Legionário, N.º 595, 1º de janeiro de 1944

7 DIAS EM REVISTA

Em outro local desta Folha publicamos a magnífica alocução do Santo Padre, infelizmente truncada em alguns de seus pontos essenciais por defeito da transmissão telegráfica, mas que, a despeito disso, será lida com imenso proveito pelos católicos do Brasil.

Muito particularmente, chamamos a atenção para o acento de indisfarçável aflição, que se nota nas palavras do Pai comum dos fiéis. Vê-se claramente que uma coroa de espinhos circunda o coração do Sumo Pontífice. O Papa sofre intensamente: a decadência moral do mundo, o prolongamento das hostilidades, os problemas do post-guerra são por ele tratados com evangélico desassombro mas com uma tristeza que se depreende de cada uma de suas palavras.

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Fazemos esta observação com um intuito prático. Todos conhecemos a parábola da videira: quanto mais unidos ao tronco, tanto mais fecundos os sarmentos. Esta parábola se aplica propriamente a Nosso Senhor Jesus Cristo, Cabeça do Corpo Místico que é a Igreja Católica. Mas serviria também,  em certo sentido, para exprimir nossa união ao Papa. Com efeito, não há outro modo de unir-se a Cristo Nosso Senhor do que unindo-se [o] fiel ao Papa. E por isto só produz frutos o fiel intimamente unido à Santa Sé.

Se o Papa sofre, devemos sofrer com ele, devemos lutar por ele, devemos orar por ele. No limiar do ano de 1944, formemos a resolução de nos esmerarmos mais do que nunca na devoção filial e entusiástica ao Sumo Pontífice.

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Este sentimento de especial tristeza do Santo Padre transparece com clareza ainda maior nas seguintes palavras que a agência noticiosa "Reuters" captou do discurso do Santo Padre ao Sacro Colégio Cardinalício, discurso esse irradiado pela emissora vaticana:

"O ataque aéreo à cidade do Vaticano, deliberadamente planejado, estampando a desonra e o insucesso atrás do anonimato do piloto, a um território sagrado aos cristãos, santificado pelo sangue do primeiro Pedro, centro da cultura mundial sobretudo por suas obras primas da cultura e da arte, garantido por solenes tratados, é um triste sintoma, que explica em toda a sua calamidade, a profundidade da desorientação espiritual e a decadência moral da consciência, testemunha do irremediável naufrágio de algumas mentes confusas".

As palavras do Sumo Pontífice constituem evidente referências a um avião que recentemente bombardeou a Cidade papal, tendo nesta ocasião ocorrido o boato de que o governo por cuja conta agia, tinha em mente destruir a emissora vaticana para impedir o Papa de pronunciar uma alocução que contraria determinados interesses.

As palavras do Pontífice levantam uma ponta do véu de mistério que cobre este doloroso episódio da guerra atual. Uma ponta apenas, porque em linhas gerais continuamos a ignorar quase tudo sobre o assunto. Mas essa ponta de véu que o Pontífice levantou bem mostra quantos motivos ele tem para sofrer nos tristes dias que correm.

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Registramos com suma satisfação as palavras do general Eisenhower, em que aquele cabo de guerra afirma textualmente que "os franceses participarão certamente do ataque contra a Europa e qualquer plano que os excluíssem seriam todos ridículos". Excluir a França da ofensiva contra o nazismo seria excluí-la do rol das nações vitoriosas. E, por sua vez, uma França tratada mais como vencida que como aliada, uma França reduzida ao rol de pequena potência, significaria o fim da influência latina e quiçá da influência católica no Ocidente.

Jamais nos fartaremos de insistir sobre esse ponto. Como católicos, como latinos, consideramos a grandeza e glória da França ponto vital para todos os povos latinos e católicos. As palavras do general Eisenhower abrem a possibilidade de uma íntima cooperação francesa com os aliados, e significam um compromisso tácito para as negociações de paz.

Poucas notícias nos poderiam ser mais gratas.

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Continua a mover-se, aliás de modo muito artificial, o mundo muçulmano. Depois das agitações no Líbano, suscitadas sem nenhum motivo plausível por certas potências, e especialmente apoiadas pelo Egito, vem agora uma resolução da Liga Muçulmana com sede na Índia, pedindo que a Líbia e a Tripolitania, bem como a Cirenaica, sejam consideradas nações independentes depois da guerra.

Não sabemos qual possa ou deva ser a situação dessas colônias uma vez terminado o conflito. Uma coisa, entretanto, é positiva: a Cristandade não pode perder a hegemonia que exerce sobre os países gentios da África e da Ásia. Nas mãos desta ou daquela potência européia, aquelas nações devem continuar a ser tributárias. E a orientação geral que se depreende do pedido formulado pela Liga Muçulmana não pode merecer acolhida da parte dos organizadores do mundo de amanhã.

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Informamos a nossos leitores que o magnífico trabalho que inserimos em nossa última edição sob o título "Colaborando com o mal" foi transcrito da revista "Vozes de Petrópolis" e é de autoria do distinto escritor e jornalista católico Mesquita Pimentel, cujo nome foi involuntariamente omitido.