Nossa edição de domingo p.p., em que publicamos a
resposta do Revmo. Sr. Pe. Arlindo
Vieira, S.J. à carta do Sr. Jacques Maritain, esgotou-se completamente, pelo que, atendendo a
sugestões que nos foram feitas por muitas pessoas, publicamos novamente aquele
trabalho em nossa edição de hoje, bem como o texto da carta do Sr. Jacques Maritain, seguido de
alguns comentários elaborados por esta redação.
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A polícia do Sr. Benito Mussolini, acompanhada de forças nazistas, violou o território
papal. A este propósito, a emissora pontifícia irradiou o seguinte comunicado,
reproduzido na imprensa suíça:
"Na noite de 3 para 4 do corrente, guardas
armados, que foram reconhecidos como pertencentes à Polícia Republicana, comandados por Petro Caruso, penetraram na Basílica de São Paulo, violando desta maneira os direitos de extra-territorialidade estabelecidos por meio de um solene
tratado. As autoridades do Vaticano, depois de informadas sobre este ato,
dirigiram-se imediatamente à Basílica de S. Paulo, onde estabeleceram contato
com Pietro Caruso,
apresentando seu formal protesto. A Santa Sé torna pública a
expressão de seu profundo desgosto em face dos acontecimentos."
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Se essa notícia é triste, temos em compensação uma
notícia auspiciosa a divulgar, ou, antes, a confirmar. Despachos da agência “Reuters” recebidos na semana passada reafirmam o propósito
Aliado de poupar a todo custo a histórica abadia beneditina de Monte Cassino, que constitui nas tradições da Ordem de S. Bento e de toda a cultura
ocidental um monumento de inconfundível significação. Se bem que os nazistas
tivessem estabelecido naquele local um posto de observação cuja destruição
muito interessava aos Aliados, o comando das forças anglo-americanas deliberou
não bombardear o glorioso e santo monumento, arcando embora com os
inconvenientes militares que daí decorriam. E já agora parece que o curso dos
acontecimentos colocou Monte Cassino fora de qualquer nova possibilidade de
dano ou destruição.
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Devemos recolher com o religioso respeito com que
guardaríamos uma página das acta martirum todas as notícias que relatam a resistência
dos católicos contra a barbárie totalitária. Com efeito, tudo quanto tenhamos
feito em qualquer parte do mundo para debelar o terrível surto de neo-paganismo que nos ameaçou, o abominável perigo da
"idolatria do Estado", que esteve prestes a se assenhorear do mundo,
não é senão a continuação histórica do que fizeram nos dias de São (corte de
uma frase) perseguidos pelo paganismo dos Césares.
Assim, de um artigo publicado no "Estado de S.
Paulo" pelo Conde de Bennigsen, recortamos, comovidos, essas notícias que se somarão ao
muito que o LEGIONÁRIO tem publicado sobre a luta dos católicos contemporâneos
contra o totalitarismo.
“Mas, é ainda mais interessante o papel da Igreja
Católica na Bélgica. O Cardeal Van Roye exprimiu-se
abertamente contra as teorias nazistas e contra uma das instituições principais
da propaganda alemã - os campos de
trabalho para a juventude. Não teve medo também de falar em prol da Bélgica
livre. A Igreja não tolera nos seus recintos sagrados as manifestações
organizadas por legionários pró-alemães fardados.
Assim, em alguns casos padres católicos recusaram-se a dizer missas fúnebres
para legionários em presença dos seus colegas fardados. Porém, ainda mais
característico foi um incidente com Degrelle, que se apresentou fardado na Igreja de Bouillon. Quando chegou a hora da comunhão, o padre Pencellet(?) passou diante de Degrelle sem lhe dar a Hóstia. Degrelle
protestou, e não lhe tendo o Padre dado atenção, pegou-o pelo ombro e disse: Eu
ou ninguém”. Depois disso, fez o padre depositar a espátula no altar, e disse-o
o jornal nazista “Le Pays Réel”: “obrigou-o a atravessar o coro e com um violento murro,
botou-o fora da própria igreja”. Por este ato Degrelle
foi excomungado pelo Bispo de Namur.
"Mais trágica ainda foi a sorte dos Padres Salmon, Debacker, Necker e Padre Cordelier, com 69 anos de idade, foi fuzilado ultimamente depois
dos Padres Salmon, Debacker,
Necker e Firket. Ele foi acusado de ter dado refúgio a aviadores ingleses
e de tê-los ajudado a fugir. Um pouco mais tarde foram fuzilados os Padres Peters e Dessirant, detidos desde 1942. Acusados de participação nas
organizações secretas, recusaram revelar os nomes dos seus colegas-patriotas.
Quando foram trazidos diante do pelotão de execução morreram heroicamente,
entoando o “Te Deum”.
Todos esses exemplos provam que a Igreja continua
sem desfalecimento na oposição ao regime dos invasores mas todo o povo está
também ao seu lado nessa luta pouco espetacular, mas sem tréguas, e podemos
afirmar que os belgas não perderam sua alma e esperam com impaciência a hora da
abertura da segunda frente, para poderem, ao lado dos seus libertadores,
recuperar a sua independência.”
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Cumpre reconhecer,
entretanto, que o único paganismo de nossos dias não é o político ou
estritamente cultural. Há um paganismo que não procura atrair adeptos com o
misticismo delirante dos novos adoradores do sol, nem procura intimidar os
adversários com a catadura sombria dos soldados nazistas, e nem faz suas
conquistas com a efusão do sangue nos campos de batalha. Pelo contrário, ele se
apresenta risonho, afável, atraente, inócuo. Se não faz delirar as almas com
nenhum falso misticismo, sabe instilar nelas emolientes irremediáveis, sabe
regalá-las com torpores tóxicos deliciosos mas quase invencível ao cabo de
certo tempo. Ele não prostra ao chão os corpos dizimados pela metralha:
estira-os deliciosamente na areia branca e fofa das praias, horas inteiras, na
euforia de um contato direto com a natureza marítima, na expansão de toda a
alegria suscitada pelos panoramas da manhã e do meio dia no maravilhoso litoral
brasileiro, na exaltação indefinida de todos os desregramentos morais e psico-físicos. É o paganismo nudista das praias. Também
este merece ser combatido e com que vigor!
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Por isto mesmo, soubemos com verdadeiro entusiasmo
do ardente empenho manifestado desde os primeiros dias de seu governo episcopal
no Rio de Janeiro, pelo Exmo. Revmo.
Sr. D. Jaime de Barros Câmara, no sentido de moralizar as praias da Capital
do País.
Quiçá pela alta influência de S. Excia. Revma. que em suas
alocuções e nos colóquios particulares não tem cessado de recomendar o recato e
a pureza nos hábitos balneários, a polícia da Guanabara começou a reprimir
severamente abusos que neste sentido se verificavam. Proíbe-se, hoje, que os
banhistas se dirijam as praias somente de mailot, primeiro passo, sem
dúvida, para medidas mais enérgicas nas próprias praias.
Ao mesmo tempo, a imprensa do Rio de Janeiro começa a se
movimentar contra a imoralidade dos trajes balneários, criando, tudo, um
ambiente de salubre reação, do qual muito devemos esperar.
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Com efeito, a reação precisa de ser prudente, deve
andar passo a passo, mas não pode parar. Não compreendemos que se reprima tão
somente a imoralidade dos trajes usados pelos que transitam pelas ruas em
demanda do mar e não também a imoralidade dos trajes que, despida a
indumentária, os banhistas ostentam nas próprias praias.
Não se pode imaginar que as maravilhosas praias
brasileiras tenham sido dadas por Deus a nosso país, não como um benefício, um
ornamento, um meio de compreendermos Sua Bondade e Onipotência, Sua Perfeição e
Santidade infinitas, mas como uma zona de extra-territorialidade
na qual se pode ofender a Deus sem receio de sanção.
* * *
A este propósito, um matutino carioca publicou uma
reflexão ousada mas significativa. Trata-se de uma nota do "Correio da
Manhã" de 25 pp. que, referindo as providências da polícia para sanear
certas zonas da capital carioca, teve a seguinte reflexão: do que adianta
sanear algumas zonas e permitir que a corrupção das praias vá aumentando cada
vez mais o número de pessoas que se destinam as zonas "insanáveis"?
E, com efeito, que argumento poderia ser mais irrespondível?
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No fundo está nisto o ilogicismo
dos partidários do divórcio a vínculo.
Permite-se tudo quanto possa debilitar a instituição do casamento. Depois,
alega-se que o divórcio é o único remédio para a situação. Permite-se que a
imoralidade se implante nos costumes, e como remédio se propõe que ela seja
transplantada para as leis. É pela repressão desses abusos e não pela
implantação do divórcio que se corrigem tristíssimos fatos como este, que o
Diário de Notícias do Rio publicou no dia 30 p.p.:
"A Corregedoria da
Justiça organizou uma estatística sobre os trabalhos nas Varas de Família,
apurando que entre 1942 e 1943, os casamentos nesta capital, em confronto com
os anos anteriores, sofreram grande redução, isto é, 760 casamentos a menos.
Entretanto o número de desquites amigáveis
aumentou, sendo 357 em 1943 e 282 em 1942.
Quanto aos desquites litigiosos, em 1942 foram
concedidos 173 e no ano passado 111.
Os casamentos anulados, em 1943 atingiram a 25 e no
ano passado, a 11."