". O bicho funerário, chamemo-lo assim, é
"destrutivo", não rende. Logo, não merece um monumento. A tese é
discutível. Em primeiro lugar, não é verdade que o bicho funerário não renda.
Para o coveiro rende. Depois, esses bichos tornam fecunda a terra. Logo,
erga-se pela lógica do zebu um monumento a esse
bichinho funerário tão útil para fertilizar a terra. E, aliás, por analogia,
a... tudo quanto torna a terra fértil.
Não é lógico?