Legionário, N.º 613, 7 de maio de 1944

7 DIAS EM REVISTA

Publicamos hoje o texto integral da notável alocução pronunciada pelo Santo Padre, em reunião do Sacro Colégio, dia 24 de dezembro p. p. As agências telegráficas já haviam publicado um resumo sucinto das palavras de Sua Santidade. Este resumo, entretanto, além de brevíssimo, continha algumas imperfeições evidentes. Assim, a divulgação do texto completo das palavras do Romano Pontífice conserva toda a sua oportunidade e interesse.

Em qualquer situação publicaríamos com filial prazer as palavras do Vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo. Agora, fazemo-lo com sentimentos impregnados de um fervor todo especial. Sofre o Pai Comum da Cristandade: com Ele devem sofrer seus filhos. E, neste momento de angústia, suas palavras tem para nós um significado todo particular. Recebemo-las como um presente que a Providência nos envia, e que pelos cuidados da Providência transpôs montes e vales, rios e mares, para chegar até nós através das maiores dificuldades. Nos momentos de dor, estas palavras de um Pai sempre amado com todas as fibras do coração, e que nos fala tão de longe, não podem deixar de nos comover a fundo.

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E, já que tratamos do Santo Padre, para que se meça bem a dificuldade de sua situação, transcrevemos o seguinte telegrama da Agência Reuters:

"BERNA, 3 - A rádio Vaticano comentando hoje a informação segundo a qual os beligerantes concordaram em que o correio do Vaticano cruzasse a linha de batalha da Itália, pela primeira vez desde que a península se transformou em teatro de guerra, declarou o seguinte: "Procurando obter informações sobre o assunto, apuramos que não somente a notícia não tinha fundamento, mas ainda que a verdade era muito diferente. De fato, a despeito de todos os seus esforços, a Santa Sé até agora não foi bem sucedida nos seus esforços para obter comunicações diretas com o Episcopado da Itália Meridional ou da Itália Insular. Isto não pode deixar de criar dificuldades para o exercício do poder espiritual da própria Santa Sé".

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Existe na vizinha localidade de Santo Amaro o piedoso e antiquíssimo costume de se organizar uma romaria a cavalo até Pirapora, em louvor da Imagem do Senhor Bom Jesus que ali se encontra, e à qual nosso povo tributa tão delicada e respeitosa devoção. Este ano, a piedosa cavalgada se organizou para implorar a Nosso Senhor a paz do mundo, a verdadeira paz que é a paz desejada por Pio XII, a paz fruto da justiça, fruto de uma justiça plena e completa, na qual antes de tudo se "dê a Deus o que é de Deus", e se reconheça à Santa Igreja Católica a posição que deve ter no mundo contemporâneo.

À partida da romaria, pronunciou bela oração o Revmo. Pe. Benigno de Brito, Vigário de Santo Amaro, que deu a benção aos romeiros.

Agrada-nos a sobrevivência dessa bela tradição de nosso povo, impregnada de tanto espírito genuinamente católico e brasileiro, e assinalada este ano por um caráter todo especial, dada a situação em que se encontra o Santo Padre Pio XII.

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Uma notícia telegráfica desta semana informou que o "camarada" Stalin recebeu em audiência um Sacerdote polonês, que dela se retirou muito satisfeito. Satisfeito como Sacerdote? Satisfeito como Polonês? Satisfeito com razão? Sem razão? Foi iludido? Não? Mistérios. Mas esta notícia, atirada assim aos quatro ventos, dá a todos a impressão de que se está delineando uma aproximação entre o Catolicismo e o comunismo. Esta interpretação da notícia é errada. Expliquemos porque.

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Abstração feita da conduta do governo soviético para com a religião, o comunismo é condenado pela Igreja como regime de organização social e econômica fundamentalmente contrário às Leis do Decálogo e portanto do Direito Natural. Todo católico tem de ser um adversário resoluto do regime comunista. Por isto, todo apostolado católico, implícita ou explicitamente, conscientemente ou não, é de fato, por essência, por excelência, uma ação cujo êxito trará como conseqüência a ruína do comunismo.

Ora, é muito positivo que o "camarada" Stalin não deseja a ruína do comunismo, e que ele conhece, melhor do que muitos católicos, a incompatibilidade de seu regime com a imutável doutrina da Igreja. Assim, é para ele uma necessidade vital combater de todos os modos a expansão católica.

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Por isto, a política anti-religiosa do comunismo não é uma manifestação de ignorância, de mau humor, de incompreensão. Ela não é um "equívoco". Ela é, pelo contrário, muito razoável, muito explicável, tão imutável quanto é imutável a condenação que a Igreja lançou contra o comunismo.

É possível que por motivo estratégico, e sobretudo para efeito de propaganda - no exterior - o comunismo tente simular uma política de aproximação com a Igreja. É possível que a Igreja aproveite a fresta que assim se lhe abre, para espargir a boa semente na pobre Rússia, que Ela tanto ama. É possível que o Vaticano faça uma concordata com o "camarada" Stalin para regulamentar a situação legal dos católicos russos. Tudo isto é possível e até provável. Nem por isto o regime comunista deixará de ser condenado pela Igreja, e em todos os púlpitos da Rússia - púlpitos católicos, já se vê - se deixará de pregar sobre o Mandamento fundamental que o comunismo viola: "Não roubarás". Nada disto pode significar, de perto ou de longe, a possibilidade de uma mudança da atitude da Igreja quanto ao comunismo.

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E, por isto mesmo, os católicos devem estar de atalaia. Hoje, o interesse supremo da humanidade consiste na destruição da hidra nazista, a maior inimiga da Igreja em nosso século. Logo depois, haverá outra hidra a destruir: a cabeça desta hidra está em Moscou. Será necessário que a humanidade, vencida esta guerra contra um adversário tão terrível que até o comunismo serve de aliado contra ele, se volte contra o marxismo para o extirpar de vez.