Legionário, N.º 587, 7 de novembro de 1943

7 DIAS EM REVISTA

Já tiveram início em Natal as comemorações do 1o Centenário do nascimento de Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira, ínclito Bispo de Olinda, mártir tombado na defesa da integridade da Fé e liberdade da Santa Igreja. As comemorações estarão a cargo da Congregação Mariana de Nossa Senhora da Apresentação, e se realizarão sob os auspícios de S. Excia. Revma. o Sr. D. Marcolino Dantas, Bispo de Natal.

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É a 27 de novembro de 1944, que transcorrerá o Centenário de Dom Vital. Apreciada em seus resultados imediatos, a obra do ilustre Bispo se nos afigura inapreciável. Na aparência, foi esmagado: tendo passado por todas as injurias e humilhações que lhe infligiu a campanha demagógica [...], foi desprestigiado pelas autoridades temporais a quem incumbia assegurar-lhe o livre exercício do múnus pastoral; perseguido, preso e condenado pelo governo regalista do Visconde do Rio Branco, teve de enfrentar no cárcere as mais duras provações; caluniado junto à sagrada pessoa do Soberano Pontífice, nem sequer teve o supremo conforto de uma aprovação imediata de sua conduta; incompreendido por muitos dos seus, passou pelo tormento de sentir em torno de si até as censuras de muitos daqueles a quem o respeito e a veneração que se deve a um Bispo deveriam ter cerrado os lábios; posto em liberdade, viveu longe da Pátria que estremecia, da Diocese pela qual fizera os mais altos sacrifícios, e morreu de morte misteriosa e cruel. Foi este o desfecho doloroso e precoce de sua rápida carreira.

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Na realidade, porém, Dom Vital resolveu os dois grandes problemas religiosos de seu tempo. De um lado partiu de vez os grilhões do regalismo pombalino. Do outro, expurgou das confrarias e em geral dos meios católicos a praga da maçonaria, tornando bem nítida a separação entre o bem e o mal, a verdade e o erro. A aspereza da luta que travou, reanimou o zelo dos tíbios e entusiasmou a dedicação dos bons. A História religiosa no Brasil no século XIX pode ser dividida em duas fases - antes e depois de Dom Vital.

Dom Vital não fruiu as vantagens terrenas de sua vitória. Sorveu até o último trago o cálice das amarguras, e morreu. Mas na ordem das realidades mais profundas, venceu. Venceu aos olhos de Deus, o que é o essencial, e venceu também aos olhos dos homens.

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Mas sua obra teve resultados mais remotos. Na vida religiosa do povo brasileiro, o nome de Dom Vital ficou como um grande facho de luz. Ele simboliza a intrepidez da Fé, a sobranceria apostólica das atitudes, a inquebrantável coerência da vida com a doutrina, da ação com o pensamento, ao serviço da Santa Igreja Católica.

Muitos há que acusam o povo brasileiro de ser irremediavelmente sentimental, abúlico, acomodatício. São os que não conhecem o que pode a graça de Deus. Dom Vital é um exemplo típico do que pode uma coração brasileiro, quando corresponde plenamente ao chamado da graça, e cumpre, com espírito sobrenatural até os últimos limites, o seu dever.

O Brasil ainda não tem um Santo declarado tal pela Santa Igreja. A canonização de Dom Vital, tornando mais ilustre seu exemplo, abriria para todos nós o caminho espiritual de heroísmo sobrenatural, de invencível coerência, de sublime paciência, de inquebrantável pugnacidade, que é nosso grande dever.

Uma das mais importantes formas de comemorar este augusto centenário será, indiscutivelmente, a oração humilde, perseverante, confiante, para que, se for a vontade de Deus, se manifeste quanto antes por milagres decisivos a glória do grande servo de Deus, cuja canonização todos os brasileiros devemos almejar.

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A ''Folha da Manhã'', de 28 p.p., publicou a seguinte notícia, subordinada ao título ''Auxílio de natalidade em caso de união ilegítima'':

Rio, 27 (B.P.) - Despachando um processo, o ministro do Trabalho determinou que o Instituto dos Comerciários conceda o auxílio de natalidade a um segurado de união ilegítima. Esclarece o titular da pasta do Trabalho que o referido abono é destinado senão totalmente, ao menos em parte para atender as despesas que ocorram quando do nascimento de um filho e conforme reza a lei, deverá ser concedido não apenas ao segurado, quando da gravidez de sua mulher, mas à própria segurada, quando for ela a gestante e assim mesmo sem prejuízo dos salários que lhe são devidos.

O Ministro do Trabalho declara em seu parecer: ''Se se fosse distinguir a situação de ilegitimidade da união de que resulta um filho, teríamos que chegar a dois tratamentos diferentes. Assim ao passo que se excluiria a possibilidade de abono, em se tratando de filho ilegítimo, no caso o segurado de qualquer discriminação seria impossível quando fosse a segurada a beneficiada, pois nesta última hipótese o texto legal não se prestaria a distinções, prevendo apenas a gravidez da segurada.

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Um leitor desta folha em Itaquera nos escreve comunicando que os protestantes aproveitaram o dia de finados para fazer no cemitério local, a mais acintosa propaganda de suas doutrinas. Tratava-se de um grupo de 15 a 20 adeptos das seitas pseudo-reformistas, que irromperam com o escandaloso propósito de perturbar a celebração do S. Sacrifício da Missa que ali se realizava e começaram a entoar seus cânticos durante a cerimônia sagrada, e, quando o Revmo. Pároco do local, ao Evangelho iniciou seu sermão, um dos protestantes começou a se dirigir também ao povo de modo tal que prejudicava gravemente a pregação.

Transparece aqui com toda a clareza o verdadeiro caracter da propaganda protestante, hábil em alegar considerações liberais para iludir os católicos, mas agressiva, atrabiliária, tirânica, sempre que se relaxa um pouco sua vigilância sobre suas próprias atitudes, e transparece o verdadeiro fundo de seu espírito. Ademais, é importante notar que, seja embora leigo o Estado no Brasil, para nós não deixa de ser uma dupla profanação verificar que doutrinas heréticas são pregadas no campo santo em que jazem nossos maiores à espera da Ressurreição, e precisamente durante o Santo Sacrifício da Missa.

Assim, o protesto contra a atividade dos ''reformistas'' de Itaquera não é só dos católicos daquele local, mas de todos os católicos paulistas, membros do Corpo Místico que é a Igreja Católica, e, como tais, solidários com o que sofre qualquer parte desse Corpo.