Legionário, N.o 491, 8 de fevereiro de 1942

7 DIAS EM REVISTA

Ninguém combateu com maior afinco que o LEGIONÁRIO contra o totalitarismo, hoje representado pelo triângulo Berlim-Roma-Tóquio. Tudo isto não obstante, e precisamente porque somos inimigos irredutíveis do totalitarismo, não porém dos povos por ele dominados, acolhemos com viva simpatia as recomendações de algumas autoridades policiais no sentido de se evitar quanto possa ser injurioso aos estrangeiros aqui residentes, nacionais de países do "eixo".

É certo que nosso primeiro dever consiste em uma vigilância contínua contra a quinta-coluna, cujos estragos tanto denunciamos em outros países. Fortemente afirmados, assim, nossos deveres para com nossa própria soberania, queremos entretanto manter uma linha de rigorosa cortesia, em toda a extensão que as circunstâncias permitam. E se, em relação a um povo esse dever de cortesia é particularmente digno de nota, é o povo italiano, a que nos habituaram tantos anos de um convívio cordial e fecundo. Vigilância, vigilância, e muita vigilância, é o dever do momento. Mas vigilância cortês, de um povo que se sabe defender de um modo elegante.

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Em nosso último número, noticiamos a cegueira sem par dos encarregados da defesa das bases americanas no Pacífico — cegueira esta a que devem seus melhores êxitos as forças nipônicas.

Como já dissemos, não é dado a homens, cujo desequilíbrio mental não tenha atingido os limites de uma demência verdadeiramente clínica, levar a incúria a grau tão extremo. Assim, nossa convicção é firme: nas orlas do Pacífico como nas margens do Reno, a quinta-coluna fez mais que a pólvora da artilharia! Em abono do que afirmamos, trazemos hoje as informações essenciais de um telegrama que lemos no "O Estado de São Paulo" do dia 31 p.p., publicado pela agência oficiosa inglesa "Reuters", e que constitui um dos mais impressionantes documentos da presente guerra.

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É óbvio que toda esquadra em repouso, mas desejosa de se premunir contra um repentino ataque aéreo, deve distribuir seus navios em uma superfície tão grande que dificilmente possam ser atingidos pela ação fulminante de um intenso bombardeio. Em outros termos, navios muito isolados uns dos outros, constituem um alvo grande e difícil. Pelo contrário, navios muito próximos são um alvo fácil e seguro.

Segundo entrevista concedida à imprensa japonesa pelo comandante da primeira esquadrilha nipônica que voou sobre as bases americanas, entrevista essa transcrita no semanário britânico "O aeroplano", esperava aquele militar encontrar em Pearl Harbor "os vasos de guerra norte-americanos espalhados numa grande extensão". Entretanto, a realidade era outra. Junto da ponta ocidental das ilhas Ford, havia 2 cruzadores, 1 couraçado e 1 porta-aviões ancorados, em uma extensão de menos de um quilômetro. Outro porta-aviões estava a dois quilômetros dali. Mais adiante, uma flotilha de "destroyers" tinha os navios tão próximos uns aos outros que pareciam encostados. Em outro local, aglomeravam-se 8 couraçados e 1 navio-tanque; 6 couraçados estavam ancorados aos pares, numa extensão de 800 metros de comprido por 70 de largura...

Em outros termos, se a mão de um criminoso tivesse estudado para os navios uma colocação ideal para ação adversária, outra não seria sua posição!

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Não espanta, pois, que o comandante japonês em sua entrevista exclamasse cheio de contentamento: "Que alvo!" — ao ver o quadro que tinha diante de si. Por isto, em "três ou quatro minutos" a aviação japonesa inutilizou as belonaves adversárias, de tal sorte que não houve resistência eficaz contra ela. Estava consumada a traição.

Tocamos aí com o dedo nesse grande mistério de iniquidade que é a quinta-coluna. Como explicar que militares, tendo atingido as mais altas posições, se deixaram seduzir pelo ouro, embora as conseqüências de sua criminosa incúria lhes fizessem correr ulteriormente os mais tremendos riscos? Mistério, impenetrável mistério.

O que porém é certo, é que não se explica que no Reno como no Pacífico, nos "fiordes" da Noruega como às margens do Danúbio Azul que banha Viena, traidores como Seiyss Inquart e Quisling, como o comandante francês Korep e os traidores de Pearl Harbor, só se encontrassem ao lado dos adversários do "eixo" e jamais entre as fileiras destes.

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Enquanto tanta cegueira domina, chega-nos a dolorosa notícia da prisão de missionários católicos no Extremo Oriente, suspeitados de espionagem em favor do "eixo". Outro mistério de iniquidade! Ver fantasmas onde não há perigo, e pensar que só há fantasmas onde na realidade são inúmeros os perigos, é coisa que só nesta época de loucura geral se pode admitir.

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Continua o martírio glorioso da França autêntica, isto é, da França que não é de Pétain nem do Sr. Hitler.

Transcrevemos abaixo o comunicado germânico, divulgado pela agência oficiosa de Vichy, que informa:

"Nos dias 7, 9, 16 e 28 de janeiro último, foram cometidos atentados por meio de explosivos a instalações do exército alemão de ocupação. Nos dias 18 e 20 do mesmo mês, membros do exército alemão foram atacados de surpresa e feridos a tiros de pistola.

Em conseqüência, cem membros das Juventudes Comunistas e Judias serão deportados para leste. Seis comunistas e judeus que estavam acumpliciados com os culpados foram fuzilados.

O edital é assinado pelo comandante das forças alemãs de ocupação de Paris, Gen. Schaumburg.

É supérfluo acrescentar que ninguém dá crédito à calúnia de que só comunistas e judeus tramam contra a ocupação nazista. A realidade é muito outra — já que os comunistas foram os melhores agentes da quinta-coluna na introdução das tropas nazistas no solo francês.