O Sr. Ghandi, como o LEGIONÁRIO previu, está sentindo sua coragem contra os
britânicos crescer à medida que se aproxima da Índia o perigo amarelo. Político sagacíssimo,
ele se tornou subitamente ingênuo e pretende que a Índia não corre qualquer
risco maior, caso os japoneses ali penetrem. Por que? Uma conjectura talvez
fundada nas declarações bombásticas do Japão, em tudo análogas às garantias de
não agressão que na Europa sempre preludiaram os ataques nazistas a qualquer
país fraco. Porventura o Sr. Ghandi não leu os
jornais europeus, e não conhece esse surradíssimo
processo de expansão totalitária? Não sabe que o Japão é aliado do Sr. Hitler e imita os processos políticos deste? Então,
por que motivo o Sr. Ghandi ainda se conserva tão
ingênuo?
* * *
A melhor
máscara dos indivíduos de qualquer modo conquistados para a "quinta
coluna" é, sem dúvida, a ingenuidade. Ela encobre todos os erros, disfarça
todos os conselhos falaciosos, caia de branco todas as intenções pérfidas. O
Sr. von Papen, por exemplo, o maior traidor da Igreja em nossos dias, foi
durante muito tempo - no tempo em que ele desfilava de vela na mão nas
procissões católicas realizadas na Alemanha - considerado um político católico
bem intencionado, mas um tanto ingênuo, que por ingenuidade e só por
ingenuidade, comprometia os interesses da Igreja. Mais tarde, o lobo jogou ao
canto a máscara de cordeiro e esse católico ingênuo passou a ser tido e
reconhecido como mero agente de infiltração nazista e um dos políticos mais
maquiavélicos de nossos tempos.
É desse estofo
a ingenuidade do Sr. Ghandi.
* * *
Na realidade,
dá-se no Extremo Oriente uma conseqüência quase inevitável do que ocorre na
Europa. Posta a superioridade cultural indiscutível do mundo ocidental, é
evidente que todas as idéias e doutrinas em voga entre nós deve ter uma imensa
repercussão no Oriente. Ora, a Ásia assistiu, já há vários anos, o desenvolvimento
de um espírito exageradamente nacionalista, e
tipicamente pagão, nos povos do Ocidente. Seria um milagre que essas ideologias
não encontrassem eco no Oriente, convertendo-se em um ódio cego ao homem de
raça branca, às penetrações culturais do Ocidente, etc., etc.
Evidentemente,
nisto tudo há algo de explicável. As extorsões e rapinas praticadas por
ocidentais no Oriente são por demais revoltantes e numerosas, para que não
emprestem ao "irredentismo" oriental certo
aspecto de plausibilidade. Queiramos ou não queiramos, entretanto, uma
conseqüência inevitável daí decorrer e já começa a decorrer: o declínio do
prestígio do Cristianismo no Extremo Oriente, e a reabilitação intelectual das
velhas religiões pagãs incentivadas pelo paganismo nazista.
Daí provém
evidentemente uma grave dificuldade para o triunfo das missões.
No Japão,
a obra missionária já encontra dificuldades inúmeras. Na China,
desde que algum dia se "niponifique", o
mesmo se dará, como já se dá na Coréia sob protetorado japonês. Na Índia, o mesmo se
dará também. E, certamente, não será o Sr. Ghandi
quem vá chorar a última lágrima sobre os escombros das missões católicas.
Ora, como o bem
da Igreja está acima de tudo, não podemos desejar os fatos que tendem a
produzir tão tristes conseqüências.