A significativa lentidão das operações militares
que presentemente se travam na frente européia oriental, bem como os
auspiciosos sucessos verificados na África do Norte tornam cada vez
mais próxima a vitória das forças aliadas. E, com o término das operações
militares, que será mais próximo ou menos, mas cujo desfecho já não é muito
duvidoso, a primeira etapa da guerra terá sido ganha. Restará, depois da
batalha militar cruenta, a luta ideológica incruenta. Verdadeiramente, se bem
que ambas as fases sejam essenciais à vitória, seria difícil dizer qual delas é
a mais arriscada e complexa.
Com efeito, há dois modos de se ganhar uma guerra.
Um, consiste no simples êxito militar. Decide-se no campo de batalha. Outro,
consiste na efetiva consecução dos fins para que a
guerra se fez. Sua decisão depende dos conciliábulos dos gabinetes
ministeriais, das combinações e ardis dos salões de embaixada, e, sobretudo da
nitidez com que os verdadeiros objetivos da guerra estiverem estampados no
espírito público. Quando um povo está cônscio dos motivos por que desembainhou
a espada e verteu o sangue, será difícil que o malabarismo da política
internacional lhe escamoteie a vitória. Pelo contrário, tudo pode recear um
povo que não tenha nítidas as suas convicções sobre o assunto. Os esforços dos
mais patrióticos dentre os seus estadistas não encontrarão ressonância na
opinião pública, esta se tornará manipulável por agentes de toda a ordem, e não
haverá governo que consiga remediar tão triste situação.
* * *
Ora o governo dos fiéis enquanto tais, isto é, o
seu governo espiritual e religioso está nas mãos da Santa Sé. Essa conseguirá
frutos ótimos, se, no mundo inteiro, a opinião católica souber mostrar-se
alerta, vigilante e ciosa de seus direitos que são em última análise os
direitos de Deus, pois que os direitos espirituais dos católicos se cifram em
última análise no grande e fundamental direito de pertencer inteiramente a
Deus, Nosso Senhor, e à Santa Igreja que Ele instituiu. Constantemente, devemos
perscrutar os horizontes da vida
internacional a ver o que se sucede. E, qualquer que seja o curso que as coisas
tomarem, será preciso aprender a colocar acima de tudo o amor que temos à Santa
Igreja Católica.
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"Amar a Deus sobre todas as coisas" não é
coisa fácil, quando se procura cumprir seriamente este dever. O que o primeiro
mandamento preceitua é que tenhamos a nobreza e a coragem de amar todas as
coisas deste mundo menos do que a Deus. E, implicitamente, menos do que a
Igreja Católica.
Assim não devemos sacrificar apenas as inclinações
ilegítimas, a esse grande amor. Também as coisas legítimas, e até as coisas
nobres, nós a devemos sacrificar resolutamente desde que entrem em colisão com
o amor de Deus.
E uma das coisas que mais nos custa sacrificar é
nosso sossego. Diz-se provavelmente: "que tenho eu que ver com política
internacional? Não sou diplomata. Eles que se arranjem. Para mim a religião
consiste em cumprir os Mandamentos na minha vida particular." Grande e
triste erro. Desde que a política internacional se relaciona fundamente com os
interesses da Igreja, ou seja, com a salvação das almas porque a Igreja não tem
outros interesses, devemos interessar-nos pela política internacional. Suponhamos
que nosso pai estivesse fundamente envolvido e interessado nessa política.
Certamente a acompanharíamos com sofreguidão. A Igreja é nossa mãe, isto basta.
Não se precisa dizer o resto.
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Lembramos tudo isto, para que nossos leitores
aproveitem este mês de maio, para pedirem a Nossa Senhora duas graças. A
primeira é que eles se compenetrem
cada vez mais da idéia da importância dos problemas políticos, sociais e
econômicos para a vida do catolicismo. A segunda, para que Nosso Senhora dê à
Santa Igreja todas as vitórias que do fundo do coração almejamos.