Legionário, N.º 527, 13 de setembro de 1942

7 Dias em Revista

O IV Congresso Eucarístico Nacional foi por demais vibrante, grandioso e rico em emoções para que já seja tempo de começar a lhe fixar os principais aspectos. Ainda estamos no momento de entusiasmo em que a multiplicidade das impressões nem sequer permite que se estabeleça entre elas uma seriação e uma ordenação convenientes.

Entretanto, a despeito do gratíssimo tumulto destas impressões, uma figura se destaca desde logo, sobranceira, em nossos corações e em nossa retina: é a do Legado Pontifício.

Pela extraordinária nobreza de seu porte majestoso, sua piedade, sua bondade, o acerto extremo de todas as suas atitudes e pronunciamentos, o Ex.mo Rev.mo Sr. D. Bento Aloisi Masella deixou às centenas de milhares de congressistas, muito dos quais ainda não tinham tido a ventura de estar pessoalmente com S. Ex.a Rev.ma, uma impressão que é um misto de veneração e afeto filial, de que guardaremos indelével recordação. Sentia-se que, representado por um tal Legado, o Sumo Pontífice estava presente entre nós de modo todo particular, pois que S. Ex.a Rev.ma o Sr. D. Bento Aloisi Masella é uma genuína expressão do espirito tradicional daquele glorioso Vaticano, ao qual nos prendem todas as fibras de nosso coração e, muito mais do que isto, todos os liames sobrenaturais do Corpo Místico de Cristo.

Quanto ao Ex.mo Rev.mo Sr. Arcebispo Metropolitano, não poderíamos dizer mais do que afirmamos que sua figura, para nós, não se destaca nas recordações do Congresso mas está intimamente vinculada a todas as recordações, a todas as emoções, a todas as esplêndidas impressões de conjunto, como a todos os pormenores, mesmo os mais detalhados. Porque São Paulo sabe com toda a certeza que, dotado o Ex.mo Rev.mo Sr. Arcebispo de um dinamismo sem limites, nada, mas absolutamente nada houve no Congresso que direta ou indiretamente não tivesse recebido suas influências, não só nas linhas gerais, mas às vezes até em questões de pormenor.

A eloquência do manifesto que hoje publicamos diz com brilho das atividades e personalidade desse Prelado que, indiscutivelmente, foi a alma de tudo no Congresso. E, dito que S. Ex.a Rev.ma foi a alma do Congresso, o que mais dizer?

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A palavra definitiva sobre a cooperação das autoridades eclesiásticas e civis, disse-as com sua alta autoridade o Ex.mo Rev.mo Legado Pontifício. Eis aqui a íntegra dos telegramas por ele enviados aos Ex.mos Srs. Interventor Federal, Dr. Fernando Costa, e Arcebispo Metropolitano, D. José Gaspar da Afonseca e Silva, telegramas estes que transbordam de afeto para com o povo de São Paulo.

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Realizaram-se, em Westminster, a catedral protestante de Londres, as cerimônias fúnebres por motivo do falecimento do Duque de Kent, irmão do Rei da Inglaterra.

Sendo cismática a Duquesa de Kent — nascida Princesa Marina da Grécia — o serviço fúnebre, na catedral anglicana, contou com a cooperação de sacerdotes cismáticos! Assim, duas religiões opostas (os cismáticos negam a infalibilidade do Papa, mas admitem a dos Concílios, e os anglicanos negam toda e qualquer infalibilidade) se confundem em uma mesma cerimonia de culto — aliás soleníssima — dando provas de um cepticismo religioso verdadeiramente deplorável.

Mas nisto está ainda mais uma prova de que, fora de Roma, longe do Vaticano, não há possibilidade de se alicerçar qualquer organização religiosa séria, qualquer movimento coerente, intransigente e vigoroso.