Já tiveram início em Natal as comemorações do 1o
Centenário do nascimento de Dom Vital Maria Gonçalves de
Oliveira, ínclito Bispo de Olinda, mártir tombado na
defesa da integridade da Fé e liberdade da Santa Igreja. As comemorações
estarão a cargo da Congregação Mariana de Nossa
Senhora da Apresentação, e se realizarão sob os auspícios de S. Excia. Revma. o
Sr. D. Marcolino Dantas, Bispo de Natal.
* * *
É a 27 de novembro de 1944, que transcorrerá o
Centenário de Dom Vital. Apreciada em seus resultados imediatos, a obra do
ilustre Bispo se nos afigura inapreciável. Na aparência, foi esmagado: tendo
passado por todas as injurias e humilhações que lhe infligiu a campanha
demagógica [...], foi desprestigiado pelas autoridades temporais a quem
incumbia assegurar-lhe o livre exercício do múnus
pastoral; perseguido, preso e condenado pelo governo regalista
do Visconde do Rio Branco, teve de enfrentar no cárcere as mais duras provações;
caluniado junto à sagrada pessoa do Soberano Pontífice, nem sequer teve o
supremo conforto de uma aprovação imediata de sua conduta; incompreendido por
muitos dos seus, passou pelo tormento de sentir em torno de si até as censuras
de muitos daqueles a quem o respeito e a veneração que se deve a um Bispo
deveriam ter cerrado os lábios; posto em liberdade, viveu longe da Pátria que
estremecia, da Diocese pela qual fizera os mais altos sacrifícios, e morreu de
morte misteriosa e cruel. Foi este o desfecho doloroso e precoce de sua rápida
carreira.
* * *
Na realidade, porém, Dom Vital resolveu os dois
grandes problemas religiosos de seu tempo. De um lado partiu de vez os grilhões
do regalismo pombalino. Do outro, expurgou das
confrarias e em geral dos meios católicos a praga da maçonaria, tornando bem nítida a separação entre o bem e o mal, a
verdade e o erro. A aspereza da luta que travou, reanimou o zelo dos tíbios e
entusiasmou a dedicação dos bons. A História religiosa no Brasil no século XIX
pode ser dividida em duas fases - antes e depois de Dom Vital.
Dom Vital não fruiu as vantagens terrenas de sua
vitória. Sorveu até o último trago o cálice das amarguras, e morreu. Mas na
ordem das realidades mais profundas, venceu. Venceu aos olhos de Deus, o que é
o essencial, e venceu também aos olhos dos homens.
* * *
Mas sua obra teve resultados mais remotos. Na vida
religiosa do povo brasileiro, o nome de Dom Vital ficou como um grande facho de
luz. Ele simboliza a intrepidez da Fé, a sobranceria apostólica das atitudes, a
inquebrantável coerência da vida com a doutrina, da ação com o pensamento, ao
serviço da Santa Igreja Católica.
Muitos há que acusam o povo brasileiro de ser
irremediavelmente sentimental, abúlico, acomodatício. São os que não conhecem o
que pode a graça de Deus. Dom Vital é um exemplo típico do que pode uma coração
brasileiro, quando corresponde plenamente ao chamado da graça, e cumpre, com
espírito sobrenatural até os últimos limites, o seu dever.
O Brasil ainda não tem um Santo declarado tal pela
Santa Igreja. A canonização de Dom Vital, tornando mais ilustre seu exemplo,
abriria para todos nós o caminho espiritual de heroísmo sobrenatural, de
invencível coerência, de sublime paciência, de inquebrantável pugnacidade, que
é nosso grande dever.
Uma das mais importantes formas de comemorar este
augusto centenário será, indiscutivelmente, a oração humilde, perseverante,
confiante, para que, se for a vontade de Deus, se manifeste quanto antes por
milagres decisivos a glória do grande servo de Deus, cuja canonização todos os
brasileiros devemos almejar.
* * *
A ''Folha da Manhã'', de 28 p.p., publicou a
seguinte notícia, subordinada ao título ''Auxílio de natalidade em caso de
união ilegítima'':
Rio, 27 (B.P.) - Despachando um processo, o
ministro do Trabalho determinou que o Instituto dos Comerciários
conceda o auxílio de natalidade a um segurado de união ilegítima. Esclarece o
titular da pasta do Trabalho que o referido abono é destinado senão totalmente,
ao menos em parte para atender as despesas que ocorram quando do nascimento de
um filho e conforme reza a lei, deverá ser concedido não apenas ao segurado, quando
da gravidez de sua mulher, mas à própria segurada, quando for ela a gestante e
assim mesmo sem prejuízo dos salários que lhe são devidos.
O Ministro do Trabalho declara em seu parecer: ''Se
se fosse distinguir a situação de ilegitimidade da união de que resulta um
filho, teríamos que chegar a dois tratamentos diferentes. Assim ao passo que se
excluiria a possibilidade de abono, em se tratando de filho ilegítimo, no caso
o segurado de qualquer discriminação seria impossível quando fosse a segurada a
beneficiada, pois nesta última hipótese o texto legal não se prestaria a
distinções, prevendo apenas a gravidez da segurada.
* * *
Um leitor desta folha em Itaquera
nos escreve comunicando que os protestantes aproveitaram o dia de finados para
fazer no cemitério local, a mais acintosa propaganda de suas doutrinas.
Tratava-se de um grupo de 15 a 20 adeptos das seitas pseudo-reformistas,
que irromperam com o escandaloso propósito de perturbar a celebração do S.
Sacrifício da Missa que ali se realizava e começaram a entoar seus cânticos
durante a cerimônia sagrada, e, quando o Revmo. Pároco do local, ao Evangelho
iniciou seu sermão, um dos protestantes começou a se dirigir também ao povo de
modo tal que prejudicava gravemente a pregação.
Transparece aqui com toda a clareza o verdadeiro
caracter da propaganda protestante, hábil em alegar considerações liberais para
iludir os católicos, mas agressiva, atrabiliária, tirânica, sempre que se
relaxa um pouco sua vigilância sobre suas próprias atitudes, e transparece o verdadeiro
fundo de seu espírito. Ademais, é importante notar que, seja embora leigo o
Estado no Brasil, para nós não deixa de ser uma dupla profanação verificar que
doutrinas heréticas são pregadas no campo santo em que jazem nossos maiores à
espera da Ressurreição, e precisamente durante o Santo Sacrifício da Missa.
Assim, o protesto contra a atividade dos
''reformistas'' de Itaquera não é só dos católicos
daquele local, mas de todos os católicos paulistas, membros do Corpo Místico
que é a Igreja Católica, e, como tais, solidários com o que sofre qualquer
parte desse Corpo.