A propósito do
exame pré-nupcial a "Folha da Manhã" voltou a tecer,
recentemente, alguns comentários. Estes, por sua vez, não podem passar sem um
outro comentário, e assim, queremos dizer agora, sobre o assunto, algumas
palavras.
Devemos
destacar da nota da "Folha" o seguinte trecho: "Já por diversas
vezes dissemos nestas colunas que a prevenção existente na nossa sociedade
contra o exame pré-nupcial não tem a menor razão de ser e não passa mesmo de
simples hostilidade ao nome. Implicam com o nome de "exame
pré-nupcial" e pronto!"
Engana-se
aquele jornal. Não há uma "implicância" no caso, e muito menos uma
implicância que atinge exclusivamente o rótulo. Há, isto sim, uma oposição
decidida, refletida e forte que nada tem de comum com um capricho popular
qualquer, mas decorre de princípios fundamentais e convicções profundas.
* * *
Com efeito, o
foco da oposição ao exame pré-nupcial obrigatório é a Igreja. A doutrina
católica não censura, evidentemente, quem faz um exame antes do casamento, a
fim de se tratar e de só constituir família quando estiver em condições
favoráveis a tal. Mas a Igreja nega ao Estado o direito de impor aos nubentes
este exame, sobretudo porque o Estado não tem o direito de proibir o casamento
a quem esteja doente.
Atente-se bem
para isto: o exame pré-nupcial se funda em última análise em argumentos
perfeitamente racísticos e, no dia que tivermos
reconhecido ao Estado o direito de proibir casamentos, estará aberta a porta
para que ele passe para o campo francamente criminoso das esterilizações
compulsórias.
* * *
A agência
oficiosa de Vichy, "H.T.M." trouxe a
notícia muito significativa de [que] os serviços religiosos e as passeatas
públicas foram proibidas pelas autoridades de ocupação na França, no dia de
Santa Joana d'Arc. Este fato, doloroso em si, exprime
claramente o descontentamento da briosíssima
população francesa ante a ignomínia de uma ocupação militar que Pétain suporta de tão bom grado. E, ao mesmo tempo, mostra
como o simples nome de Santa Joana d'Arc ainda faz tremer os
invasores. Igualmente inimigos da Igreja e da França.
* * *
É muito curioso
notar que as organizações de Juventude Francesa de feitio totalitário,
autorizadas pelas forças alemãs, tiveram entretanto o direito de depositar
publicamente flores na estátua de Santa Joana d'Arc.
Por quê?
Um outro
telegrama publicado há pouco nos explica esta singularidade. Tanto na França
ocupada quanto na zona chamada livre, já se pronuncia claramente a política
anti-religiosa movida pelo nazismo, com todas as suas peculiaridades. Existe
aprovação para as manifestações do culto, mas ao mesmo tempo reprime-se
qualquer tentativa destinada a fazer desenvolver-se a influência católica fora
do âmbito dos templos. Houve sacerdotes presos só porque não se conformaram com
a extinção das organizações de moços católicos. Entretanto, o governo declara
que, já que existem entidades oficiais que congregam todos os jovens, e onde há
cerimônias religiosas - ao menos as essenciais - não há razão para a existência
de organizações católicas. E, assim o Estado absorve a direção da Juventude,
como primeiro passo para absorver toda a vida do movimento católico, e empreender
o que Hitler está tentando na Alemanha: não fechar as igrejas mas deixá-las desertas.