Em resposta ao telegrama enviado por esta folha a
S. Excia. Revma. o Sr. D.
Jaime de Barros Câmara, Arcebispo Metropolitano do Rio de Janeiro
por motivo da publicação da bela circular em que o eminente Prelado protesta
contra o bombardeio de Roma, recebemos o seguinte cartão:
"Ao prezado Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, com afetuosa benção. Dom Jayme
de Barros Câmara, Arcebispo do Rio de Janeiro,
agradece as felicitações pela circular nº 5 deste
Arcebispado. Queira Deus modificar quanto antes a triste posição da Santa
Sé".
São esses os votos ardentes e incessantes de todos
os verdadeiros católicos, que dedicam ao Santo Padre uma veneração e um amor
sem reservas nem condições.
* * *
É precisamente este o momento escolhido por um Dr. Henri Towneend, recentemente eleito "Moderador do Conselho da
Igreja Livre" na Inglaterra, para proferir violento discurso em que acusa
a Santa Sé de pactuar com o nazismo e o fascismo.
A nota característica do protestantismo, o que constitui propriamente o substractum de seu espírito, é a
contradição. O protestantismo é uma heresia que se estabelece no homem sobre os
escombros do princípio da contradição, em conseqüência do qual uma coisa não
pode ao mesmo tempo ser e não ser. E, por isto, não há contradições que
incomodem o protestante típico. Principalmente quando o cega o furor anti-católico - este furor é outra nota de genuíno espírito
protestante - ele é capaz dos maiores disparates.
Só um espírito inteiramente obnubilado
pela paixão pode ignorar que os nazistas não seriam eles mesmos, não seriam os
monstros de torpeza e brutalidade que são, se não aproveitassem a ocupação de
Roma para exercer sobre o Vaticano a maior pressão moral no sentido de obter
uma atitude de qualquer maneira favorável aos seus interesses. Entretanto o
Santo Padre continua sobranceiro a tudo isto, conservando em todas as suas
palavras e gestos absolutamente intacta a atitude de Pio XI contra o
totalitarismo, delineada pelas Encíclicas "Non Abbiamo Bisogno" e "Mit Brennender Sorge". Do Norte da Itália, os
órgãos do Sr. Mussolini rugem contra o
Papa. E diante de tudo isto ainda há um Sr. Towneend
que acha que a Santa Sé pende para o nazismo...
Isto é bem protestante, isto é, bem rancoroso e bem
incongruente...
Ora, ao que parece, esse órgão é muito importante.
Precisamente na mesma semana, e ao que parece no mesmo dia, perante esse mesmo
Conselho o Sr. Antony Eden, Ministro do Exterior pronunciou importante discurso
político. Isto prova que o órgão em apreço exerce influência muito ponderável
sobre o protestantismo britânico e representa toda uma tendência dos
protestantes em nossos dias.
Acentuamos este fato, porque certa imprensa,
secundada infelizmente pela ingenuidade de certos meios católicos, timbra em
promover uma política de inter-confessionalismo que
se exprime de mil modos diversa. No momento, temos sobre a mesa uma fotografia
representando os capelães católicos, protestante e judeu dos EE.UU. e a notícia que
comenta a fotografia traz logo de início esta frase: "Um é protestante,
outro católico e o terceiro judeu. Não importa. São todos capelães da marinha
norte-americana e no serviço a Deus nenhuma diferença religiosa os
separa". Esta é boa. Um afirma que Cristo não é Deus. Outro afirma que a
Igreja de Deus é falsa. E os católicos hão de achar que nenhuma diferença
existe entre eles... no serviço de Deus! Esta frase é um escárneo,
uma derrisão, uma injúria. Eqüivale em afirmar - tese condenada pela Igreja -
que "toda as religiões são boas".
* * *
E já que tratamos de colaboracionismo
entre católicos e hereges, terminemos estas notas com uma observação: um
telegrama vindo da Itália anuncia que os
líderes católicos e comunistas, reunidos em Salerno, resolveram trabalhar de comum acordo em tudo quanto diga
respeito a questões de trabalho. Outro absurdo! Se as soluções que uns e outros
dão a todos os problemas referentes ao trabalho são diametralmente opostas,
como podem colaborar? Esta política de colaboração ideológica e social com o
comunismo, muito diversa da colaboração na política internacional, já foi explícita
e oficialmente condenada pela Santa Sé, e provavelmente a notícia é falsa,
tendo sido divulgada apenas para semear confusão.