Temos a satisfação de noticiar hoje para nossos
leitores que a Rádio Vaticana, em recente transmissão, tratando do plano Beveridge, declarou que se trata de um mero socialismo de Estado,
em última análise. É o que temos sustentado. Sendo vastíssimo o plano, e
abrangendo um número imenso de providências e medidas, seria evidentemente
temerário afirmar-se que a totalidade de suas disposições são más. Por outro
lado, o plano envolve toda uma série de pressupostos de filosofia social dos
quais alguns são verdadeiros. Aliás, está para nascer neste mundo uma doutrina
que não tenha algum resquício de verdade, por menor que seja. Tudo isto tomado
na devida consideração, não se pode deixar de reconhecer entretanto que a
tendência do plano, de atribuir ao Estado o remédio de todos os males sociais,
é manifestamente censurável. Além disto, o plano revela a tendência geral de
produzir um nivelamento social levado a tal ponto que provocaria a ruína das
"elites". Pior desserviço não se poderia prestar à massa.
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Infelizmente, não se compreende em nossos dias
convenientemente a correlação entre estes dois indispensáveis elementos de toda
sociedade verdadeiramente organizada. Supõe-se que toda a elite é
necessariamente um pequeno escol de gozadores, que existe em detrimento da
massa. O que, em outros termos, implica em afirmar que é um dever de justiça e,
mais do que isto, uma verdadeira necessidade pública e coletiva extinguir as
elites para desafogar as massas.
A realidade é outra. Não negamos que, muitas vezes,
as elites não são, nos tristíssimos dias que correm, senão pequenos grupos egoísticos de gozadores dos prazeres do espírito, do
dinheiro, ou do poder. Entretanto, não deve ser esta a sua função. Na ordem
verdadeira e natural das coisas, as elites existem para elaborar benefícios de
toda ordem para a massa. Elas não são as sangue-sugas
da massa, mas as propulsoras de seu progresso. Propulsoras indispensáveis. E precisamente
por isto, atingir as elites desmoralizando-as, corrompendo-as, ou tirando-lhes
os necessários meios de influência é decapitar as massas.
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Exemplifiquemos na ordem intelectual. Se o Estado
gastasse menos com o ensino universitário, poderia sem dúvida fundar maior
número de grupos escolares. De onde se deduziria que o ensino universitário existe
para alimentar com mais ...[erro tipográfico: falta uma linha] humana alguns
indivíduos, enquanto outros são por isto mesmo condenados a jazer perpetuamente
no analfabetismo. E daí ainda se deduziria de ponto em ponto que as massas
teriam vantagem em extinguir o ensino universitário.
Quem não percebe o que perderiam as massas com tal
procedimento? Que lhes adiantaria saber ler e escrever, sem ter advogados, nem
médicos, nem engenheiros? Quem não compreende que o mundo seria muito menos
culto se não houvesse uma classe de pessoas mais cultas, que exercem profissões
mais complexas, e, mais do que isto, que irradiam sua cultura no ambiente
social, e por assim dizer instruem pelo exemplo e pela atmosfera que criam em
torno de si?
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Isto posto, torna-se patente que as massas tem
interesse na manutenção de certas elites sociais. E é para defender [a] massa,
que queremos a proteção das elites.