Legionário,
N.º 549, 14 de fevereiro de 1943
7 DIAS EM REVISTA
Foram calorosos os debates na Câmara dos Comuns acerca
das declarações feitas pelo Sr. Winston Churchill quanto à invasão do
continente europeu. Vários deputados trabalhistas e conservadores acentuaram
fortemente que não interessa às nações unidas contar, para tal expedição, com a
cooperação de "quislings" continentais que
depois se venham a perpetuar no poder. A alusão se dirigiu, evidentemente, ao
General Giraud, cuja cooperação com os anglo-americanos
abriu a perspectiva de entendimentos com elementos congêneres quando se tratar
de desembarque em qualquer ponto da Europa, ou seja, na França, na Finlândia,
ou até na Itália.
* * *
É muito difícil traçar a este respeito uma linha de
conduta segura. Em quase todos os países europeus, a invasão nazista foi feita
mediante acordo com políticos do próprio país invadido, que abriram as
fronteiras de sua Pátria criminosamente, para deixarem entrar o inimigo.
Ninguém pode negar, por outro lado, que em alguns
países as manobras totalitárias conseguiram iludir um bom número de vitimas de
boa fé. Como fazer justiça a esta gente? Como separar o joio do trigo? Que
fazer ante esta formidável mistura de bons e maus?
Não abordamos aqui este complexíssimo problema. Mas
queremos por em relevo outro, que nos parece ainda mais grave.
Se é difícil por vezes distinguir entre homens retos e
homens maus, é muito menos difícil entre princípios verdadeiros e princípios
falsos, quando se tem como guia o poderoso e indefectível fanal da Santa
Igreja. O totalitarismo é certamente um acervo de princípios maus. É a própria
doutrina da Igreja que no-lo ensina. Com ou sem os homens desta ou daquela
facção, uma coisa é importante: depois da guerra, o totalitarismo não deve
sobreviver.
Do contrário, a guerra está perdida, no melhor de seu
nobre e belo sentido.
A expressão "totalitarismo" tem na
terminologia católica um significado mais preciso do que na do comum dos
jornais. Segundo a doutrina da Igreja, há, na vida social, uma tarefa que
pertence de direito ao Estado, outro à Igreja, outro ainda à família, outro
também aos grupos profissionais como às corporações e finalmente outra ao
indivíduo. Há, além disto, os vários assuntos mistos em que estes elementos
devem cooperar. Estado totalitário é aquele que chama a si todas as tarefas,
tenta em vão intervir na Igreja, intervém na família e na corporação, domina e
anula o indivíduo e procura por tudo ao seu próprio serviço. Ele é totalitário
exatamente porque precisa incorporar tudo a si, ser ele mesmo tudo isto é ser
total. E assim como há o Estado absolutamente totalitário, do tipo nazi-comunista,
há os Estados semi-totalitários, do tipo socialista
ou rexista. Não invadem tudo nem absorvem tudo, mas
revelam a tendência de invadir o mais possível e absorver o mais possível.
* * *
De acordo com os prognósticos de post-guerra
aventados pelos autores de certos livros europeus, ter-se-ia a macabra
impressão de que eles concebem com delícias a hipótese de que as nações unidas,
uma vez vencedoras, organizariam um tal tipo de vida social, que praticamente
se fica a indagar o que restaria de diferença entre o socialismo ou rexismo cru, e estes sonhos de vitória.
Evidentemente, em ocasiões excepcionais o âmbito de
ação do Estado se dilata através de toda a vasta zona de atividades supletivas
que ele pode e muitas vezes até deve desenvolver. Não compreendemos, porém, de
que maneira certos escritores não percebem que eles, no fundo, são totalitários
quando nos pintam certas imagens do mundo de post-guerra.