Indiscutivelmente,
o fato culminante da semana p.p. foi a
visita feita pelo Sr. Myron Taylor, representante do
Sr. Franklin Roosevelt, ao
Santo Padre. Aliás, melhor diríamos se falássemos nas “visitas” do que na
“visita”, já que aquele diplomata esteve várias vezes no Vaticano,
entendendo-se não somente com os altos dignitários da Secretaria de Estado como
ainda com o Romano Pontífice em pessoa.
Evidentemente,
seria temerário formular qualquer conjetura mais precisa acerca do objetivo de
tal visita, bem como da que, também à Sua Santidade, fez o Sr. Attolico,
ministro da Itália. Entretanto, como o telégrafo transmitiu com insistência
certas versões sobre a Paz, é-nos lícito tecer sobre
assunto de tão grande relevância alguns comentários.
* * *
Em primeiro
lugar, convém notar que o Santo Padre se encontra em uma situação incomparável
para fazer um esforço de mediação entre as potências beligerantes. Neste caos
de contradições, de mentiras, de confusão que é o mundo contemporâneo, só o
Santo Padre se conserva em uma atitude clara, nobre e realmente superior. Sem
ser neutro quanto aos aspectos ideológicos da guerra atual – o próprio “Osservatore Romano” já desmentiu essa neutralidade – o Papa
é entretanto neutro quanto a todos os interesses materiais e subalternos que
trazem uma tão forte agravante ao conflito contemporâneo. Soberano espiritual
de milhões de fiéis que estão disseminados, em proporção maior ou menor, em
todos os países em guerra, suas decisões serão acatadas com uma confiança
que só o Vigário de Cristo pode
inspirar. Em suma, a situação atual torna bem claro que só o Santo Padre é o
centro de gravidade de toda a política internacional que queira desenvolver-se em conformidade com
a justiça e o direito. Para uma tal política, o apoio do Vaticano e, mais do
que isto, a direção do Vaticano é a única condição de êxito.
* * *
Seria pois
muito simples reconduzir o mundo à paz. Mas quererão certos dirigentes de povos
contemporâneos essa solução? Agradar-lhes-á porventura que se ponha um freio a seu desvairado
desejo de conquistas e que se estabeleça uma ordem internacional em franco
contraste com seu louco orgulho nacionalista?
Parece que não.
E por isto
mesmo somos de opinião que uma intervenção da Santa Sé no atual conflito só
será desejada por todos os governantes em uma hipótese: se os povos, cansados
de lutar, ameaçarem a estabilidade de determinados governos e a paz passe a ser
para eles o único meio de evitar a revolução. Do contrário, não teremos paz. Ou
pelo menos, não teremos aquela “paz, fruto da justiça”, que é a única paz que o
Vaticano deseja promover entre os povos.
Poderá, é
certo, haver certos esforços para levar o Vaticano a apadrinhar algum novo “Munich”. Mas quem conhece o que é o Vaticano pode fazer
juízo sobre a inviabilidade dessa tentativa eventual.
* * *
Continua a se alastrar por toda a Europa a
onda de descontentamento contra a ocupação nazista. Evidentemente, os órgãos
totalitários continuam a insinuar que se trata de manobras comunistas. Mas isto
a ninguém deve causar surpresa, quando a propaganda nazista já teve a audácia
de afirmar que o próprio Pio XII é comunista. Tudo quanto desagrada ao nazismo
é por este atribuído ao comunismo. E isto não obstante tudo quanto agrada ao
nazismo tem um cunho comunista mais ou menos
evidente ou disfarçado.
Na realidade, é muito e muito explicável que
os povos que gemem sob a dominação
totalitária com isto não se conformam. E para explicar tantos levantes deveria
ser suficiente apelar para uma explicação de patriotismo.