Legionário, N.º 494, 1º de março de 1942

7 Dias em Revista

Se bem que censuremos com indignação o ato de brutalidade praticado pelas tropas nipônicas contra o território português do Timor, confessamos que nenhuma supressa nos causou o fato. Com efeito, o Japão está na órbita do “eixo”, está contaminado pela mentalidade do eixo, e implicitamente merece toda a desconfiança que as potências do “eixo” inspiram.

Por isto quando vimos a confiança dada pelo Sr. Oliveira Salazar ao compromisso nipônico de respeitar a neutralidade do Timor, não pudemos deixar de sorrir... e dentro de poucos dias se transformava em realidade a previsão feita por nossa desconfiança.

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É curioso, e mais do que isto é inexplicável que o “eixo” sempre se beneficie da enigmática imprevidência, das incompreensíveis coincidências, etc., etc., que a todo o momento facilitam o seu sucesso. Adaptando-se o velho ditado, poder-se-ia dizer que, quando a coincidência é demais, até os ingênuos desconfiam. Como explicar a euforia com que o Sr. Salazar proclamou em seu discurso que efetivamente depositara todo o crédito nas promessas nipônicas?

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Na semana passada, fez a Gazeta um judicioso comentário sobre o caráter de proselitismo pagão de que se reveste o avanço nipônico. Em proclamações dirigidas às populações amarelas e pagãs das zonas conquistadas, acentuam os invasores que a guerra ordenada pelo Micado é implicitamente da vontade de Deus, e deve ser apoiada pelos amarelos. Assim, o paganismo nipônico sai da atitude envergonhada que mantinha para tomar uma feição aguerrida e ativa. Em outros termos, mobiliza-se o paganismo amarelo para correr parelhas com o paganismo germânico.