Pouco temos que
dizer acerca do último discurso do Sr. Adolph Hitler e de suas tonitruantes afirmações de que é um
"enviado do Todo-Poderoso". Quem é este "Todo-Poderoso", na
boca do ditador nazista? O Deus verdadeiro e vivo? Ou algum nebuloso e vago Wotan germânico, ressuscitado das trevas do paganismo? Não
o sabemos. Em todo o caso, não pode invocar o auxílio do único Deus verdadeiro
quem apostata da Igreja de Jesus Cristo. Imaginar que um enviado de Deus seja
ao mesmo tempo um perseguidor da Igreja, é uma monstruosa blasfêmia. E foi
dessa blasfêmia que o Sr. Adolph Hitler se tornou réu
em seu último discurso.
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A referência ao
Brasil também não merece comentários. O que quer insinuar o Sr. Hitler? Que
porque queimamos nosso café ele tem o direito de se apoderar à viva força de
uma parte dessa produção supérflua? Pouco importa. Pense ele o que pensar,
nossa indiferença quanto à impressão que lhe causamos continuará a ser
completa.
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Destacamos
apenas, como trecho curioso do discurso, a referência amistosa ao Estado
francês da chamada "França livre", que é a França de Vichy (!?): prova ela como a França de Pétain
faz bem o jogo nazista.
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No fundo, todos
se entendem, tanto os [...] nazistas ou os comunistas. Em Buenos Aires o Sr. Chautemps, famoso Sr. Chautemps, membro de [...] todos
os "kominterns", etc., se incumbiu de dar
aos jornais uma entrevista em que, a despeito de ser uma das pessoas alvejadas
no processo de Riom... procura salvar o Sr. Pétain.
Entende o Sr. Chautemps que o Sr. Pétain só aceitou o Sr. Laval que no fundo abomina, porque não tem remédio
senão fazê-lo, mas que a independência da França de Vichy
desapareceu. Se assim é, por que continua no governo o Sr. Pétain,
amortecendo pela sua presença a exasperação francesa contra a figura de Laval?
Acrescenta,
entretanto, o Sr. Chautemps que o Sr. Darlan, continuando à testa da esquadra, ainda pode opor-se à sua
entrega, e isto sobretudo porque não está na dependência de Laval,
mas de Pétain.
Tudo isto
posto, insinua o Sr. Chautemps que ainda não é tempo
de romper com Vichy. Que melhor serviço poderia ele
prestar ao nazismo? E quem é ele? Um comunista [...] averiguado.
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De nossa parte,
não hesitamos em afirmar que, se não houver na França alguma séria modificação,
a esquadra francesa terminará nas mãos do Sr. Hitler, por mais que as
democracias contemporizem com Vichy.