Legionário, N.º 534, 1º de novembro de 1942

7 DIAS EM REVISTA

Temos uma nota altamente edificante e comovedora a comunicar a nossos leitores acerca do falecimento do grande Cardeal Dom Sebastião Leme. Devotíssimo de Nossa Senhora, e sentindo que se aproximavam seus últimos momentos, mandou vir sua fita de Congregado Mariano e seu Rosário, e com eles morreu!

Sirva-nos este grande exemplo para acentuar sempre mais nosso apego a tudo quanto a Santa Igreja mobiliza em prol da devoção à grande Mãe de Deus, meio indispensável para a salvação de nossa alma.

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Ainda continuam, em alguns jornais, ecos dos debates travados em torno da presença e atuação, entre nós, de sacerdotes estrangeiros. É preciso que a opinião católica – isto é cada católico em particular, em todos os ambientes que freqüenta – timbre em acentuar que, se questão houve, está ela inteiramente encerrada com o pronunciamento do grande e saudoso Cardeal Dom Sebastião Leme a respeito do assunto. E, portanto, o público católico – o que eqüivale dizer o público em geral – se desinteresse absolutamente deste tema, que perdeu sua atualidade, e a respeito do qual qualquer novo comentário será supérfluo.

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A este propósito, devemos dizer duas palavras acerca de um tópico que, em um diário, escreveu certo jornalista. Disse esse escritor que pessoa de sua família soube de sacerdote alemão o qual pregava do púlpito que, para a perfeição de nossa alma, deveríamos suportar com paciência as mais cruéis injurias. Nisto, quis aquele escritor ver uma insinuação política: o sacerdote estaria afirmando que o Brasil deveria suportar sem revide o torpedeamento de seus navios. E o escritor conclui que: “numa época normal e pacífica, essa tese, que é do Evangelho, será defensável. Não o é hoje, e muito menos o será na linguagem de um sacerdote alemão. Por algum tempo, pelo menos enquanto durar a guerra, haveremos de estar surdos a todas as vozes celestiais que nos preparem o espírito para a humilhação e para derrota”.

Eis aí em linguagem bem tipicamente nazista, de um escritor que desconfia dos sentimentos do sacerdote alemão a que se refere. Mostraremos porque.

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Em última análise o que esse escritor sustenta é que há preceitos evangélicos – precisamente os mais sublimes, o dever do perdão, da misericórdia, etc. – que conduzem o homem à decadência, à ruína, ao rebaixamento, à derrota. Bons em tempo de paz para evitar brigas de comadre ou aventuras de botequim, tornam-se em tempo de guerra absolutamente nocivos. Neste tempo, o brio da Nação se ergue, suas reservas morais vibram, a salvação pública exige energia e a reparação do brio nacional ultrajado impõe combatividade. Terá então chegado o momento de fechar o Evangelho que, aplicado a situações como esta, será uma escola de desfaçatez e baixeza. E será preciso pregar o ódio “AO MENOS ENQUANTO A GUERRA DURAR”. “Ao menos”, acentuamos. Isto é, é preciso muito depois ainda, continuar a alimentar o espírito de revanche.

Não é outro o pensamento do nazismo.

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Com efeito, um dos motivos que o Sr. Hitler alega para perseguir a Religião Católica está precisamente nas reflexões do nosso jornalista. Entende ele que os povos não podem sobreviver pelo amor, mas pelo ódio, e que a doutrina do Evangelho, pregando sempre o amor, desfibra o homem e o torna incapaz de ser um verdadeiro herói da pátria. Pelo menos quando o homem é bastante equilibrado para levar a sério sua Religião, e não se servir dela apenas para tempo de paz, como sugere nosso jornalista.

Como se vê, nosso jornalista suspeitava do nazismo do Padre. E nazista, inconscientemente talvez, é ele próprio.

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Entretanto, a verdade é que tanto o Sr. Hitler quanto nosso jornalista estão fundamentalmente errados. A doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo prega certamente o perdão e a misericórdia, mas não prega a cretinicice. Quando um adversário investe contra nós para nos roubar os maiores bens da alma e do corpo, é para nós um direito sagrado, a defesa, e mais  do que isto constitui um grave e imperioso dever. Assim, os Cruzados, por exemplo, não duvidaram em efundir sangue sarraceno para libertar o Santo Sepulcro e as Cristandades do Oriente. A Inquisição não duvidou em acender fogueiras para defender a Fé e a civilização... e tanto não duvidou, que até passou consideravelmente da conta e dos limites. E quantos outros casos análogos não poderíamos citar! Santa Joana d'Arc, por exemplo, não fechou o Evangelho quando partiu em guerra para a libertação de sua Pátria, mas cumpriu um altíssimo dever evangélico quando o fez. O que pensa, pois, nosso jornalista de tudo isto?

Querem saber o que provavelmente pensa? Terá tido um calafrio lendo o que dissemos, e terá pensado que somos muito atrasados, porque Religião não é Cruzada, nem Santa Joana d'Arc, Religião é... doçura... ou seja imbecilidade!

Religião é doçura, sim. Mas só é doçura nos casos em que a doçura não se confunde com estupidez.