Plinio Corrêa de Oliveira

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, 29 de novembro de 1942, N. 538

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Não desejamos, na atual desgraça da França, quando a confusão e a desolação parecem ter chegado ao mais alto grau naquele país ao qual se podiam aplicar ao menos em parte as palavras da Escritura sobre Jerusalém, aquele país que era como "uma cidade de uma beleza perfeita, alegria e consolação do mundo inteiro", não desejamos, precisamente neste momento, revolver feridas que sangram, avivar dores pungentes e conturbar corações que o infortúnio traz amargurados. A linha do "Legionário" já é bem conhecida de todos a respeito da "questão Pétain", e os últimos acontecimentos vieram tornar cada vez mais clara a aprovação que nossa atitude anti-Vichy recebe da parte da verdadeira França, que é a França combatente. Limitemo-nos, pois, a dizer que desejamos de todo o coração, e pedimos com insistência a Deus Onipotente a restauração da independência francesa, condoendo-nos ao mesmo tempo, e sinceramente, com toda a infelicidade que a França está sofrendo.

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Disse certa vez o Papa Pio X que a França é um país amadíssimo por Deus, do qual se pode dizer que hauriu na Igreja toda a sua glória e todo o seu esplendor. E por isto, acrescentava o Santo Padre, a França seria sempre, tanto mais gloriosa quanto mais unida à Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.

É inútil dizer-se, depois disto, que toda a presente desventura francesa é um fruto remoto do Enciclopedismo, da Revolução e de seus múltiplos efeitos doutrinários e políticos, entre os quais não será o menos nocivo nem o último a expansão das "quintas colunas" na França.

Por isto, nossos votos em prol de uma restauração francesa não são simplesmente no sentido de uma restauração da independência política. É preciso que nesse dilúvio de dores a França se purifique da Revolução, e volte a ser plenamente, inteiramente, exclusivamente, a França de Santa Joana d'Arc, São Luís e Carlos X. Essa França verdadeira não morreu. Ela continua a viver e a palpitar em Veuillot, em Santa Terezinha do Menino Jesus, em Maria Eustela, e em tantos outros batalhadores da boa causa. Mas ela coexistia com a França de Gambeta, de Combes, de Waldeck-Rousseau. Uma das duas Franças deveria forçosamente destruir a outra. Praza a Deus que, assim como firme e inabalavelmente esperamos, a França de Waldeck-Rousseau, de Gambetta [...] acabe de morrer. São nesse sentido nossos mais ardentes e melhores votos.

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Neste sentido, temos mais uma observação a fazer. Estando o Brasil em guerra, e em guerra justíssima declarada contra um bando de malfeitores públicos como os chefes dos governos totalitários, é obvio que desejamos com todas as fibras de nossa energia a vitória de nossa Pátria. Seríamos os últimos dentre os homens se estas não fossem nossas intenções.

Mas nós católicos temos a obrigação de viver este sentimento nobre e viril dentro do espírito da Igreja, profundamente impregnado em nossas melhores tradições. Nossa atitude é de brio, de altivez, de combatividade levada ao extremo mais absoluto, em defesa de nossos interesses e direitos. Mas nada tem de comum com o jacobinismo estúpido e tacanho dos governos totalitários. Não odiamos nossos adversários como os odeiam os nazistas, mas como os deve combater um país verdadeiramente católico. Golpeando-os rudemente, golpeando-os furiosamente, golpeando-os de todos os modos possíveis e empenhando na guerra a totalidade de nossos recursos, não devemos perder aquele alto equilíbrio de virtude que, na guerra contra o Paraguai, fez de nossos exércitos vencedores, não tanto o flagelo e o terror das populações vencidas como seu verdadeiro libertador de um abominável tirano.

Por isto também, em relação a França com a qual não estamos em guerra, mas evidentemente, nossas relações no momento são pelo menos muito complexas e confusas, desejando antes de tudo a grandeza e o bem do Brasil, devemos desejar que ela se liberte dos tiranos contra os quais desembainhamos a espada. Não somos indiferentes a que os outros povos afundem no vórtice da desgraça.


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