Se bem que censuremos com indignação o ato de
brutalidade praticado pelas tropas nipônicas contra o território português do
Timor, confessamos que
nenhuma supressa nos causou o fato. Com efeito, o Japão está na órbita do
“eixo”, está contaminado pela mentalidade do eixo, e implicitamente merece toda
a desconfiança que as potências do “eixo” inspiram.
Por isto quando vimos a confiança dada pelo Sr.
Oliveira Salazar ao compromisso
nipônico de respeitar a neutralidade do Timor, não pudemos deixar de sorrir...
e dentro de poucos dias se transformava em realidade a previsão feita por nossa
desconfiança.
* * *
É curioso, e mais do que isto é inexplicável que o
“eixo” sempre se beneficie da enigmática imprevidência, das incompreensíveis
coincidências, etc., etc., que a todo o momento facilitam o seu sucesso.
Adaptando-se o velho ditado, poder-se-ia dizer que, quando a coincidência é
demais, até os ingênuos desconfiam. Como explicar a euforia com que o Sr. Salazar proclamou em seu discurso que efetivamente
depositara todo o crédito nas promessas nipônicas?
* * *
Na semana passada, fez a Gazeta um judicioso
comentário sobre o caráter de proselitismo pagão de que se reveste o avanço
nipônico. Em proclamações dirigidas às populações amarelas e pagãs das zonas
conquistadas, acentuam os invasores que a guerra ordenada pelo Micado é implicitamente da vontade de Deus, e deve ser
apoiada pelos amarelos. Assim, o paganismo nipônico sai da atitude envergonhada
que mantinha para tomar uma feição aguerrida e ativa. Em outros termos,
mobiliza-se o paganismo amarelo para correr parelhas com o paganismo germânico.