Legionário, N.º 608, 2 de abril de 1944

7 DIAS EM REVISTA

Em resposta ao telegrama enviado por esta folha a S. Excia. Revma. o Sr. D. Jaime de Barros Câmara, Arcebispo Metropolitano do Rio de Janeiro por motivo da publicação da bela circular em que o eminente Prelado protesta contra o bombardeio de Roma, recebemos o seguinte cartão:

"Ao prezado Dr. Plinio Corrêa de Oliveira, com afetuosa benção. Dom Jayme de Barros Câmara, Arcebispo do Rio de Janeiro, agradece as felicitações pela circular 5 deste Arcebispado. Queira Deus modificar quanto antes a triste posição da Santa Sé".

São esses os votos ardentes e incessantes de todos os verdadeiros católicos, que dedicam ao Santo Padre uma veneração e um amor sem reservas nem condições.

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É precisamente este o momento escolhido por um Dr. Henri Towneend, recentemente eleito "Moderador do Conselho da Igreja Livre" na Inglaterra, para proferir violento discurso em que acusa a Santa Sé de pactuar com o nazismo e o fascismo.

A nota característica do protestantismo, o que constitui propriamente o substractum de seu espírito, é a contradição. O protestantismo é uma heresia que se estabelece no homem sobre os escombros do princípio da contradição, em conseqüência do qual uma coisa não pode ao mesmo tempo ser e não ser. E, por isto, não há contradições que incomodem o protestante típico. Principalmente quando o cega o furor anti-católico - este furor é outra nota de genuíno espírito protestante - ele é capaz dos maiores disparates.

Só um espírito inteiramente obnubilado pela paixão pode ignorar que os nazistas não seriam eles mesmos, não seriam os monstros de torpeza e brutalidade que são, se não aproveitassem a ocupação de Roma para exercer sobre o Vaticano a maior pressão moral no sentido de obter uma atitude de qualquer maneira favorável aos seus interesses. Entretanto o Santo Padre continua sobranceiro a tudo isto, conservando em todas as suas palavras e gestos absolutamente intacta a atitude de Pio XI contra o totalitarismo, delineada pelas Encíclicas "Non Abbiamo Bisogno" e "Mit Brennender Sorge". Do Norte da Itália, os órgãos do Sr. Mussolini rugem contra o Papa. E diante de tudo isto ainda há um Sr. Towneend que acha que a Santa Sé pende para o nazismo...

Isto é bem protestante, isto é, bem rancoroso e bem incongruente...

Ora, ao que parece, esse órgão é muito importante. Precisamente na mesma semana, e ao que parece no mesmo dia, perante esse mesmo Conselho o Sr. Antony Eden, Ministro do Exterior pronunciou importante discurso político. Isto prova que o órgão em apreço exerce influência muito ponderável sobre o protestantismo britânico e representa toda uma tendência dos protestantes em nossos dias.

Acentuamos este fato, porque certa imprensa, secundada infelizmente pela ingenuidade de certos meios católicos, timbra em promover uma política de inter-confessionalismo que se exprime de mil modos diversa. No momento, temos sobre a mesa uma fotografia representando os capelães católicos, protestante e judeu dos EE.UU. e a notícia que comenta a fotografia traz logo de início esta frase: "Um é protestante, outro católico e o terceiro judeu. Não importa. São todos capelães da marinha norte-americana e no serviço a Deus nenhuma diferença religiosa os separa". Esta é boa. Um afirma que Cristo não é Deus. Outro afirma que a Igreja de Deus é falsa. E os católicos hão de achar que nenhuma diferença existe entre eles... no serviço de Deus! Esta frase é um escárneo, uma derrisão, uma injúria. Eqüivale em afirmar - tese condenada pela Igreja - que "toda as religiões são boas".

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E já que tratamos de colaboracionismo entre católicos e hereges, terminemos estas notas com uma observação: um telegrama vindo da Itália anuncia que os líderes católicos e comunistas, reunidos em Salerno, resolveram trabalhar de comum acordo em tudo quanto diga respeito a questões de trabalho. Outro absurdo! Se as soluções que uns e outros dão a todos os problemas referentes ao trabalho são diametralmente opostas, como podem colaborar? Esta política de colaboração ideológica e social com o comunismo, muito diversa da colaboração na política internacional, já foi explícita e oficialmente condenada pela Santa Sé, e provavelmente a notícia é falsa, tendo sido divulgada apenas para semear confusão.