Legionário, N.º 562, 16 de maio de 1943

7 DIAS EM REVISTA

Temos a satisfação de noticiar hoje para nossos leitores que a Rádio Vaticana, em recente transmissão, tratando do plano Beveridge, declarou que se trata de um mero socialismo de Estado, em última análise. É o que temos sustentado. Sendo vastíssimo o plano, e abrangendo um número imenso de providências e medidas, seria evidentemente temerário afirmar-se que a totalidade de suas disposições são más. Por outro lado, o plano envolve toda uma série de pressupostos de filosofia social dos quais alguns são verdadeiros. Aliás, está para nascer neste mundo uma doutrina que não tenha algum resquício de verdade, por menor que seja. Tudo isto tomado na devida consideração, não se pode deixar de reconhecer entretanto que a tendência do plano, de atribuir ao Estado o remédio de todos os males sociais, é manifestamente censurável. Além disto, o plano revela a tendência geral de produzir um nivelamento social levado a tal ponto que provocaria a ruína das "elites". Pior desserviço não se poderia prestar à massa.

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Infelizmente, não se compreende em nossos dias convenientemente a correlação entre estes dois indispensáveis elementos de toda sociedade verdadeiramente organizada. Supõe-se que toda a elite é necessariamente um pequeno escol de gozadores, que existe em detrimento da massa. O que, em outros termos, implica em afirmar que é um dever de justiça e, mais do que isto, uma verdadeira necessidade pública e coletiva extinguir as elites para desafogar as massas.

A realidade é outra. Não negamos que, muitas vezes, as elites não são, nos tristíssimos dias que correm, senão pequenos grupos egoísticos de gozadores dos prazeres do espírito, do dinheiro, ou do poder. Entretanto, não deve ser esta a sua função. Na ordem verdadeira e natural das coisas, as elites existem para elaborar benefícios de toda ordem para a massa. Elas não são as sangue-sugas da massa, mas as propulsoras de seu progresso. Propulsoras indispensáveis. E precisamente por isto, atingir as elites desmoralizando-as, corrompendo-as, ou tirando-lhes os necessários meios de influência é decapitar as massas.

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Exemplifiquemos na ordem intelectual. Se o Estado gastasse menos com o ensino universitário, poderia sem dúvida fundar maior número de grupos escolares. De onde se deduziria que o ensino universitário existe para alimentar com mais ...[erro tipográfico: falta uma linha] humana alguns indivíduos, enquanto outros são por isto mesmo condenados a jazer perpetuamente no analfabetismo. E daí ainda se deduziria de ponto em ponto que as massas teriam vantagem em extinguir o ensino universitário.

Quem não percebe o que perderiam as massas com tal procedimento? Que lhes adiantaria saber ler e escrever, sem ter advogados, nem médicos, nem engenheiros? Quem não compreende que o mundo seria muito menos culto se não houvesse uma classe de pessoas mais cultas, que exercem profissões mais complexas, e, mais do que isto, que irradiam sua cultura no ambiente social, e por assim dizer instruem pelo exemplo e pela atmosfera que criam em torno de si?

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Isto posto, torna-se patente que as massas tem interesse na manutenção de certas elites sociais. E é para defender [a] massa, que queremos a proteção das elites.