Legionário, N.º 521, 5 de julho de 1942

7 Dias em Revista

Um telegrama da insuspeitíssima agência “HTM” noticiou que em Paris se efetuou um grande leilão de raridades, no qual nada menos de 7.820.000 francos foram oferecidos em 40 minutos por 30 quadros célebres. À primeira vista, a informação, cautelosamente redigida, pode sugerir a impressão de que, na antiga “cidade luz”, estão renascendo os primeiros indícios da vida social e intelectual que ficou inteiramente suspensa depois da ocupação nazista. Com efeito, um leilão de quadros, supõe um movimento artístico mais ou menos intenso, uma curiosidade mais ou menos generalizada em relação ao assunto, e facilidades pecuniárias para a aquisição de objetos que, devidamente, não são gêneros de primeira necessidade. Muita gente pois, terá sentido alívio ao receber esta notícia.

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Infelizmente, entretanto, o fato é outro. A notícia não informa quem comprou estes quadros e sobretudo a que nacionalidade pertencem os adquirentes. São franceses? Ou são alemães? E, neste caso, para onde vão os quadros? Ficarão na França? Ou seu êxodo para a Alemanha significará  mais um desfalque no inestimável patrimônio artístico do povo francês?

Que ocupantes tenham dinheiro em quantidade suficiente para adquirir raridades no país ocupado, não estranha, tanto mais que papel moeda facilmente se imprime. Seria, pois, essencial que o telegrama da “HTM” explicasse este pormenor.

Infelizmente, porém, ela não o fez... et pour cause.