Publicamos hoje o texto integral da notável
alocução pronunciada pelo Santo Padre, em reunião do Sacro Colégio, dia 24 de
dezembro p. p. As agências telegráficas já haviam publicado um resumo sucinto
das palavras de Sua Santidade. Este resumo, entretanto, além de brevíssimo,
continha algumas imperfeições evidentes. Assim, a divulgação do texto completo
das palavras do Romano Pontífice conserva toda a sua oportunidade e interesse.
Em qualquer situação publicaríamos com filial
prazer as palavras do Vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo. Agora, fazemo-lo
com sentimentos impregnados de um fervor todo especial. Sofre o Pai Comum da
Cristandade: com Ele devem sofrer seus filhos. E, neste momento de angústia, suas
palavras tem para nós um significado todo particular. Recebemo-las como um
presente que a Providência nos envia, e que pelos cuidados da Providência
transpôs montes e vales, rios e mares, para chegar até nós através das maiores
dificuldades. Nos momentos de dor, estas palavras de um Pai sempre amado com
todas as fibras do coração, e que nos fala tão de longe, não podem deixar de
nos comover a fundo.
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E, já que tratamos do Santo Padre, para que se meça
bem a dificuldade de sua situação, transcrevemos o seguinte telegrama da
Agência Reuters:
"BERNA, 3 - A rádio Vaticano comentando hoje a
informação segundo a qual os beligerantes concordaram em que o correio do
Vaticano cruzasse a linha de
batalha da Itália, pela primeira vez desde que a península se transformou
em teatro de guerra, declarou o seguinte: "Procurando obter informações
sobre o assunto, apuramos que não somente a notícia não tinha fundamento, mas
ainda que a verdade era muito diferente. De fato, a despeito de todos os seus
esforços, a Santa Sé até agora não foi bem sucedida nos seus esforços para
obter comunicações diretas com o Episcopado da Itália Meridional ou da Itália
Insular. Isto não pode deixar de criar dificuldades para o exercício do poder
espiritual da própria Santa Sé".
* * *
Existe na vizinha localidade de Santo Amaro o piedoso e
antiquíssimo costume de se organizar uma romaria a cavalo até Pirapora, em louvor da Imagem do Senhor Bom Jesus que ali se
encontra, e à qual nosso povo tributa tão delicada e respeitosa devoção. Este
ano, a piedosa cavalgada se organizou para implorar a Nosso Senhor a paz do
mundo, a verdadeira paz que é a paz desejada por Pio XII, a paz fruto da justiça, fruto de uma justiça plena e
completa, na qual antes de tudo se "dê a Deus o que é de Deus", e se
reconheça à Santa Igreja Católica a posição que deve ter no mundo
contemporâneo.
À partida da romaria, pronunciou bela oração o Revmo. Pe. Benigno de Brito, Vigário de Santo Amaro, que deu a benção aos romeiros.
Agrada-nos a sobrevivência dessa bela tradição de
nosso povo, impregnada de tanto espírito genuinamente católico e brasileiro, e
assinalada este ano por um caráter todo especial, dada a situação em que se
encontra o Santo Padre Pio XII.
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Uma notícia telegráfica desta semana informou que o
"camarada" Stalin recebeu em
audiência um Sacerdote polonês, que dela se retirou muito satisfeito.
Satisfeito como Sacerdote? Satisfeito como Polonês? Satisfeito com razão? Sem
razão? Foi iludido? Não? Mistérios. Mas esta notícia, atirada assim aos quatro
ventos, dá a todos a impressão de que se está delineando uma aproximação entre
o Catolicismo e o comunismo. Esta interpretação da notícia é errada. Expliquemos
porque.
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Abstração feita da conduta do governo soviético
para com a religião, o comunismo é condenado pela Igreja como regime de
organização social e econômica fundamentalmente contrário às Leis do Decálogo e
portanto do Direito Natural. Todo católico tem de ser um adversário resoluto do
regime comunista. Por isto, todo apostolado católico, implícita ou
explicitamente, conscientemente ou não, é de fato,
por essência, por excelência, uma ação cujo êxito trará como conseqüência a
ruína do comunismo.
Ora, é muito positivo que o "camarada" Stalin não deseja a ruína do comunismo, e que ele conhece,
melhor do que muitos católicos, a incompatibilidade de seu regime com a
imutável doutrina da Igreja. Assim, é para ele uma necessidade vital combater
de todos os modos a expansão católica.
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Por isto, a política anti-religiosa do comunismo
não é uma manifestação de ignorância, de mau humor, de incompreensão. Ela não é
um "equívoco". Ela é, pelo contrário, muito razoável, muito
explicável, tão imutável quanto é imutável a condenação que a Igreja lançou
contra o comunismo.
É possível que por motivo estratégico, e sobretudo
para efeito de propaganda - no exterior - o comunismo tente simular uma
política de aproximação com a Igreja. É possível que a Igreja aproveite a
fresta que assim se lhe abre, para espargir a boa semente na pobre Rússia, que Ela tanto ama. É possível que o Vaticano faça uma
concordata com o "camarada" Stalin para
regulamentar a situação legal dos católicos russos. Tudo isto é possível e até
provável. Nem por isto o regime comunista deixará de ser condenado pela Igreja,
e em todos os púlpitos da Rússia - púlpitos católicos, já se vê - se deixará de
pregar sobre o Mandamento fundamental que o comunismo viola: "Não
roubarás". Nada disto pode significar, de perto ou de longe, a
possibilidade de uma mudança da atitude da Igreja quanto ao comunismo.
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E, por isto mesmo, os católicos devem estar de
atalaia. Hoje, o interesse supremo da humanidade consiste na destruição da
hidra nazista, a maior inimiga da Igreja em nosso século. Logo depois, haverá
outra hidra a destruir: a cabeça desta hidra está em Moscou. Será necessário que a humanidade, vencida esta guerra
contra um adversário tão terrível que até o comunismo serve de aliado contra
ele, se volte contra o marxismo para o extirpar de vez.