Legionário, N.º 516, 2 de agosto de 1942

7 DIAS EM REVISTA

O Sr. Ghandi, como o LEGIONÁRIO previu, está sentindo sua coragem contra os britânicos crescer à medida que se aproxima da Índia o perigo amarelo. Político sagacíssimo, ele se tornou subitamente ingênuo e pretende que a Índia não corre qualquer risco maior, caso os japoneses ali penetrem. Por que? Uma conjectura talvez fundada nas declarações bombásticas do Japão, em tudo análogas às garantias de não agressão que na Europa sempre preludiaram os ataques nazistas a qualquer país fraco. Porventura o Sr. Ghandi não leu os jornais europeus, e não conhece esse surradíssimo processo de expansão totalitária? Não sabe que o Japão é aliado do Sr. Hitler e imita os processos políticos deste? Então, por que motivo o Sr. Ghandi ainda se conserva tão ingênuo?

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A melhor máscara dos indivíduos de qualquer modo conquistados para a "quinta coluna" é, sem dúvida, a ingenuidade. Ela encobre todos os erros, disfarça todos os conselhos falaciosos, caia de branco todas as intenções pérfidas. O Sr. von Papen, por exemplo, o maior traidor da Igreja em nossos dias, foi durante muito tempo - no tempo em que ele desfilava de vela na mão nas procissões católicas realizadas na Alemanha - considerado um político católico bem intencionado, mas um tanto ingênuo, que por ingenuidade e só por ingenuidade, comprometia os interesses da Igreja. Mais tarde, o lobo jogou ao canto a máscara de cordeiro e esse católico ingênuo passou a ser tido e reconhecido como mero agente de infiltração nazista e um dos políticos mais maquiavélicos de nossos tempos.

É desse estofo a ingenuidade do Sr. Ghandi.

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Na realidade, dá-se no Extremo Oriente uma conseqüência quase inevitável do que ocorre na Europa. Posta a superioridade cultural indiscutível do mundo ocidental, é evidente que todas as idéias e doutrinas em voga entre nós deve ter uma imensa repercussão no Oriente. Ora, a Ásia assistiu, já há vários anos, o desenvolvimento de um espírito exageradamente nacionalista, e tipicamente pagão, nos povos do Ocidente. Seria um milagre que essas ideologias não encontrassem eco no Oriente, convertendo-se em um ódio cego ao homem de raça branca, às penetrações culturais do Ocidente, etc., etc.

Evidentemente, nisto tudo há algo de explicável. As extorsões e rapinas praticadas por ocidentais no Oriente são por demais revoltantes e numerosas, para que não emprestem ao "irredentismo" oriental certo aspecto de plausibilidade. Queiramos ou não queiramos, entretanto, uma conseqüência inevitável daí decorrer e já começa a decorrer: o declínio do prestígio do Cristianismo no Extremo Oriente, e a reabilitação intelectual das velhas religiões pagãs incentivadas pelo paganismo nazista.

Daí provém evidentemente uma grave dificuldade para o triunfo das missões.

No Japão, a obra missionária já encontra dificuldades inúmeras. Na China, desde que algum dia se "niponifique", o mesmo se dará, como já se dá na Coréia sob protetorado japonês. Na Índia, o mesmo se dará também. E, certamente, não será o Sr. Ghandi quem vá chorar a última lágrima sobre os escombros das missões católicas.

Ora, como o bem da Igreja está acima de tudo, não podemos desejar os fatos que tendem a produzir tão tristes conseqüências.