Uma das
objeções muito freqüentes contra o apoio às potências democráticas consiste na
alegação de que, caso sejam elas vencedoras, o perigo soviético se terá
acrescido consideravelmente.
A este respeito,
em recentes declarações publicadas pela imprensa dos Estados Unidos, [erro de
composição; falta o nome] fez uma reflexão digna de nota. Não se trata, diz
ele, de optar entre o nazismo e o comunismo. Pelo contrário, trata-se de evitar um e outro mal. E as
democracias o conseguirão fazer se se armarem de tal
maneira contra o Sr. Hitler e os países satélites, que esmaguem o nazismo e ao
mesmo tempo consigam pôr em eclipse o valor da cooperação soviética. Com
efeito, o prestígio dos sovietes em caso de derrota do III Reich decorrerá
sobretudo da importância considerável dos triunfos soviéticos para a liquidação
militar do nazismo. Caso, entretanto, as democracias lutem com tanto vigor e
conquistem tais êxitos que lhes caibam as primeiras palmas da vitória, torna-se
óbvio que o conflito teuto-russo não passará de um
episódio secundário.
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Registramos
comovidos a carta paternal dirigida pelo Santo Padre Pio XII ao presidente da República da Polônia,
atualmente exilado em Londres. Nessa carta, que só por si já confirma que o Vaticano continua a
reconhecer o governo polonês e portanto não dá como "fato consumado"
e definitivo a ocupação nazista da Polônia, Sua Santidade diz: "As
saudações que o Presidente da República da Polônia nos expressou, em nome da
nação polonesa, encontram profundo eco em nosso paternal coração.
Particularmente, sentimos as mágoas daqueles que agora estão sofrendo.
Enviamos, pois, nossa bênção apostólica como prova do conforto de Deus e
auxílio que clamamos, tanto para a nação polonesa, que é tão querida por nós,
como para V. Excia". Ao mesmo tempo, o augusto Vigário de Jesus Cristo
fazia distribuir víveres e mantimentos fornecidos pelo Vaticano aos prisioneiros
polacos localizados na Alemanha, Itália, Estônia e França.
Por aí se vê
todo o afetuoso interesse que a Santa Igreja dedica à fidelíssima nação
polonesa! E implicitamente toda a reprovação que sente quanto à ocupação da
Polônia pelas tropas pagãs do nazismo.
* * *
Em certos
órgãos da imprensa diária começou a se esboçar um movimento contra a realização
de festejos carnavalescos neste ano.
A medida nos
parece acertadíssima. No meio das agruras, das
angústias, dos tormentos dos dias que correm, dá provas de uma lamentável
inconsciência quem sente ânimo para cuidar de carnaval. Em quase todos os
Continentes corre copiosamente o sangue humano. O mundo vive horas cruciais de
sua História, e os rumos dos futuros séculos parecem depender do que a geração
contemporânea decidir. A civilização cristã está ameaçada. Napoleão disse a
seus soldados que, do alto das pirâmides, 40 séculos os contemplavam. De certo modo, nossa responsabilidade ainda é maior.
O gênero de barbárie que se trata de combater hoje em dia não é apenas uma
barbárie pagã: é uma barbárie diabólica. Toda a sabedoria, toda a cultura e
toda a arte dos países pagãos anteriores a Jesus Cristo, cuja obra a Igreja
longe de destruir elevou e imortalizou; todas as expectativas dos Profetas que
clamavam pela Redenção de todo o gênero humano; todo o sangue de nossos
mártires; toda a santidade de tantas almas que no decurso da História têm
subido à honra dos altares; as vigílias de tantos doutores; o amor de tantos
apóstolos; tudo isto, todo esse imenso tesouro natural e sobrenatural está como
que depositado em nossas mãos! Se o fizermos vencer, transmitiremos esse
inestimável caudal de valores para os séculos vindouros. Se não o fizermos
vencer, esse tesouro será inútil para milhões de almas, não produzirá talvez a
plenitude de seus frutos durante dezenas de séculos. E Nosso Senhor bem poderia
nos pedir contas por tal derrota, fazendo-nos a pergunta terrível que se lê na
Escritura: Qualis
utilitas in sanguine meo? Que utilidade
houve em meu sangue?
* * *
A este propósito, uma advertência. Muitas pessoas
costumam esconder seu comodismo e sua tibieza atrás de um pretexto inteiramente
vão quando se lhes diz qualquer coisa neste sentido. Costumam elas alegar que a
Igreja recebeu de Nosso Senhor a promessa da indefectibilidade, pelo que
podemos contemplar de braços cruzados e olhar sereno a tormenta contemporânea:
a Igreja não morrerá.
Graças a Deus,
é certo que a Igreja jamais morrerá. Mas, francamente, essa alegação está longe
de apagar nosso zelo, acalmar nossas dores, mitigar nossa dolorosa solicitude.
Para nós, isto não basta. Não queremos, não podemos e não devemos nos contentar
com a idéia de ver a Santa Igreja reduzida às dimensões mínimas para que não
minta a infalível promessa de Deus. Nem o zelo pela glória de Deus, nem o zelo
pela salvação das almas se acomoda diante desta terrível perspectiva. Cada um
de nós tem um papel na obra da salvação das almas, e nenhum de nós, diante da
perspectiva de milhões e milhões de homens serem tragados pelo materialismo ou
pelo neo-paganismo, pode ficar com os braços
cruzados, perguntando como Caim:
"Sou eu porventura responsável por meu irmão?"
* * *
A este
respeito, um caso edificante nos ocorre. Certo Cardeal da Cúria Romana negociou
uma vez uma concordata entre a Áustria e o Vaticano. A fim de ter sempre em
mente suas imensas responsabilidades nessa tarefa, e dada sua convicção de que,
de uma concordata perfeita, poderia resultar a salvação e santificação de um
grande número de almas, escreveu ele em um papel a frase da Escritura: In manus tuas
sortes meae. À força de manusear esse papel, de
ler a todo o momento a terrível frase que ela continha, tornou-se ele
inteiramente amarelo. Anos depois, o Prelado falecia, e seus íntimos não
julgaram que pudessem dar a Pio XI relíquia melhor do que essa. E Pio XI
pronunciou sobre o fato uma comovida e substanciosa alocução.
Nesse momento de mobilização geral das forças
católicas, em quantos e quantos dedos, em lugar da terrível frase da Escritura,
se encontram os folhetos de canções carnavalescas! É este um procedimento digno
de católicos? Nas grandes calamidades públicas, os povos antigos se flagelavam.
Não ouso propor tanto. Mas ao menos não provoquemos a ira de Deus com os
copiosos pecados do carnaval.