Legionário, N.o 478, 9 de novembro de 1941

7 DIAS EM REVISTA

Consideramos muito digno de nota que, ao discurso em que o Sr. Franklin Roosevelt acusou o Sr. Adolfo Hitler de aspirar à dominação da América, a Wilhelmstrasse tenha oposto o mais displicente dos desmentidos. Com efeito, o único argumento que a chancelaria nazista invocou foi que, “sendo absurda tal informação”, não merecia refutação de qualquer natureza. O mesmo disse o Ministério do Exterior teuto quanto ao projeto de abolição de todas as religiões, também atribuído pelo Sr. Roosevelt ao Sr. Hitler.

É possível que os dirigentes da propaganda nazista tenham imaginado que tal laconismo seria mais persuasivo do que todos os argumentos de que a Wilhelmstrasse dispõe. Neste caso, entretanto, tais argumentos são bem fracos...

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O “Legionário” se tem recusado insistentemente a reconhecer o caráter de uma cruzada à investida nazista contra a Rússia. Assim procedendo, não tem nossa folha feito outra coisa senão seguir a orientação do Vaticano, que até agora, e a despeito de prementíssimas instâncias que facilmente se adivinham, não disse uma só palavra no sentido de abençoar os esforços nazistas contra a U.R.S.S.

Isto não obstante, não se creia que temos a ingenuidade de imaginar que será algum dia possível uma reconciliação do Catolicismo com o regime soviético, e uma sincera prática da liberdade religiosa na Rússia bolchevista. Em primeiro lugar, cumpre não esquecer que ainda mesmo que na Rússia existisse liberdade religiosa, o regime soviético continuaria a ser visceralmente anti-católico, não só por seu irremediável substrato ideológico comunista, como ainda porque a organização social e econômica que o bolchevismo realiza é diametralmente o oposto do que a Igreja preceitua.

Assim, pois, não devemos considerar senão manobras de mau gosto as notícias sobre uma breve alteração na ordem de coisas da Rússia no tocante à Religião.

Que um arcebispo anglicano, como o de York, tenha expressado na Câmara dos Lordes considerações em sentido contrário a estas nossas reflexões, não espanta; o que não se pode esperar, em matéria de contradições, de um arcebispo protestante? Mas que muitos católicos cheguem a pensar quase a mesma coisa, é uma verdadeira abominação!

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Lamentamos vivamente que um telegrama da agência oficiosa do governo de Vichy – o qual por sua vez é oficiosamente nazista – tenha noticiado, na semana p.p., que o regime atroz dos reféns também está sendo aplicado em território iugoslavo. (...) Mas quem não percebe que ao lado de um ou outro comunista, se encontram entre tais reféns muitos elementos inocentes e indefesos da população civil?

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Dirão muitos, talvez, que temos um parti-pris contra o nazismo. Preferimos incorrer nesta suspeita, a dar aso a outra, que muito e muito mais deveria envergonhar um católico: ter parti-pris em favor do nazismo. Entretanto, ninguém dirá que o jornal “A Voz” de Lisboa, insigne órgão católico português, tenha parti-pris contra o nazismo. Com efeito, a imprensa portuguesa, católica ou leiga, é toda ela hoje em dia semi-oficiosa, e ninguém ignora a suma prudência com que as circunstâncias tem exigido que Portugal proceda em matéria de política internacional.

Ora, “A Voz” tomou claramente partido contra o atroz fuzilamento de reféns. É o que consta do telegrama que abaixo transcrevemos:

Lisboa, 30 (R.) – O jornal católico “A Voz” condena a atitude germânica, relativamente ao fuzilamento de reféns, em artigo publicado hoje.

“A condenação à morte de dezenas de reféns, pelo crime de homicídio praticado contra um único militar germânico, foi desaprovada por todo o mundo cristão e civilizado” – declara o jornal.

O artigo faz, outrossim, menção de um discurso pronunciado pelo Dr. Erzerberger, líder central do Partido Nazista, em presença do “Reichstag”, no qual o orador declara que a destruição dos milhões de habitantes de Londres se justificava desde que concorresse para salvar a vida de um único cidadão germânico.

O articulista diz, então, que todo o exército alemão considera legítimo o terrorismo.

O jornal continua citando o artigo número 50 da Convenção de Haia de 1907, o qual condenava, em muitas declarações, a punição coletiva. E indaga: “Como se pode conciliar uma prática tão feroz como esta de tirar a vida a inocentes em toda a parte da Europa, para satisfazer a um desejo de vingança, com as declarações sancionadas em Haia?”

Por essa razão surgiu a intervenção do Sumo Pontífice, e o fato de que as demais execuções foram adiadas demonstra pelo menos que a força moral da justiça tem exercida sua influência, mesmo sobre o neo-paganismo nazista.