Legionário, N.º 520, 30-8-1942

7 Dias em Revista

A fim de prestar ao IV Congresso Eucarístico Nacional a máxima cooperação, esta folha publicará, desde a chegada de sua Eminência o Cardeal Legado até o encerramento do grande certame eucarístico, edições diárias que poderão ser encontradas em todas as bancas de jornais.

Atendendo a que nesses dias o Congresso Eucarístico ocupará no espírito público uma posição preponderante, o LEGIONÁRIO reduzirá ao estritamente indispensável qualquer noticiário sobre outros assuntos, proporcionando a seus leitores matéria farta e minuciosa acerca de quanto com o Congresso se relacionar.

Possuindo uma coleção dos números do LEGIONÁRIO publicados durante o Congresso Eucarístico, terão os congressistas como recordação desses dias inesquecíveis não somente abundante material fotográfico referente aos principais atos do Congresso, como ainda um noticiário completo de todas as sessões e solenidades de que este constar, os discursos e saudações que forem pronunciados, etc., etc.

É objetivo expresso da direção desta folha que uma coleção dos números diários do LEGIONÁRIO seja uma das melhores recordações que os congressistas possam levar consigo.

* * *

Assim o LEGIONÁRIO reservará para essas edições uma reportagem minuciosa da excelente exposição missionária inaugurada no sábado passado na Galeria Prestes Maia. Com efeito, se publicássemos desde logo nossa reportagem sobre o assunto, ela não teria nem tanta atualidade nem tanta divulgação quanto nos números especiais consagrados ao Congresso. Nesses números, por outro lado, seria indispensável falar daquela magnifica exposição, que tão notavelmente concorre para o esplendor das próximas celebrações eucarísticas. O LEGIONÁRIO julgou, pois, melhor servir seus leitores reservando para aquela ocasião a oportunidade de pôr no devido realce a exposição.

* * *

O mesmo se deve dizer da série de conferências que a Junta Arquidiocesana da Ação Católica promoveu em colaboração com a Junta Executiva do IV Congresso Eucarístico Nacional, nas quais falaram os ilustres conferencistas Dr. Alceu Amoroso Lima, Presidente da Junta Nacional da Ação Católica e membro da Academia Brasileira de Letras, o Prof. Francisco de Magalhães Gomes, catedrático da Universidade de Belo Horizonte e da Escola de Minas de Ouro Preto e um dos mais eminentes jornalistas e leaders católicos de Minas Gerais.

Esses brilhantíssimos trabalhos preparatórios figurarão em nossas edições diárias, como parte integrante que são do programa elaborado para o Congresso Eucarístico pelo zelo do Ex.mo Rev.mo Sr. Arcebispo Metropolitano.

* * *

Temos insistido vivamente em que a agência “HTM”, oficiosa de Vichy, por isso mesmo que representa um governo iniludivelmente simpático a uma cooperação franco-germânica, é bem insuspeita quanto às críticas que de quando em vez deixa filtrar em seus comunicados acerca do nazismo.

De um telegrama por aquela agência publicado nesta capital, se depreende que continua vivíssima a propaganda anti-cristã dos nazistas na Noruega, e a luta por eles movida contra as autoridades eclesiásticas daquele país.

É esta mais uma confirmação de que os nazistas desejam ardentemente desenvolver sua nefastíssima propaganda pagã em todos os países que ocuparem. Agora, que o Brasil está em guerra com o eixo, esta observação é particularmente atual.

* * *

Merece o mais atento comentário a notícia de que o Santo Padre Pio XII determinou, por meio das autoridades da Cidade do Vaticano, que não penetrem ali senhoras sem meias.

O aviso afixado no tão pequeno porém tão grande Estado Pontifício é o seguinte: “o respeito pela casa do Pai comum e de conformidade com os preceitos da moral cristã, as mulheres residentes na Cidade do Vaticano serão obrigadas a usar meias e vestuário decente”. O telegrama da HTM que a imprensa divulgou a este respeito acrescenta que deverão usar meias, não somente as senhoras residentes no Vaticano, mas ainda as que ali ingressarem por qualquer motivo.

* * *

Simples disposição de etiqueta com a obrigatoriedade do uso de trajes pretos para as Senhoras admitidas à presença do Sumo Pontífice? Quem ousaria imagina-lo! Pelo contrario, o comunicado é claro: é para que andem “de conformidade com os preceitos da moral cristã”, que as mulheres devem usar meias no Vaticano. Ora há muita diferença entre uma simples disposição de etiqueta, e um preceito de moral. Há regras de etiqueta que de modo algum resultam de obrigações impostas pela moral. Assim, por exemplo, os homens admitidos à presença do Santo Padre em audiência particular devem apresentar-se de casaca e cartola. Evidentemente o traje deles não seria menos conforme a moral se fossem de roupa de brim, e palheta. Não é, pois, em conseqüência de disposição da moral, mas em conformidade com hábitos e tradições aliás respeitabilíssimas, que o Vaticano exige certos trajes de gala como manifestação exterior do respeito devido à augusta presença do Vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo. Também é puramente protocolar a disposição segundo a qual as senhoras se devem apresentar vestidas de preto nas audiências do Santo Padre. E tanto assim é que as rainhas vão de branco, sem com isto ferirem, em nada, a moral.

* * *

Aliás, quem quer que conheça, ainda que por alto, o Vaticano, sabe que, se as prescrições protocolares são severíssimas no que diz respeito às pessoas que tem a honra de serem admitidas à venerável presença do Chefe da Cristandade, nenhuma prescrição de ordem meramente protocolar se faz aos que ingressem simplesmente na Cidade do Vaticano, onde qualquer menino de rua, qualquer mendigo, pode penetrar sem exigências de protocolo. É, pois, absolutamente admissível que somente quanto às meias as exigências protocolares aparecessem agora.

E o motivo disto é obvio. Se há razão para o máximo rigor de protocolo para se estar na presença de pessoa revestida da mais alta autoridade no mundo inteiro, que é o Santo Padre, o mesmo motivo não existe para se andar pelas colunatas de Bernini ou na vasta praça de S. Pedro.

Assim, essa disposição regulamentar sobre o uso de meias implica em um pronunciamento sobre a moralidade desse uso. E, se bem que o regulamento pontifício só se refira ao Vaticano, esse pronunciamento não pode deixar de interessar a todos fiéis.