Legionário, N.º 580, 19 de setembro de 1943

7 DIAS EM REVISTA

Não fosse o acidente aéreo cuja recordação continua tão vivaz entre nós, e na semana passada teríamos comemorado o quarto aniversário da posse do Exmo. Revmo. Sr. D. José Gaspar de Afonseca e Silva, no sólio arquiepiscopal de São Paulo. Todos se lembram das manifestações de júbilo unânime com que o acontecimento foi festejado, e das inúmeras expressões de respeito, alegria e apreço com que, anualmente esta data era comemorada. Faziam-se filas nos jardins do palácio S. Luiz que chegavam até a rua. Eram pessoas que queriam felicitar o seu Arcebispo.

Hoje, uma atmosfera de luto circunda o Palácio, e o aniversário da posse do Sr. Arcebispo foi, para milhares de corações, um dia de recordação dolorosa. A Arquidiocese chora junto a três esquifes, saudosa do brilho e atividades ininterruptas de Dom José, da sabedoria e veneranda ancianidade de Monsenhor Pequeno, da figura radiosa por sua mocidade e respeitável por seu sacerdócio, do padre Nelson. E, certamente, o aniversário da posse do Sr. Arcebispo terá dado ocasião a que os sufrágios por sua alma tenham sido ainda mais numerosos e ardentes do que de costume.

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Um telegrama nos anuncia que os nazistas, ocupando a cidade natal de Pio XII, iniciaram um inquérito para verificar quais os bens pessoais do Santo Padre!

Tentativa vã e oportuna! Vã, porque eles verificarão que o Papa nada possui. Oportuna, porque se eles calarem, se condenarão. E se falarem terão que proclamar que o Sumo Pontífice dá ao mundo o exemplo de um completo desprendimento, despreocupando-se de seu enriquecimento pessoal tanto quanto, por seus testamentos que recentemente comentamos, o fizeram recentemente Dom Duarte, o Cardeal Leme, e Dom José.

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Os católicos da Inglaterra estão cheios de apreensão por um projeto de lei que, confiando quase toda a educação ao Estado, parece destinado a suprimir praticamente o ensino particular e portanto o ensino católico. Neste sentido, as autoridades eclesiásticas britânicas já fizeram valer seu valoroso protesto junto aos poderes públicos, visando evitar que a lei seja aprovada.

Um telegrama de sexta-feira p.p. nos trouxe a notícia de que os alunos das escolas oficiais gozarão férias em comum, nos atuais campos militares. É infeliz a idéia. Em primeiro lugar, porque ela acarreta a liberdade de cada qual de descansar onde e como bem entender. E, em segundo lugar, porque os horários escolares de hoje já são sobrecarregadissimos, e as férias são excelente ocasião para incentivar a vida de família prejudicada pela intensidade da vida escolar. Finalmente, porque esta mania moderna de militarizar tudo, de exigir desfile de tudo, de por tudo em campo ou em forma militar, é uma expressão do espírito totalitário que as potências anti-totalitárias deveriam ser as primeiras a combater.

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Um telegrama vindo de Londres dá notícia da fundação de uma "união apostólica do soldado", dirigida por dois sacerdotes católicos, que se propõe a finalidade altamente simpática de trabalhar pela cristianização dos militares do mundo inteiro. Ótimo.

Muito e muito menos ótimo é, entretanto, o que o telegrama acrescenta: as seitas heréticas também fundarão, a vista disto, suas "uniões" ao que parece para colaborar com os católicos no mesmo fim!

Esta suspeitíssima colaboração é um tanto parecida com a "proteção" nazista ao Vaticano. Tanto mais quanto não se trata de "colaboração" só para fins de beneficência material, o que já seria perigoso, mas uma colaboração para difusão ideológica! Colaboração para difusão das trevas e da luz?

Certamente os católicos terão de recusar esta colaboração, expressamente condenada por todos os documentos pontifícios.