Um telegrama da insuspeitíssima
agência “HTM” noticiou que em Paris se efetuou um
grande leilão de raridades, no qual nada menos de 7.820.000 francos foram
oferecidos em 40 minutos por 30 quadros célebres. À primeira vista, a
informação, cautelosamente redigida, pode sugerir a impressão de que, na antiga
“cidade luz”, estão renascendo os primeiros indícios da vida social e
intelectual que ficou inteiramente suspensa depois da ocupação nazista. Com
efeito, um leilão de quadros, supõe um movimento artístico mais ou menos
intenso, uma curiosidade mais ou menos generalizada em relação ao assunto, e
facilidades pecuniárias para a aquisição de objetos que, devidamente, não são
gêneros de primeira necessidade. Muita gente pois, terá sentido alívio ao
receber esta notícia.
* * *
Infelizmente, entretanto, o fato é outro. A notícia
não informa quem comprou estes quadros e sobretudo a que nacionalidade
pertencem os adquirentes. São franceses? Ou são alemães? E, neste caso, para
onde vão os quadros? Ficarão na França? Ou seu êxodo para a Alemanha
significará mais um desfalque no
inestimável patrimônio artístico do povo francês?
Que ocupantes tenham dinheiro em
quantidade suficiente para adquirir raridades no país ocupado, não estranha,
tanto mais que papel moeda facilmente se imprime. Seria, pois, essencial que o
telegrama da “HTM” explicasse este pormenor.
Infelizmente, porém, ela não o fez... et pour cause.