Legionário, N.º 563, 23 de maio de 1943

7 DIAS EM REVISTA

É com verdadeira satisfação que podemos comunicar hoje aos nossos leitores um texto lido pela Rádio Vaticana, no dia 6 de janeiro, na qual aquela emissora difundiu um artigo, publicado pelo Osservatore Romano, no dia 24 do mesmo mês: "Sir William Beveridge insiste sobre o conceito de que se deveriam unificar todas as formas de ajuda e de seguro social em uma única entidade, e que isto não supõe um monopólio.

"Todavia, o que ele pede neste caso, contém um perigo, pois, segundo faz notar oportunamente La Liberté de Friburgo, Suíça, “o plano Beveridge não é senão um socialismo de Estado. A Suíça merece mais alguma coisa que uma organização social que faz do Estado um deus provedor de cada cidadão, desde o berço até o túmulo”.

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Vemos, assim, que o órgão oficioso da Santa Sé, e a estação de rádio do Vaticano endossam a apreciação do jornal suíço, que qualifica de mero socialismo o plano Beveridge.

Ora, como o Santo Padre Pio XI declarou na encíclica "Quadragesimo Anno" que as palavras socialismo e catolicismo se repelem, não pode haver um socialismo católico, eqüivale isto a dizer que um católico não pode ser favorável ao plano Beveridge, que é socialista.

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E não nos venham com sofismas, como seria dizer-se que o plano Beveridge deve ter "algo de bom" e que este "algo de bom" pode perfeitamente ser apreciado e aplaudido pelos católicos. Exceto os demônios, não há na criação quem não tenha ao menos "algo" de bom. Até no comunismo e no nazismo poderemos encontrar "algo de bom", e se existissem heresias ainda piores do que estas, nelas se encontraria ainda "algo de bom". Mas por que este prurido insistente, obstinado, constante, de procurar "algo de bom" nas correntes doutrinárias alheias ao catolicismo, prurido este que coexiste quase sempre com tanto fastio quanto a doutrina católica, que não contém apenas "algo", mas "tudo" de bom? Por que havemos nós, filhos da Igreja Católica, de recolher as sentinas do erro, quando está posta precisamente para nós, filhos, a mesa do banquete espiritual da Igreja, e em lugar de migalhas temos, para nos alimentar o espírito, os celeiros infinitos da doutrina de Jesus Cristo?

Tem "algo de bom" o plano Beveridge?

Que nos importa isto a nós, católicos, para a formação de nossa mentalidade? Os apóstolos fizeram infinitamente mais pelo mundo com a pregação da doutrina de Jesus Cristo, Senhor Nosso, do que formando o espírito dos primeiros cristãos exclusivamente com as migalhas de bem que ainda sobrenadavam no grande naufrágio do paganismo.

Onde, pois, existe uma migalha de bem, não contestemos que ela existe, nem condenemos este bem. Não tenhamos, entretanto, a ingenuidade de suspender sempre nossa condenação, deixar perpetuamente vacilante e incerto nosso juízo, somente por causa de uma "migalha" destas. Não suponhamos que uma simples migalha de bem possa ter virtudes regeneradoras tão opulentas que baste por si só.

Conservemos e incrementemos por toda parte o que é bem. Mas lembremo-nos de que o bem só é pleno, inteiramente fecundo, verdadeiramente regenerador, quando em contato com a Santa Igreja Católica.

E se alguma corrente de pensamento se distancia do catolicismo, para trilhar as veredas do socialismo, não ponhamos nela nossa esperança.

Por ventura será desmentida em nossos dias a afirmação do Espírito Santo de que "se o Senhor não construir a casa trabalharão em vão as que a construírem?"