Legionário, N.º 560, 2 de maio de 1943

7 DIAS EM REVISTA

A significativa lentidão das operações militares que presentemente se travam na frente européia oriental, bem como os auspiciosos sucessos verificados na África do Norte tornam cada vez mais próxima a vitória das forças aliadas. E, com o término das operações militares, que será mais próximo ou menos, mas cujo desfecho já não é muito duvidoso, a primeira etapa da guerra terá sido ganha. Restará, depois da batalha militar cruenta, a luta ideológica incruenta. Verdadeiramente, se bem que ambas as fases sejam essenciais à vitória, seria difícil dizer qual delas é a mais arriscada e complexa.

Com efeito, há dois modos de se ganhar uma guerra. Um, consiste no simples êxito militar. Decide-se no campo de batalha. Outro, consiste na efetiva consecução dos fins para que a guerra se fez. Sua decisão depende dos conciliábulos dos gabinetes ministeriais, das combinações e ardis dos salões de embaixada, e, sobretudo da nitidez com que os verdadeiros objetivos da guerra estiverem estampados no espírito público. Quando um povo está cônscio dos motivos por que desembainhou a espada e verteu o sangue, será difícil que o malabarismo da política internacional lhe escamoteie a vitória. Pelo contrário, tudo pode recear um povo que não tenha nítidas as suas convicções sobre o assunto. Os esforços dos mais patrióticos dentre os seus estadistas não encontrarão ressonância na opinião pública, esta se tornará manipulável por agentes de toda a ordem, e não haverá governo que consiga remediar tão triste situação.

* * *

Ora o governo dos fiéis enquanto tais, isto é, o seu governo espiritual e religioso está nas mãos da Santa Sé. Essa conseguirá frutos ótimos, se, no mundo inteiro, a opinião católica souber mostrar-se alerta, vigilante e ciosa de seus direitos que são em última análise os direitos de Deus, pois que os direitos espirituais dos católicos se cifram em última análise no grande e fundamental direito de pertencer inteiramente a Deus, Nosso Senhor, e à Santa Igreja que Ele instituiu. Constantemente, devemos perscrutar os horizontes da vida internacional a ver o que se sucede. E, qualquer que seja o curso que as coisas tomarem, será preciso aprender a colocar acima de tudo o amor que temos à Santa Igreja Católica.

* * *

"Amar a Deus sobre todas as coisas" não é coisa fácil, quando se procura cumprir seriamente este dever. O que o primeiro mandamento preceitua é que tenhamos a nobreza e a coragem de amar todas as coisas deste mundo menos do que a Deus. E, implicitamente, menos do que a Igreja Católica.

Assim não devemos sacrificar apenas as inclinações ilegítimas, a esse grande amor. Também as coisas legítimas, e até as coisas nobres, nós a devemos sacrificar resolutamente desde que entrem em colisão com o amor de Deus.

E uma das coisas que mais nos custa sacrificar é nosso sossego. Diz-se provavelmente: "que tenho eu que ver com política internacional? Não sou diplomata. Eles que se arranjem. Para mim a religião consiste em cumprir os Mandamentos na minha vida particular." Grande e triste erro. Desde que a política internacional se relaciona fundamente com os interesses da Igreja, ou seja, com a salvação das almas porque a Igreja não tem outros interesses, devemos interessar-nos pela política internacional. Suponhamos que nosso pai estivesse fundamente envolvido e interessado nessa política. Certamente a acompanharíamos com sofreguidão. A Igreja é nossa mãe, isto basta. Não se precisa dizer o resto.

* * *

Lembramos tudo isto, para que nossos leitores aproveitem este mês de maio, para pedirem a Nossa Senhora duas graças. A primeira é que eles se compenetrem cada vez mais da idéia da importância dos problemas políticos, sociais e econômicos para a vida do catolicismo. A segunda, para que Nosso Senhora dê à Santa Igreja todas as vitórias que do fundo do coração almejamos.