Legionário, N.o 545, 17 de janeiro de 1943

7 DIAS EM REVISTA

Consideramos digna da maior atenção a emissão da Rádio Vaticana de que o Santo Padre, desejando embora a paz, não é partidário de uma paz incondicional.

Significa isto, em outros termos, que não estão com o espírito da Igreja as pessoas que vêm como supremo mal da guerra as catástrofes, aliás incomensuráveis que a morte, os ferimentos, as destruições e as tragédias morais de toda a espécie, acarretam consigo.

Ninguém compreende melhor do que o Santo Padre a intensidade pungente de tantos sofrimentos.

Para os mitigar, o Papa reza e ordena verdadeiras cruzadas de oração. Além disso, por meio de um vasto serviço de permuta de informações concorre quanto possível para atenuar esta dolorosíssima situação.

Mas a despeito disso, a posição da Santa Sé continua inflexível: não é nisto que consiste o maior mal da guerra.

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Afirmou, com efeito, Santo Agostinho que todos estes males da guerra se cifram em destruir existências mortais, em roubar bens terrenos e em provocar dores que, por mais profundas que sejam, cessarão com esta vida.

Muito mais terrível do que isto, afirmava o Santo Doutor, é o pecado que produz males eternos.

É nisto que pensa o Papa quando afasta de si a responsabilidade por uma paz incondicional.

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Queiram-no ou não o queiram os míopes, esta guerra afeta a fundo a civilização cristã. Ela põe em jogo princípios, instituições, costumes tão fundamentais, que, de seu êxito dependerá, em larga escala, a fisionomia da civilização do futuro.

Ora, ninguém ignora que uma conformação cristã ou anti-cristã da sociedade futura poderá afetar, do modo mais sensível, a salvação de um número incalculável de almas.

É nisto, sobretudo, que deve pensar e pensa o Santo Padre. Assim como as coisas do Céu sobrepujam infinitamente em valor as da terra, assim também as da alma superam incomensuravelmente as do corpo.

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Erram, pois, aqueles que afirmam não haver qualquer caráter ideológico na presente guerra. Ainda recentemente o Sr. interventor Fernando Costa concedia à imprensa uma entrevista em que declarava que o Brasil entrou em guerra a fim de defender os princípios da civilização cristã. É a defesa destes princípios que, antes de tudo, e acima de tudo deve empolgar os verdadeiros católicos.

Nunca seria suficiente acentuar, aliás, que, com estes princípios se identificam os melhores e mais sagrados interesses de nossa pátria.

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Merece o mais elogioso registro a portaria em que o Dr. Trasybulo Pinheiro de Albuquerque da comarca desta capital proibiu o ingresso dos menores de 18 anos nos estúdios e outras dependências das estações de rádio difusão.

Todas as medidas destinadas a amparar a moralidade da juventude e da infância, encontrarão na opinião católica o mais decidido e constante apoio.