À medida que as operações militares para a
liberdade da Itália se desenvolvem, a infeliz península vai sofrendo as
conseqüências da política desastrada de Mussolini, abrindo as fronteiras de sua pátria para a invasão
nazista.
Em todas as calamidades coletivas sofrem
indistintamente os justos e os culpados. O Vaticano sempre representou
na Itália o centro da resistência moral e ideológica ao
totalitarismo dos "camisas pretas" e dos "camisas pardas".
É por excelência o adversário do nazismo neo-pagão, a
substância e a síntese de tudo quanto Hitler e seu bando de
aventureiros, Mussolini e seu bando de charlatães
odeiam. Tudo isso não obstante, o Vaticano começa a sofrer os riscos de um
"golpe de mão" de procedência nazi-fascista,
à medida que as tropas aliadas se aproximam da Cidade Eterna para dela enxotar
seus indesejáveis ocupantes.
* * *
Julgamos quase impossível um putsch nazista em grande estilo
clássico, com as legiões pardas marchando pela cidade em demanda do Vaticano,
seguidas de carro de assalto, e de todo o aparato próprio a tais lances. O
nazismo, e sobretudo seus
ocultos empreiteiros, têm demais sagacidade para agir de modo tão desmascarado
e estúpido.
Mas infelizmente é muito menos impossível que, no
tumulto dos dias de cerco, por entre arruaças populares fáceis de provocar com
o auxílio de agitadores, dada a indignação dos romanos contra os nazistas, e a
carência de víveres de que padece a cidade, no tumulto desses dias, dizíamos, é
muito menos impossível que um bando de mercenários disfarçados em pessoas do
povo, e largamente pagos, tente contra o Vaticano e contra a pessoa sagrada do
Vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo um crime que será o maior da História,
desde o tempo em que os sucessores de São Pedro morriam nas arenas dos Césares.
Não é em vão que o Santo Padre tem aumentado de
tal maneira os efetivos das tropas papais, e modernizado seu armamento. Se o
Sumo Pontífice tomou providências de defesa, é porque há um risco de ataque. A
possibilidade desse risco, infelizmente, não é senão por demais evidente.
Depois de consumado o crime, ninguém saberia quem o
praticou. "Foram aventureiros sequiosos de roubar os tesouros do
Vaticano" e estaria tudo dito.
* * *
À distância, dispomos de muito pouco elemento para
julgar uma situação tão complexa quanto a que se criou na zona romana com o
desenvolvimento das operações de guerra nas cercanias da Cidade Sagrada.
Feita esta ressalva, achamos que, se a hipótese que
acabamos de ventilar é bastante plausível para que rezemos, ofereçamos esmolas
e expiações ininterruptas para que ela não se verifique, está entretanto, muito
longe de ser a mais provável das conjecturas que se abrem nos horizontes
políticos a respeito do destino de Roma.
Quando se ama muito a alguém, o risco mais remoto
de um grave dano para essa pessoa leva-nos a providenciar com suma diligência
para que o dano não ocorra. O Sumo Pontífice é nosso Pai. Amamo-lo como só à
Igreja se ama. Por mais remoto que seja, o risco é grave. Como tal, merece o
empenho de todos os nossos esforços junto a Deus, para que se obvie o mal.
Nem por isto devemos deixar de reconhecer que ele é
pouco provável. A nosso ver, o Vaticano nada sofrerá. Hitler
é mesmo capaz de determinar o abandono da Cidade Eterna sem combate, para se
enfeitar com o gesto diante de todo o mundo. E há até um indício muito sensível
disto. É que toda a legação nipônica acreditada junto ao Santo Padre se
recolheu no Vaticano. Por que? Na hipótese de grandes distúrbios na cidade? Mas
lá estão as tropas nazistas para garantir a legação japonesa, sua amiga. Na
hipótese de bombardeios? Quem não vê que é improvável que eles ocorram em
grande estilo como os de Londres? A ocupação repentina da cidade pelos aliados
é o que melhor explica a atitude dos diplomatas nipônicos.
* * *
No momento em que escrevemos, a Cristandade sente
um alívio. Foi poupada Monte Cassino, o famoso santuário beneditino com sua histórica e
gloriosa Abadia caput et mater de
todos os mosteiros beneditinos do mundo.
Infelizmente, algumas bombas de procedência
ignoradas atingiram Castel Gandolfo, residência de verão dos Pontífices Romanos, e parte
integrante do Estado Pontifício.
Heranças da política exterior do Sr. Benito Mussolini.
* * *
Não recebemos de boa mente o gesto da URSS, alterando a estrutura da federação das repúblicas
soviéticas de que se constitui, no sentido de atribuir a cada uma das unidades
maior autonomia.
É um golpe de prestidigitação como outro qualquer,
como foi por exemplo a dissolução da III Internacional.
Com efeito, ninguém
pode admitir que essas repúblicas soviéticas, que só existiram até aqui no
papel e que não tem passado de dóceis províncias no inferno "staliniano", venham a ter daqui para o futuro
liberdade maior. Qualquer que seja a lei que neste sentido se promulgue, a
realidade política continuará a mesma: o Partido Comunista continuará a nomear
os dirigentes de todas essas repúblicas, e só indicará para tais cargos agentes
docílimos do "camarada" Stalin.
Qual a razão dessa farsa federativa agora ensaiada?
Muito simples. Incorporar outras "repúblicas independentes"
soviéticas a serem ulteriormente criadas à "comomwealth"
bolchevista. Que tremam a Estônia, a Lituânia, e toda a Europa Central!
* * *
Deixamos para nosso próximo número qualquer comentário
acerca do recente discurso do Sr. Adolph Hitler. Mas não querermos deixar de publicar nesta seção o
seguinte telegrama, sumamente significativo da influência que a política
nazista ainda possui na península ibérica:
WASHINGTON, 28 (R) - O Departamento de Estado
anunciou que o carregamento dos navios tanques espanhóis com produtos
petrolíferos dos Estados Unidos para a Espanha foi suspenso.
Diz a declaração do Departamento de Estado:
"Essa medida foi tomada em virtude da
orientação que toma a política espanhola. O governo espanhol mostrou claramente
a sua relutância em satisfazer os pedidos razoáveis e importantes feitos por
este departamento ao governo espanhol e há já algum tempo.
Alguns navios mercantes e belonaves
italianos continuam internados nos portos espanhóis. A Espanha continua a
permitir a exportação para a Alemanha de certos materiais
vitais para a guerra, tais como o volfrâmio. Os agentes do "eixo"
continuam muito ativos tanto na Espanha metropolitana como nos territórios
espanhóis da África e em Tanger. Alguns membros da "Divisão Azul" parecem estar
ainda envolvidos na guerra contra um dos nossos maiores aliados e notícias
recentemente recebidas informam ter sido concluído um acordo financeiro entre o
governo espanhol e a Alemanha, destinado a tornar valiosos para aquela nação
créditos substanciais em pesetas, os quais a Alemanha inquestionavelmente
espera aplicar no momento da espionagem e sabotagem no território espanhol e
intensificar a oposição contra nós na península ibérica."
A declaração acrescenta:
"Esta ação foi levada a termo depois de
prévias consultas com o governo britânico".