Legionário, N.º 517, 9 de agosto de 1942

7 DIAS EM REVISTA

A situação da Índia - de tão vital importância para o curso dos atuais acontecimentos - se vai desenvolvendo segundo as previsões desta folha.

Com efeito o Sr. Ghandi continua a criar uma situação confusa e delicada ao abrigo da qual procura arvorar-se em paladino da soberania hindu, simultaneamente contra os japoneses e os ingleses. Na realidade, porém, percebe-se claramente que o Sr. Ghandi deseja a expulsão dos britânicos ainda que o preço deste acontecimento seja a ocupação nipônica.

Em outros termos, o Sr. Ghandi é suficientemente perspicaz para verificar que, dadas as atuais circunstâncias, a independência da Índia é um verdadeiro mito. Se os ingleses se retirarem dali, certamente reinará o caos, e o próprio Sr. Ghandi admite como perfeitamente provável essa hipótese, acrescentando entretanto que prefere o caos ao domínio inglês. Mas o caos... é o caos, isto é, uma situação transitória e violenta insuportável por definição, que tornará desejável aos olhos de todos a invasão nipônica. Porque "se é melhor o caos do que o domínio britânico", ainda é melhor o domínio nipônico do que o caos. O Sr. Ghandi sabe perfeitamente disto, e não ignora que ele está preparando a hegemonia nipônica na Índia. Mas a despeito disto, em uma manobra da qual a lealdade está inteiramente ausente, procura baralhar os dados claríssimos deste problema entregando discretamente sua Pátria, de cuja soberania se dizia paladino, a novos dominadores.

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Os simpatizantes do Sr. Ghandi poderiam alegar que as promessas feitas por Sir Stafford Cripps, em nome do governo inglês, de que depois da guerra a Índia gozaria a mais larga liberdade, poderiam ser sofismadas quando a Inglaterra se sentisse novamente senhora da situação. São pontos de vista que não discutimos. Entretanto, como pode o Sr. Ghandi atribuir maior importância e maior sinceridade às declarações falaciosas do Almirante Tojo? Quem no mundo inteiro pode tomar a sério um pacto de não-agressão assinado pelas potências totalitárias?

Nada, pois, justifica a atitude do Sr. Ghandi.

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Nada? O homem é racional e não age sem motivo. As atitudes inexplicáveis são apenas atitudes que o homem não explica ao próximo, e às vezes nem ousa explicar-se a si próprio.

O Sr. Ghandi é, no fundo, e principalmente, um pagão. E, como tal, sorriu-lhe o flirt com o comunismo outrora, pois que este representava a mais extremada negação da civilização cristã; hoje, sorri ao Sr. Ghandi o flirt já quase transformado em noivado com o imperialismo nipônico do Extremo-Oriente, que representará a estruturação de todas as forças pagãs da Ásia sob a férula japonesa, num repúdio maciço a qualquer civilização cristã, e que trará como conseqüência a morte da obra missionária... se a Providência não dispuser o contrário.

É essa a explicação profunda dos móveis do Sr. Ghandi.

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Há algum tempo atrás, o LEGIONÁRIO teve ocasião de se referir à sociedade secreta do "Dragão Negro", organismo chefiado pelo Sr. Tojo, e que era o pivot da propaganda fascista no Japão. A esse respeito, não deixamos de acentuar o que havia de curioso no fato de que uma organização fascista - os nazi-fascistas são em geral tão tonitruantes contra as associações secretas - ter por base precisamente uma sociedade secreta.

Veja-se agora como o "Dragão Negro" soube estender suas ramificações em outros lugares, segundo mostra esse telegrama publicado no "Estado de São Paulo" nesta semana:

WASHINGTON, 1 (R) - Os "G-Men" descobriram hoje a existência, nos Estados Unidos, de um grupo de japoneses formando a "Sociedade do Dragão Negro", que seria uma espécie de exército de reserva, em caso de invasão nipônica. O grupo, cujo total se elevaria a 100.000 homens, teve o seu chefe detido pelos policiais americanos. Trata-se do Sr. Guzman, de nacionalidade filipina e descrito como a "figura ativa da formação da quinta-coluna entre os negros norte-americanos".

O Sr. Guzman foi detido sob a acusação de não ter devolvido o questionário que lhe foi apresentado. O Sr. Kosworth, secretário-diretor do Departamento Federal de Investigações, declarou que o Sr. Guzman dissera a seus recrutados:

"Os japoneses vos fornecerão fuzis, quando chegar o momento da invasão. Entretanto, comprai e furtai todas as armas de fogo que puderdes e preparai-vos para o dia".