Legionário, N.º 505, 17 de maio de 1942

7 DIAS EM REVISTA

A propósito do exame pré-nupcial a "Folha da Manhã" voltou a tecer, recentemente, alguns comentários. Estes, por sua vez, não podem passar sem um outro comentário, e assim, queremos dizer agora, sobre o assunto, algumas palavras.

Devemos destacar da nota da "Folha" o seguinte trecho: "Já por diversas vezes dissemos nestas colunas que a prevenção existente na nossa sociedade contra o exame pré-nupcial não tem a menor razão de ser e não passa mesmo de simples hostilidade ao nome. Implicam com o nome de "exame pré-nupcial" e pronto!"

Engana-se aquele jornal. Não há uma "implicância" no caso, e muito menos uma implicância que atinge exclusivamente o rótulo. Há, isto sim, uma oposição decidida, refletida e forte que nada tem de comum com um capricho popular qualquer, mas decorre de princípios fundamentais e convicções profundas.

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Com efeito, o foco da oposição ao exame pré-nupcial obrigatório é a Igreja. A doutrina católica não censura, evidentemente, quem faz um exame antes do casamento, a fim de se tratar e de só constituir família quando estiver em condições favoráveis a tal. Mas a Igreja nega ao Estado o direito de impor aos nubentes este exame, sobretudo porque o Estado não tem o direito de proibir o casamento a quem esteja doente.

Atente-se bem para isto: o exame pré-nupcial se funda em última análise em argumentos perfeitamente racísticos e, no dia que tivermos reconhecido ao Estado o direito de proibir casamentos, estará aberta a porta para que ele passe para o campo francamente criminoso das esterilizações compulsórias.

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A agência oficiosa de Vichy, "H.T.M." trouxe a notícia muito significativa de [que] os serviços religiosos e as passeatas públicas foram proibidas pelas autoridades de ocupação na França, no dia de Santa Joana d'Arc. Este fato, doloroso em si, exprime claramente o descontentamento da briosíssima população francesa ante a ignomínia de uma ocupação militar que Pétain suporta de tão bom grado. E, ao mesmo tempo, mostra como o simples nome de Santa Joana d'Arc ainda faz tremer os invasores. Igualmente inimigos da Igreja e da França.

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É muito curioso notar que as organizações de Juventude Francesa de feitio totalitário, autorizadas pelas forças alemãs, tiveram entretanto o direito de depositar publicamente flores na estátua de Santa Joana d'Arc.

Por quê?

Um outro telegrama publicado há pouco nos explica esta singularidade. Tanto na França ocupada quanto na zona chamada livre, já se pronuncia claramente a política anti-religiosa movida pelo nazismo, com todas as suas peculiaridades. Existe aprovação para as manifestações do culto, mas ao mesmo tempo reprime-se qualquer tentativa destinada a fazer desenvolver-se a influência católica fora do âmbito dos templos. Houve sacerdotes presos só porque não se conformaram com a extinção das organizações de moços católicos. Entretanto, o governo declara que, já que existem entidades oficiais que congregam todos os jovens, e onde há cerimônias religiosas - ao menos as essenciais - não há razão para a existência de organizações católicas. E, assim o Estado absorve a direção da Juventude, como primeiro passo para absorver toda a vida do movimento católico, e empreender o que Hitler está tentando na Alemanha: não fechar as igrejas mas deixá-las desertas.