Continua-se a falar vivamente
acerca do famoso “plano Beveridge”, apresentado à opinião pública como a
expressão mais adiantada e inteligente da evolução social. O plano Beveridge já
não é um tema de discussões, nem mesmo um programa de ação: passou a ser, em
alguns ambientes, um verdadeiro dogma.
Ora, se bem que não tenhamos ainda
em mãos o texto do famoso plano, é preciso que conservemos perante ele toda a
imparcialidade de julgamento, esquivando-nos cuidadosamente de quaisquer
entusiasmos antes que o tenhamos estudado meticulosamente. De fato, a imprensa
católica britânica tem levantado contra o plano várias e fundas restrições. Não
se concebe que o tenha feito sem razões ponderáveis, não só porque todos
conhecem a situação delicada do catolicismo na Inglaterra, muito florescente
hoje em um país em que, a bem dizer há um século, ainda não tinha direito à luz
do sol, como ainda porque todos sabem de sobejo o espírito de concórdia que
anima os católicos em momentos de união nacional, como este que a Inglaterra
atravessa. Isto posto, não nos devemos deixar arrastar por qualquer entusiasmo
antes de um estudo sério.
* * *
Tomando tal atitude, o
“Legionário” se sente perfeitamente à vontade. Ninguém mais do que ele insistiu
em apontar à opinião católica a vitória das nações unidas como um desfecho,
para a presente guerra, preferível à vitória do “eixo”. Não que a primeira
dessas soluções seja isenta de problemas e dificuldades para a própria opinião
católica, mas porque esses problemas e essas dificuldades se transformariam em
acabrunhadoras certezas, em indiscutíveis catástrofes na hipótese de uma
vitória nazista.
Assim, o “Legionário”, que
persiste na mesma atitude, pode falar com inteira insuspeição.
Aliás, sendo esta hoje a causa do Brasil, nossa primitiva atitude, tomada por
motivos religiosos, só se reforçou com as razões patrióticas que a ela se
vieram somar.
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A este respeito, gostaríamos de
acentuar mais uma vez um fato importante. Não se suponha que nosso jornal é
contrário a qualquer povo como tal. O “Legionário” deseja ardentemente, como
jornal católico que é, o esmagamento do “eixo”, porque a vitória de Hitler
seria uma catástrofe. Entretanto, daí não se deduz de modo algum que seja
inimigo dos católicos alemães e muito menos dos italianos. Quanto a estes, é
supérflua qualquer consideração. Basta pensar na gloriosa missão do povo
italiano na Santa Igreja de Deus. Quanto aos alemães, embora ferrenhos
adversários do nazismo, ou antes precisamente por que o somos, admiramos
imensamente nossos irmãos católicos daquele país, que lutam com denodo contra a
ditadura totalitária. Não podemos ser inimigos dos alemães verdadeiramente
católicos, e por isto genuinamente anti-nazistas.
Nosso desejo de derrota do “eixo” veio sempre de motivos exclusivamente
ideológicos. A estes se somaram ulteriormente os gravíssimos motivos
patrióticos que todos sentimos e conhecemos, desde que o Brasil entrou em
guerra. Evidentemente, nosso patriotismo não conhece transigência nem
restrições. Queremos a vitória do Brasil. Uma vitória feita de glória e sendo
cristão.
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Telegrama de Zurique nos dá
notícia de uma conferência entre Hitler
e o renegado Quisling, “gauleiter”
da Noruega. Segundo o aludido despacho, nesse entendimento “tornou-se mais uma
vez evidente a inquebrantável determinação de prosseguir-se na firme luta” pela
implantação do nazismo na Europa.
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Acrescenta o telegrama que Quisling concordou plenamente com os pontos de vista
expostos pelo Führer, (não fosse ele Quisling), e que Himmler, chefe
da Gestapo, esteve presente à entrevista.
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É evidente que para a implantação
da “nova ordem” nazista em qualquer parte, os Quislings
e os Himmlers, ou por outras palavras a traição e a
violência, são instrumentos preciosos e insubstituíveis.
* * *
Isto quanto à frente interna. O
Sr. Hitler, porém, não se descuida dos outros setores da luta contra os que
aparentemente se oporia à realização de seus planos de conquista. E’ assim que
um comunicado do ministério inglês das relações exteriores informa que Hitler
se está preparando para empregar gases venenosos na frente russa.
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Já se foi inteiramente o tempo em
que o Cardeal Newmann, para se livrar da calúnia de
estar sempre de má fé, podia empregar a imagem literária de que na arte da
polêmica como na própria arte da guerra, nem todos os processos de destruição
se permitem, como por exemplo o envenenamento de cisternas.
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Não nos devemos admirar que tal
mudança haja sido introduzida nas operações de guerra; pois não faz muito tempo
Goering declarou que um dos objetivos do nazismo era
acabar com o “gentleman”. E o “gentleman”
inglês, embora em grande parte corrompido pelo liberalismo, ainda é um vestígio
de espírito de espírito de cavalheirismo despertado e desenvolvido pela Igreja
católica. A civilização ocidental, medularmente
católica, levou o seu influxo até as normas que devem regular a guerra.
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Um afastamento desse espírito de
civilização e sua substituição pelos novos valores da mística nazista, só pode
reconduzir a humanidade à barbárie de que a Igreja havia retirado a humanidade.
Daí o bombardeio de cidades abertas, a metralha levada à população civil
indefesa, o emprego de gases letais cuja ação variada e horripilante dá ao
envenenamento de cisternas o aspecto de uma peraltagem
de crianças.
* * *
Muito errado, portanto, andou o
Sr. G. de A. na "Folha da Manhã" ao retirar da poeira da estante o
velho e bolorento Renan, para pespegar em seus
leitores aquelas referências românticas ao doce Rabi da Galiléia,
como se o Divino Salvador também não fosse o sol de Justiça que há de julgar e
castigar os que desprezam Seus Mandamentos, e que ameaçam castigar mais
duramente que Sodoma a cidade que não recebesse os
seus discípulos.
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Se na antigüidade o Deus dos
Exércitos despejava sobre as cidades malditas, embaladas por pecados torvos, o
fogo voraz e impiedoso, hoje, infelizmente, não tem Ele necessidade de castigar
os pecados do mundo pela fúria dos elementos. Dessa faina se encarregam os
próprios homens, nesse morticínio atroz e impiedoso que presenciamos.
Diante desse tremendo espetáculo
não nos resta apenas chorar, como o lamuriento escrevedor de bilhetinhos afeminados dá a entender que é a única ordem
divina que os homens podem cumprir. Cabe-nos, pela nossa palavra e pelo nosso
exemplo, combater o bom combate para que as palavras e o exemplo de Nosso
Divino Modelo de fato representem para a humanidade sofredora o Caminho, a Verdade
e a Vida, que hão de livrá-la das misérias deste mundo e conduzi-la à salvação
eterna.