Legionário, N.o 472, 28 de setembro de 1941

7 DIAS EM REVISTA

Indiscutivelmente, o fato culminante da semana  p.p. foi a visita feita pelo  Sr. Myron Taylor, representante do Sr. Franklin Roosevelt, ao Santo Padre. Aliás, melhor diríamos se falássemos nas “visitas” do que na “visita”, já que aquele diplomata esteve várias vezes no Vaticano, entendendo-se não somente com os altos dignitários da Secretaria de Estado como ainda com o Romano Pontífice em pessoa.

Evidentemente, seria temerário formular qualquer conjetura mais precisa acerca do objetivo de tal visita, bem como da que, também à Sua Santidade, fez o  Sr. Attolico, ministro da Itália. Entretanto, como o telégrafo transmitiu com insistência certas versões sobre a Paz, é-nos lícito tecer sobre assunto de tão grande relevância alguns comentários.

* * *

Em primeiro lugar, convém notar que o Santo Padre se encontra em uma situação incomparável para fazer um esforço de mediação entre as potências beligerantes. Neste caos de contradições, de mentiras, de confusão que é o mundo contemporâneo, só o Santo Padre se conserva em uma atitude clara, nobre e realmente superior. Sem ser neutro quanto aos aspectos ideológicos da guerra atual – o próprio “Osservatore Romano” já desmentiu essa neutralidade – o Papa é entretanto neutro quanto a todos os interesses materiais e subalternos que trazem uma tão forte agravante ao conflito contemporâneo. Soberano espiritual de milhões de fiéis que estão disseminados, em proporção maior ou menor, em todos os países em guerra, suas decisões serão acatadas com uma confiança que  só o Vigário de Cristo pode inspirar. Em suma, a situação atual torna bem claro que só o Santo Padre é o centro de gravidade de toda a política internacional  que queira desenvolver-se em conformidade com a justiça e o direito. Para uma tal política, o apoio do Vaticano e, mais do que isto, a direção do Vaticano é a única condição de êxito.

* * *

Seria pois muito simples reconduzir o mundo à paz. Mas quererão certos dirigentes de povos contemporâneos essa solução? Agradar-lhes-á porventura que se ponha um freio a seu desvairado desejo de conquistas e que se estabeleça uma ordem internacional em franco contraste com seu louco orgulho nacionalista? Parece que não.  

E por isto mesmo somos de opinião que uma intervenção da Santa Sé no atual conflito só será desejada por todos os governantes em uma hipótese: se os povos, cansados de lutar, ameaçarem a estabilidade de determinados governos e a paz passe a ser para eles o único meio de evitar a revolução. Do contrário, não teremos paz. Ou pelo menos, não teremos aquela “paz, fruto da justiça”, que é a única paz que o Vaticano deseja promover entre os povos.

Poderá, é certo, haver certos esforços para levar o Vaticano a apadrinhar algum novo “Munich”. Mas quem conhece o que é o Vaticano pode fazer juízo sobre a inviabilidade dessa tentativa eventual.

            * * *

 Continua a se alastrar por toda a Europa a onda de descontentamento contra a ocupação nazista. Evidentemente, os órgãos totalitários continuam a insinuar que se trata de manobras comunistas. Mas isto a ninguém deve causar surpresa, quando a propaganda nazista já teve a audácia de afirmar que o próprio Pio XII é comunista. Tudo quanto desagrada ao nazismo é por este atribuído ao comunismo. E isto não obstante tudo quanto agrada ao nazismo tem um cunho comunista mais ou menos  evidente ou disfarçado.

 Na realidade, é muito e muito explicável que os povos que  gemem sob a dominação totalitária com isto não se conformam. E para explicar tantos levantes deveria ser suficiente apelar para uma explicação de patriotismo.