Legionário, N.o 481, 30 de novembro de 1941

7 DIAS EM REVISTA

De S. Ex.a Rev.ma, o Sr. Dom Bento Aloisi Masella, Arcebispo Titular de Cesaréa na Mauritânia e Núncio Apostólico do Santo Padre Pio XII junto ao governo do Brasil, recebeu o Ex.mo e Rev.mo Mons. Dr. Antônio de Castro Mayer a seguinte carta:

“Causou-me verdadeiro prazer o “Relatório da Junta Arquidiocesana da Ação Católica de São Paulo”, sobretudo por haver podido verificar que sua orientação se baseou sobre as linhas clássicas traçadas pelo imortal Pontífice Pio XI, e como Assistente Geral e todos os seus outros colaboradores tiveram sempre em mira a ardente aspiração de Santo Inácio: “Sentire cum Ecclesia. O amor ao Papa e à Santa Igreja: eis o indispensável ponto de partida para um apostolado realmente fecundo. Abençoando-o de coração, subscrevo-me de V. Rev.ma, devotíssimo servo  (a) Bento, Arcebispo de Cesaréa, e Núncio Apostólico.”

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Essa expressiva e belíssima carta chegou às mãos do Ex.mo e Rev.mo Mons. Dr. Castro Mayer no próprio dia em que nesta Capital os jornais publicaram sua significativa elevação à dignidade de Vigário Geral.

Quem conhece S. Ex.a Rev.ma, e sabe o papel eminente e central que, em sua mentalidade, ocupa a Santa Igreja de Deus; quem sabe de seu devotamento incondicional e ardentíssimo ao Sumo Pontífice e a Sé Romana, nota bem que o Ex.mo e Rev.mo Sr. Núncio Apostólico soube tocar a corda mais delicada desse grande e generoso coração sacerdotal, e fazer-lhe de todos os elogios, precisamente aquele que mais profundamente o sensibilizaria.

Não é necessário acrescentar que vindo tão altos e nobres conceitos de quem representa, no Brasil, o Santíssimo Padre gloriosamente reinante, de quem possui, portanto, além de autoridade que lhe conferem relevantissimas qualidades pessoais, ainda a autoridade inconfundível desse augusto cargo, essas palavras se revestem de uma significação verdadeiramente histórica nos anais da Ação Católica de S. Paulo.

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Disse bem, e muito bem, o Ex.mo e Rev.mo Sr. Núncio Apostólico: da primeira à última página desse Relatório, o que se nota é um ardentíssimo amor a tudo quanto é católico. Ao disciplinar as relações entre as associações auxiliares e as organizações fundamentais da Ação Católica; ao definir a posição do assistente Eclesiástico dentre dos setores da Ação Católica; ao definir as relações de respeito e profundíssima consideração que esses setores devem manter com as Ordens Religiosas; ao traçar os princípios básicos da formação espiritual, na Ação Católica; ao estruturar setores importantes e delicados como a JEC; o Ex.mo e Rev.mo Mons. Castro Mayer, sempre e invariavelmente estribado na autoridade sagrada do Ex.mo e Rev.mo Sr. Arcebispo Metropolitano, outra coisa não faz senão obedecer à grandiosa concepção do Santo Padre Pio XI, na pureza de suas linhas clássicas, acerca da Ação Católica.

A obra de Pio XI está, pois, em São Paulo em vias de realização. Que melhor elogio se poderia esperar da Autoridade?

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O “Legionário” registra, jubiloso, a merecidíssima distinção conferida pelo Sumo Pontífice gloriosamente reinante, ao Dr. Vicente Melillo, agraciado na semana passada com uma honrosa condecoração pontifícia.

Grande e velho amigo, membro de nosso conselho fiscal, o Sr. Dr. Vicente Melillo é, nesta casa, um decano de jornalismo sempre acatado e estimado, cuja amizade consideramos um patrimônio moral.

Tendo ocupado no movimento católico situações das mais destacadas, e isto não obstante sua conhecida modéstia e seu grande desinteresse, o Sr. Dr. Vicente Melillo foi Presidente da Liga Eleitoral Católica, da Federação Mariana, membro do Conselho Diretor da Confederação Católica, e ocupou ainda várias outras situações de sacrifícios e de destaque. Hoje em dia, sua atividade converge toda ela para as obras de Assistência Vicentina, onde suas realizações tem obtido resultados verdadeiramente triunfais. Por tudo isto, será certamente muito elevado o número de amigos de S. Sa que afluirão à sua residência no dia em que S. Ex.a Rev.ma, o Sr. Arcebispo Metropolitano, lhe conferir a condecoração.

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Esta semana tão rica em acontecimentos memoráveis para a Arquidiocese, oferece, entretanto, pouco assunto aos comentaristas políticos.

Com efeito, os acontecimentos estão seguindo o curso inexorável que lhes vem imprimindo a máquina de guerra nazista. O fracasso das negociações nipo-americanas era de esperar-se. O atual governo japonês não promoveu tais negociações senão para impressionar a opinião nipônica e fornecer  argumentos aos isolacionistas americanos. Aos nipônicos, as negociações deram a impressão de que a intransigência era recíproca e de que, portanto, não era só a Tóquio que caberia a responsabilidade pela guerra. Aos isolacionistas, o insucesso das conferências Kurusu-Summer Welles dará sempre pretexto para afirmar que o Sr. Roosevelt se mostrou inepto, e não soube aproveitar as minguadas esperanças de paz ainda existentes. E, assim, tudo isto não passou de fogo de barragem.

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Com os insucessos militares na Rússia, a opinião pública da Inglaterra se comoveu fortemente. De há muito, o descontentamento popular vinha denunciando novos sintomas daquele espírito lerdo, tardo, inapto, municheano em uma palavra, que caracterizou a administração do pouco saudoso Sr. Chamberlain. Assim, a personalidade de Lord Halifax, ex-ministro do exterior da Grã-Bretanha e atual embaixador em Washington, tem excitado as maiores desconfianças. Incidentes veementes, interpelações apaixonadas, injúrias até que alvejaram aquele diplomata em plena Câmara dos Comuns e não deixaram intacta a própria personalidade do Sr. Anthony Eden, atual ministro do exterior, acabaram por persuadir o governo que é preciso agir.

E, assim, uma ofensiva vigorosa, no norte da África, se desfechou com o evidente propósito de consolidar o governo. Ainda é cedo para ajuizar dos resultados dessa ofensiva. Mas o “Legionário”, que tanto e tão insistentemente escreveu sobre as inomináveis e enigmáticas negligências do Sr. Chamberlain, não pode deixar de registrar, pesaroso, que o “espírito de Munich” parece estar renascendo na Inglaterra.

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Quanto ao celebradíssimo aniversário, na semana passada comemorado, do pacto anti-Komintern, pouca coisa temos a dizer. Com efeito, não devemos senão repetir o que todos já sabem: o pacto anti-Komintern poderá inaugurar no mundo um comunismo de novo rótulo, erguido quiçá sobre os escombros do comunismo russo. Mas entre o totalitarismo do Komintern e o totalitarismo do anti-Komintern não há senão diferenças acessórias, ou meros jogos de palavra. É esta a iniludível realidade.