A situação da
Índia - de tão vital importância
para o curso dos atuais acontecimentos - se vai desenvolvendo segundo as
previsões desta folha.
Com efeito o
Sr. Ghandi continua a criar uma situação confusa e
delicada ao abrigo da qual procura arvorar-se em paladino da soberania hindu,
simultaneamente contra os japoneses e os ingleses. Na realidade, porém,
percebe-se claramente que o Sr. Ghandi deseja a
expulsão dos britânicos ainda que o preço deste acontecimento seja a ocupação
nipônica.
Em outros
termos, o Sr. Ghandi é suficientemente perspicaz para
verificar que, dadas as atuais circunstâncias, a independência da Índia é um
verdadeiro mito. Se os ingleses se retirarem dali, certamente reinará o caos, e
o próprio Sr. Ghandi admite como perfeitamente
provável essa hipótese, acrescentando entretanto que prefere o caos ao domínio
inglês. Mas o caos... é o caos, isto é, uma situação transitória e violenta
insuportável por definição, que tornará desejável aos olhos de todos a invasão
nipônica. Porque "se é melhor o caos do que o domínio britânico",
ainda é melhor o domínio nipônico do que o caos. O Sr. Ghandi
sabe perfeitamente disto, e não ignora que ele está preparando a hegemonia
nipônica na Índia. Mas a despeito disto, em uma manobra da qual a lealdade está
inteiramente ausente, procura baralhar os dados claríssimos deste problema
entregando discretamente sua Pátria, de cuja soberania se dizia paladino, a
novos dominadores.
* * *
Os
simpatizantes do Sr. Ghandi poderiam alegar que as
promessas feitas por Sir Stafford
Cripps, em nome do governo inglês,
de que depois da guerra a Índia gozaria a mais larga liberdade, poderiam ser
sofismadas quando a Inglaterra se sentisse novamente
senhora da situação. São pontos de vista que não discutimos. Entretanto, como
pode o Sr. Ghandi atribuir maior importância e maior
sinceridade às declarações falaciosas do Almirante Tojo? Quem no mundo inteiro pode tomar a sério um pacto de não-agressão assinado pelas potências totalitárias?
Nada, pois,
justifica a atitude do Sr. Ghandi.
* * *
Nada? O homem é
racional e não age sem motivo. As atitudes inexplicáveis são apenas atitudes que
o homem não explica ao próximo, e às vezes nem ousa explicar-se a si próprio.
O Sr. Ghandi é, no fundo, e principalmente, um pagão. E, como
tal, sorriu-lhe o flirt
com o comunismo outrora, pois que este representava a mais extremada negação da
civilização cristã; hoje, sorri ao Sr. Ghandi o flirt já quase
transformado em noivado com o imperialismo nipônico do Extremo-Oriente,
que representará a estruturação de todas as forças pagãs da Ásia sob a férula
japonesa, num repúdio maciço a qualquer civilização cristã, e que trará como
conseqüência a morte da obra missionária... se a Providência não dispuser o
contrário.
É essa a
explicação profunda dos móveis do Sr. Ghandi.
* * *
Há algum tempo
atrás, o LEGIONÁRIO teve ocasião de se referir à sociedade secreta do
"Dragão Negro", organismo chefiado pelo Sr. Tojo, e que era o pivot da
propaganda fascista no Japão. A esse respeito, não deixamos de acentuar o que
havia de curioso no fato de que uma organização fascista - os nazi-fascistas são em geral tão tonitruantes contra as
associações secretas - ter por base precisamente uma sociedade secreta.
Veja-se agora
como o "Dragão Negro" soube estender suas ramificações em outros
lugares, segundo mostra esse telegrama publicado no "Estado de São
Paulo" nesta semana:
WASHINGTON, 1
(R) - Os "G-Men" descobriram hoje a
existência, nos Estados Unidos, de um grupo de japoneses formando a
"Sociedade do Dragão Negro",
que seria uma espécie de exército de reserva, em caso de invasão nipônica. O
grupo, cujo total se elevaria a 100.000 homens, teve o seu chefe detido pelos
policiais americanos. Trata-se do Sr. Guzman,
de nacionalidade filipina e descrito como a
"figura ativa da formação da quinta-coluna entre
os negros norte-americanos".
O Sr. Guzman foi detido sob a acusação de não ter devolvido o
questionário que lhe foi apresentado. O Sr. Kosworth, secretário-diretor do Departamento
Federal de Investigações, declarou que o Sr. Guzman
dissera a seus recrutados:
"Os japoneses
vos fornecerão fuzis, quando chegar o momento da invasão. Entretanto, comprai e
furtai todas as armas de fogo que puderdes e preparai-vos para o dia".