Legionário, N.º 565, 6 de junho de 1943

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O “Legionário” demonstrou em seu último artigo de fundo que não se deve dar o menor crédito à sinceridade com que o governo russo dissolveu a III Internacional. Esta conversão política da URSS só aos ingênuos pode iludir.

É preciso notar, a este propósito, que a atitude da Casa Branca foi extremamente reservada. E o embaixador norte-americano em Moscou, almirante Stanley, ao que parece, ameaçou demitir-se por estar em desacordo com as incursões políticas do Sr. Davis nas relações russo-ianquis.

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É curioso notar que o próprio "camarada" Stalin parece ter sentido a insuficiência dos motivos expostos pela Rússia, para justificar a dissolução da III Internacional. Por isso, escreveu ao Sr. Harold King, representante especial da "Reuters" em Moscou, uma carta em que procura, mais pormenorizadamente, explicar o seu gesto. Por isto, o ditador vermelho alega várias razões, que passamos a examinar.

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O primeiro argumento alegado por Stalin foi que a propaganda anticomunista de Berlim perderia o "leitmotiv" de que a URSS procura intervir na vida interna dos outros países, a fim de os bolchevizar. É o próprio Stalin que reconhece, pois, que um de seus objetivos consistiu em um expediente de momento, meramente tático, que não traduz, de modo nenhum, o propósito de se desinteressar dos destinos da revolução mundial. Pelo contrário.

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O segundo argumento é do mesmo jaez. O Sr. Stalin afirma a necessidade de evitar as antipatias, que recaem sobre os partidos comunistas do mundo inteiro, pelo fato de sua obediência a um poder estranho, ou seja, a III Internacional. Como se vê, trata-se de mais um expediente tático, adotado no interesse da expansão do partido comunista em cada país.

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Não é menos significativo o terceiro argumento. Stalin afirma que a dissolução da III Internacional facilitará a formação da frente única anti-fascista no mundo inteiro, o que seria indispensável para o esmagamento do eixo. Em outros termos, esmagado o eixo, este motivo cessará, e a propaganda bolchevista retomará seu livre curso.

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O último argumento ainda é mais terrível: "facilita o trabalho dos patriotas em todos os países, unindo-os na luta contra a ameaça de domínio do mundo pelo hitlerismo, assim abrindo caminho para uma futura organização de nações, baseada na igualdade". Em outros termos, desta conjunção de forças anti-fascistas, o Sr. Stalin espera um tal predomínio dos elementos esquerdistas, que empurrem o mundo até então longe no caminho do igualitarismo, que, com isto, o Kremlin se julgará bem compensado pela extinção da III Internacional. Ou, em outros termos, é ainda em holocausto à bolchevização do mundo que a III Internacional foi dissolvida.

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E, ainda, restarão neste Brasil numerosos ingênuos que acreditarão na inocência de propósitos de Stalin e no repúdio da doutrina comunista pelo Kremlin, tudo isto a despeito das declarações expressas e categóricas do réu, isto é, do chefe do governo russo.